sexta-feira, 3 de julho de 2009

Região cafeicultora brasileira sofre com criminalidade



ALFENAS, Minas Gerais (Reuters) - Um fazendeiro assassinado, furto de máquinas, dinheiro e armas em fazendas e roubo de carga a caminho dos portos. Crimes como esses inquietam as belas cidades cafeicultoras brasileiras e elevam os custos dos produtores de café.
"Tivemos problemas com quadrilhas roubando café e caminhões. Fomos obrigados a obter uma escolta armada para proteger as cargas por todo o trajeto até o porto de Santos", disse Washington Rodrigues, diretor da Ipanema Coffees, uma das maiores fazendas de café do mundo.
Os ladrões que desfalcaram nove contêineres com café da empresa no caminho para o principal porto brasileiro deram um prejuízo de 200 mil reais e causaram uma surpresa desagradável quando os contêineres chegaram ao seu destino, no exterior.
"Quando foram abertos, havia apenas areia e tijolos", disse Rodrigues, contado como os ladrões retiraram o café por meio de um buraco feito na lateral do contêiner, deixando as portas intactas.
As metrópoles brasileiras são conhecidas pela criminalidade endêmica, retratada em filmes como "Cidade de Deus", mas os furtos e alguns assaltos nas áreas rurais do país que é o maior produtor de café do mundo colocam em alerta fazendeiros e comerciantes.
Alguns exportadores uniram-se para levar o café até os portos em comboios a fim de dividir os custos das escoltas armadas. A Ipanema Coffees agora reabre seus contêineres na chegada aos portos e fotografa o produto antes de embarcá-lo.
"O custo adicional total para essa precaução e para a escolta é de cerca de 3 reais por saca," afirmou ele.

PATRULHA RURAL

Numa tentativa de combater a criminalidade na zona rural, incluindo a que afeta cafeicultores e comerciantes, a polícia conta agora diariamente com as "patrulhas rurais" em Minas Gerais, Estado que produz cerca de metade do café brasileiro.
"É bom porque pelo menos ela assusta as pessoas com más intenções", disse o cafeicultor Paulo Rogério Gerald, perto da cidade mineira de Varginha, oferecendo laranjas da sua propriedade para os policiais em patrulha.
O tenente Alexandre Milhomem e o capitão Hausler Ribamar deram seu telefone para Gerald e para os funcionários dele, enquanto os grãos de café secavam ao sol na frente da sede, que já foi invadida uma vez este ano.
Milhomem disse que o número de furtos caiu para 22 no primeiro semestre deste ano em comparação com o mesmo período do ano anterior, pois as patrulhas começaram no fim do ano passado. Os assaltos também pararam após três incidentes no período do ano passado.
Um fazendeiro de Varginha, entretanto, foi morto a golpes de faca há alguns meses numa tentativa de assalto. Um suspeito, um trabalhador da fazenda que conhecia o lugar e a rotina diária, foi preso.
"Acho que o mataram porque não queriam ser reconhecidos... A primeira notícia que tivemos foi a de que ele havia desaparecido e começamos a procurá-lo. Eles o enterraram numa área escondida na própria fazenda", disse Milhomem.
A polícia diz que em geral os ladrões querem dinheiro e equipamentos agrícolas leves, enquanto as quadrilhas organizadas não se intimidam em roubar grandes quantidades de café. Armas de fogo mantidas nas fazendas também atraem ladrões em busca de armas para o uso em outros crimes.
"Costumava ter muito mais pessoas na zona rural e sempre havia festas nas fazendas", disse Gerald, que não vive na fazenda e agora usa uma colheitadeira mecânica na lavoura, no lugar de dezenas de trabalhadores.

Por Peter Murphy
para: O Globo

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