sábado, 13 de março de 2010

Pedófilos agem rápido para aliciar crianças


Poucos minutos bastam para quem entra em salas de bate-papo receber uma proposta sexual

Sete minutos é o tempo necessário para que uma criança ou adolescente se depare com a primeira frase – de uma sequência – que pretende invadir sua intimidade e até mesmo chocar, quando se entra em uma sala de bate-papo virtual. A reportagem fez o teste e constatou que, além das ingênuas solicitações de envio de MSN e endereços de site de relacionamentos, a conversa pode esquentar até chegar ao oferecimento de dinheiro para a realização de programas sexuais.
No Paraná, casos que envolvam pedofilia e pornografia infantil são investigados pelo Núcleo de Combate aos Cibercrimes (Nuciber). Para o delegado Deme­trius Gonzaga de Oliveira, o número de casos desse tipo representa pouco menos de 10% de todas as denúncias recebidas (que incluem, por exemplo, golpes financeiros ou preconceito). Ele acredita que ainda há muito medo de denunciar por parte dos pais. Mensal­men­te, dois ou três responsáveis chegam à delegacia em busca de informações, mas poucos dão queixa.
A entidade não governamental SaferNet Brasil, em parceria com o Ministério Público Federal, criou em 2006 a Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos. Ela recebe, em média, 2,5 mil denúncias por dia. Nos dois primeiros meses do ano, já foram 7.802 ligações somente sobre pornografia infantil na rede. Os sites de relacionamento são os principais apontados.
Atualmente, o Nuciber tem 13 casos de pedofilia na internet em investigação, além de 12 outros encaminhados para a Polícia Federal. “De cada 10 casos recebidos, 7 são de competência federal”, lembra. Muitas imagens são feitas no Paraná, mas repassadas para sites pornográficos do exterior, especialmente nos Estados Unidos, na República Tcheca e na Rússia.
Programas de informática que monitoram as atividades das crianças na rede podem ser uma saída, lembra o delegado, mas devem ser acompanhados por um diálogo dentro da família. De outra forma, o filho pode acabar se voltando contra os pais e buscando o acesso à internet em lan houses. “O olho no olho com o filho pode ser muito benéfico para não perder o controle”, aconselha Oliveira. Não existe uma legislação que faça a fiscalização dos provedores, lembra o delegado – é preciso acionar o departamento jurídico de casa empresa.

Assédio feminino

A constatação desse perigoso quadro vai além. Um estudo realizado pelo especialista em segurança da informação Wanderson Castilho revelou que as meninas têm dez vezes mais chance de serem assediadas do que os meninos, por estarem mais em contato com sites de relacionamento, onde há troca de perfis e imagens, e salas de bate-papo. Em um teste realizado por ele, a menina recebeu a primeira proposta já no primeiro minuto, enquanto o menino esperou dez minutos. “Por desconhecer quem está do outro lado, a criança e o adolescente ficam vulneráveis às práticas de pedofilia e incentivo à prostituição infantil”, avisa Castilho. Ele explica que pedidos de conexão a webcams e a exibição de partes íntimas do interlocutor são comuns.
Procurando saber quais são os riscos que o jovem vem correndo na internet, a ONG internacional Child Protection Partnership (CPP, ou Parceria para a Proteção da Criança e Adoles­cente), em conjunto com outras entidades, resolveu lançar um questionário on-line através da Rede Social Nética (leia mais nesta página) perguntando ao público infanto-juvenil – de 11 a 18 anos – se os adolescentes se sentem seguros on-line. O objetivo é perceber, por meio de 1,5 mil questionários respondidos, qual a perspectiva do adolescente brasileiro sobre a tecnologia de informação e comunicação (TIC) em suas vidas e qual é a dimensão do seu conhecimento quanto aos perigos e proteções existentes. O resultado da pesquisa deverá ser divulgado em abril.

Clandestinidade


No Brasil, o número de lan houses oficialmente reconhecidas é muito pequeno. Segundo o coordenador da CPP, Luiz Rossi, 93% dos estabelecimentos vivem na clandestinidade. Para Rossi, esses espaços dão a acessibilidade que falta a quem não tem opção de acessar a rede em casa, mas é preciso ter cuidados. Muitos pais acreditam que, se os filhos estão na lan house, estão a salvo da criminalidade, mas podem estar en­­ganados. “Os acessos em alguns espaços da internet podem vislumbrar um mundo que o adolescente não está preparado para enfrentar”, alerta Rossi.

Segurança
Medidas simples já reduzem os riscos de crianças e adolescentes serem aliciados por pedófilos


Para os pais

> Deixe o computador num cômodo público da casa, como sala de estar ou escritório. Isso inibe ações inadequadas e facilita o acompanhamento.

> Sente-se com seu filho em frente do computador e peça que ele mostre quais os sites que visita, seus amigos do MSN, seu blog. Diga que é importante avisar quando ele for se conectar.

> Limite o tempo de uso da web. Uma a duas horas por dia, em período letivo, é mais do que suficiente.

Para os filhos

> Não converse com estranhos, nem aceite nada deles.

> Nunca use seu nome verdadeiro em jogos, em salas de bate-papo, e-mail ou site de relacionamento.

> Não dê seu endereço, telefone, nome da escola ou de parentes.

> Se acontecer algo estranho, chame um adulto de confiança para denunciar.

Fonte: Proerd-PR/SaferNet Brasil


ONG analisa segurança virtual

O coordenador da Child Protec­tion Partnership (CPP) no Brasil, Luiz Rossi, diz que a metodologia usada para identificar a segurança virtual da criança e do adolescente consiste em dividir o projeto em quatro partes: mapeamento, engajamento, planejamento e criação de projetos.

Leia a matéria completa

Ofertas de R$ 200 e filmagem em menos de uma hora

Em 40 minutos, a simples entrada em uma sala de bate-papo de um dos maiores provedores do país rendeu 28 contatos. Se fossem simples conversas entre adolescentes – a sala escolhida era dirigida a jovens de 15 a 20 anos, no Paraná –, não haveria problemas. Mas em menos de sete minutos eu já estava convidada a sair para fazer um programa sexual.
Leia o depoimento completo da repórter Aline Peres


Serviço:

Denúncias podem ser feitas pelo e-mail cibercrimes@pc.pr.gov.br. O questionário “Você está Seguro (a) On-line?” pode ser respondido na página www.netica.org.br/cpp-brasil.

Aline Peres
Gazeta do Povo

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