sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Os hotéis estão vazios e há civis armados nas ruas, relata o enviado especial de Zero Hora

Milhares de egípcios se reúnem no 11º dia de protesto no Cairo - Khaled Desouki / AFP

Confira as informações do repórter Luiz Antônio Araujo, enviado especial de ZH ao Egito

É uma visão impressionante. Neste momento, às 13h22min (horário do Cairo, 9h22min de Brasília), imagens da TV Al Arabyia mostram centenas de milhares de pessoas reunidas na esplanada conhecida como Praça Tahrir, centro do Cairo, no “Dia da Partida” – prazo final do ultimato dado pela oposição para que Hosni Mubarak deixe o poder no Egito.
Desde o início da manhã, a intensa movimentação das pessoas em direção à Praça Tahrir indicava um dia atípico. O líder da oposição e Prêmio Nobel da Paz Mohammed El-Baradei deu na terça-feira um ultimato a Mubarak para deixar o poder até hoje. O prazo foi definido num momento em que a oposição havia acabado de reunir, segundo seus próprios cálculos, 1 milhão de pessoas no centro do Cairo. A resposta do regime foi a mobilização de apoiadores, secundados por arruaceiros comuns e ladrões, que tomaram as ruas no dia seguinte e investiram contra os manifestantes da Tahrir.
O exército está montando desde o início da manhã um esquema reforçado de segurança na Ponte 6 de Outubro, um dos principais pontos de passagem e acesso à Tahrir. Sobre a ponte, soldados carregavam pela manhã grades para barreiras ao tráfego. Informações não confirmadas indicam que o acesso à área da ponte está sendo restringido pelos militares.
Em entrevista concedida ontem à legendária correspondente Cristiane Amanpour, da rede americana ABC, Mubarak disse que está pronto para sair, mas, à maneira de Santo Agostinho – a esta altura não é possível evitar um pouco de ironia –, não agora.
O esquema de Mubarak é vago: ele diz que está disposto a não concorrer a um sexto mandato (o que o habilitaria a disputar o título de governante mais velho do mundo, com 90 anos ao final do próximo termo); garante que seu filho, Gamal, também não será candidato; diz que apenas cumprirá o atual mandato até o final (as eleições estão marcadas para setembro, e haveria provavelmente cerca de dois meses até a posse do sucessor). Para que esse esquema funcione, será preciso que os manifestantes reunidos em Tahrir se dispersem, voltem à vida normal e aceitem esperar mais 10 meses ou um ano para ver sua principal reivindicação – a saída de Mubarak – atendida.
Em meio à crise, é visível nas ruas a impaciência dos egípcios comuns – aqueles que não interromperam suas vidas em função do impasse político – com a lenta progressão da crise. A economia no Cairo e nas grandes cidades do país está semiparalisada. Os bancos ficaram fechados de segunda a quarta-feira e ainda funcionam com precariedade, o comércio cerrou as portas, os hotéis estão vazios e há bandos de civis armados de porretes e barras de ferro pelas ruas, fazendo barreiras e revistando porta-malas de carros. Em meio a tudo isso, os mubarakistas escolheram a imprensa – em primeiro lugar a dos países árabes, e em seguida todos os correspondentes estrangeiros – como alvo preferencial a partir de quarta-feira, com assaltos e agressões a jornalistas.


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