quarta-feira, 10 de março de 2010

Vamos conhecer um pouco da África I

As águas límpidas que rodeiam a ilha Chumbe são um convite ao descanso. Para nós, à criatividade

Por que a Ilha de Chumbe ganhou tantos prêmios de ecoturismo
São 15 horas. Mikael e eu marcamos uma reunião de trabalho. O tópico principal da agenda é “próxima etapa depois de Zanzibar”. Para essa discussão, não necessitamos de laptops, conexão internet ou Google Maps. Nem mesmo de papel ou caneta. O sol está muito forte nesse momento e não podemos fotografar e nem filmar. Por isso, nossas reuniões diárias na ilha Chumbe, depois de um delicioso almoço, acontecem dentro das águas mornas, mansas e cristalinas do oceano Índico. Nada melhor do que debater ideias em uma piscina natural!
A ilha Chumbe, um maciço de coral de quase um quilômetro de extensão, está a 12 quilômetros da Cidade de Pedra de Zanzibar. O local tornou-se um dos exemplos de sucesso de ecoturismo mais conhecidos na Tanzânia – e até mesmo na África. Tudo começou no final dos anos 80, quando a conservacionista alemã Sibylle Riedmiller procurava uma área de recifes de corais que ela pudesse, pessoalmente, proteger. Quando passou por Chumbe, ela ficou apaixonada pelo local – aliás, pelo fundo submarino. Após alguns anos de complexas negociações burocráticas, ela conseguiu que, em 1994, o Parque de Corais da Ilha de Chumbe se tornasse a primeira área protegida marinha da Tanzânia.

Como não viajamos com câmeras submarinas, o máximo que conseguimos captar é uma estrela marinha (direita) e uma concha gigante viva (esquerda).

Saímos de nossa reunião aquática para outro mergulho. Dessa vez, munidos de máscaras e pés-de-pato, fomos conhecer os motivos da fama de Chumbe. Mergulhamos a 150 metros da costa, acompanhando a linha do litoral, em companhia da americana Karlyn Langjahr, gerente do projeto ambiental. Dentro d’água ela aponta para uma raia-pintada. Minutos mais tarde, Khamis, antigo pescador e hoje guardaparque, assinala uma tartaruga marinha, que passa ao nosso lado. Ela até parece saber que está em águas protegidas e que, aqui, ninguém vai maltratá-la. O surpreendente não são os peixes – mesmo se a biodiversidade é imensa: mais de 400 espécies foram encontradas nessa pequena faixa litorânea – mas a diversidade de corais. Já mergulhei em muitos mares e oceanos, mas esse pedacinho de recife é um festival de cores e formas que eu jamais tinha visto. O santuário marinho protege cerca de 200 espécies de corais, o que representa 90% das espécies que habitam a costa leste da África.

Existem dezenas de espécies de caranguejos em Chumbe. Apesar de estar ameaçado em outros lugares do Oceano Índico, o Caranguejo dos Coqueiros (Birgus latro) é bastante comum na ilha (direita)

Apesar da pousada Chumbe ter recebido os principais prêmios de Turismo Sustentável – como o famoso Turismo do Amanhã, da British Airways – a visão de Sibylle não estava ancorada em ecoturismo, mas sim na conservação marinha e na educação ambiental. A pousada faz parte da equação para angariar os fundos necessários para que o Parque de Coral possa continuar sendo protegido de forma adequada. Os 40 funcionários que moram na ilha e trabalham na pousada não são apenas cozinheiros e arrumadeiras. Os guardaparques, antigos pescadores, são essenciais para a conservação dos recifes e da floresta que cobre a ilha. Eles foram treinados pelo projeto e dão o apoio necessário aos pesquisadores nacionais e internacionais que visitam o local. Uma das primeiras conclusões: os peixes que residem na área do Parque de Coral já possuem dimensões maiores dos que estão em águas não protegidas.
Quase todos os que trabalham na pousada são nativos de Zanzibar. Um deles é o chefe da cozinha. Nossos almoços e jantares trazem um sabor diferente, uma mistura de especiarias que só acontece no arquipélago de Zanzibar. Após um jantar na praia a luz de vela – um momento romântico que poderia ser compartilhado com alguma donzela e não apenas com meu próprio filho – saímos em busca da vida noturna de Chumbe. Sadick Magwiza começou como garçom na pousada em 2000 e, depois de vários treinamentos, é hoje o subgerente do estabelecimento. Ele quer nos mostrar o maior caranguejo terrestre do mundo, o Caranguejo dos Coqueiros. Encontramos o primeiro escondido entre as raízes de uma árvore baobá. Logo depois, com os olhos acostumados à escuridão, achamos uma dezena deles.


Vista desde o farol da ilha construído em 1904. As cabanas da pousada misturam-se de forma harmoniosa com a vegetação ao redor

Ao destrinchar nossa cabana, fica claro porque Chumbe recebeu tantas premiações internacionais em ecoturismo. Cada um dos sete eco-bungalows foi construído com materiais locais e como uma unidade auto-sustentável, com seu próprio sistema de captação de água, vasos sanitários a base de compostagem, filtração de águas servidas e painéis fotovoltaicos para gerar eletricidade. Até mesmo a temperatura do quarto é regulada por um ventilador que funciona com energia solar. Esses pequenos detalhes fazem com que Chumbe sirva de exemplo para outras pousadas no planeta. Entretanto, algo é bem exclusivo de Chumbe: a vista maravilhosa do oceano Índico!
Época
Haroldo de Castro

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