sábado, 4 de julho de 2009

China investiga caso de preso que bebeu muita água e ficou cego


O governo da China está investigando o caso de um jovem que teria ficado cego após ser obrigado a ingerir diariamente algo entre 10 e 15 litros de água enquanto aguardava julgamento na prisão.
O jovem Qin Yingfei, de 27 anos, foi inocentado da acusação de estupro, mas sofreu abusos dos colegas de cela durante os oito meses em que permaneceu preso no centro de detenção de Zanhuang, na província de Hebei.
Qin esteve detido entre setembro de 2006 e abril de 2007 e perdeu a vista em junho de 2007.
De acordo com os médicos, a pressão alta causada pelo excesso de água no organismo de Qin foi o que causou a cegueira.
As autoridades chinesas investigam agora se houve negligência ou conivência da carceragem com os presidiários que cometeram os abusos, informou nesta sexta-feira o jornal estatal China Daily.

Abuso

Qin alega que foi acorrentado enquanto esteve detido e era diariamente obrigado a jogar pôquer com um assassino convicto, Yu Zhenrong.
Quando perdia para Yu, Qin tinha que beber muita água como “punição” pela derrota.
“Eu não ousava desobedecer Yu, pois ele batia nos detentos com frequência”, disse Qin ao jornal de Hong Kong South China Morning Post.
“Eu tive as pernas acorrentadas até mesmo quando estava no hospital, mas Yu não. Ele podia andar livremente no centro de detenção, apesar de ele estar aguardando a pena de morte”, reclamou o jovem.
De acordo com os médicos de Qin, o excesso de água também causou edema pulmonar, que é o acúmulo de líquido nas vias respiratórias.
O vice-diretor da casa de detenção, Zhao Yumin, disse à imprensa chinesa que Qin já estava doente antes de ser preso, mas não mostrou nenhum laudo médico sustentando essa afirmação.
Além do caso de Qin, o governo também está investigando outras duas mortes suspeitas ocorridas na mesma penitenciária.
A imprensa estatal revelou se tratar de casos de abuso perpetrados pelo mesmo condenado Yu, mas não divulgou mais detalhes.
Yu foi executado em janeiro de 2007 por ter assassinado a irmã da ex-namorada.

Repercussão

Fóruns de discussão na internet tem mobilizado a opinião pública chinesa em torno de casos de negligência policial e abuso ocorridos dentro de penitenciárias.
Em fevereiro a imprensa estatal deu vasta cobertura a denúncia feita contra os guardas de uma prisão na província de Yunnan que tentaram encobrir o assassinato de um presidiário pelos colegas de cela.
Os carcereiros disseram que o prisioneiro havia morrido acidentalmente.
A família do preso, no entanto, contestou a versão oficial e conseguiu persuadir o governo a investigar o caso.
Ficou comprovado que o prisioneiro foi assassinado a pancadas dentro de sua cela e a carceragem não fez nada para impedir o crime.

Marina Wentzel
BBC Brasil

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