segunda-feira, 10 de maio de 2010

Aos dez anos, Cristiano é apresentado ao mundo das letras


O mundo das letras só começou a fazer parte da vida de Cristiano Tavares aos 10 anos. Até então, vivia à parte, sem entender muito bem o que acontecia em sala de aula. Por dois anos seguidos, repetiu o 3° ano, porque não conseguia aprender a ler. O rumo dessa história se tornou diferente depois de uma mudança na vida do menino, que, enfim, foi aceito na escola da cidadania.
A casa nova, a assistência social que começou a receber e a prática de atividades esportivas acabou trazendo melhorias para o desempenho escolar do estudante. No ano passado, conseguiu avançar no processo de alfabetização e conquistou o direito de ir para o 4° ano, na Escola Municipal Albino Souza Cruz, em Manguinhos.
A mudança começou após o menino ter sido flagrado pelo EXTRA nadando numa poça d’água em Manguinhos. A foto do jornalista Fabiano Rocha revelou a necessidade urgente de investimentos na comunidade da Zona Norte.
Um ano depois, os primeiros sinais da transformação vieram com o avanço das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Os imóveis construídos numa área insalubre, inclusive o de Cristiano, ao lado de um valão, foram removidos, e os moradores receberam novas casas. Um parque esportivo, com piscinas e quadras, virou a principal opção de lazer. E um computador novo — o equipamento foi doado aos moradores beneficiados pelo projeto — permitiu acesso ao mundo digital. O incentivo do governo trouxe reflexos positivos na sala de aula.

"Agora, o caderno está cheio de dever"
Para a mãe de Cristiano, a auxiliar de serviços gerais Bianca Nascimento, o interesse do filho pela escola aumentou depois que a família deixou de viver num barraco de madeira e se mudou para uma casa com mais estrutura.
— Antes, ele ficava na rua, não queria fazer o dever de casa. Na escola, só fazia bagunça. Mas, no ano passado, Cristiano melhorou muito. A casa nova nos ajudou bastante. Aqui, tranco o portão e ninguém sai. O caderno dele está cheio de dever, vejo que agora ele faz os trabalhos direitinho. Ele ainda não sabe ler, mas está melhorando muito — disse Bianca.
No ano passado, Cristiano conseguiu avanços que lhe permitiram passar para o 4° ano. O estudante aprendeu a escrever seu nome e começou a dominar fonemas mais simples. Para superar o baixo rendimento e os problemas na fala, como a gagueira, a escola o encaminhou para assistentes sociais e fonoaudiólogos da Fiocruz. E, neste ano, o aluno voltou a frequentar aulas de reforço, para que possa acompanhar o ritmo dos seus colegas de turma.

Tia Vera, o incentivo em sala de aula
Se, fora da escola, o motor do aprendizado de Cristiano foi a melhoria das condições sociais, dentro da sala de aula, a responsável foi uma só: a professora Vera Azevedo. Ela identificou as dificuldades do aluno e sugeriu à mãe de Cristiano que buscasse apoio na Fiocruz. A parceria entre Bianca e tia Vera foi um fator importante para que o estudante interrompesse o ciclo de reprovações e passasse para o 4° ano.

Letícia Vieira

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