Em apenas cinco anos, a guarda compartilhada cresceu aproximadamente 70% no Brasil
Na primeira cena, um pai explica à filha que vai sair de casa. Para manterem contato a qualquer hora, ele dá à menina um telefone celular. A tristeza inicial fica de fora das situações do dia a dia, onde eles se comunicam via telefone. Algumas despertam riso, como a que o pai, em plena fila do mercado, tenta afugentar monstros que “estão” debaixo da cama da menina. E, antes que o telespectador se pergunte “eles não se encontram mais pessoalmente?”, o pai aparece de surpresa para buscá-la na aula de balé. Suspiro. A propaganda de celular toca em um tema atual: como os pais separados criam os filhos sem estar perto deles todos os dias? O telefone, de fato, ajuda (inclusive aos pais que moram na mesma casa). Mas algumas famílias encontraram um jeito mais eficiente para manter os vínculos com os filhos após o divórcio: a guarda compartilhada.
Praticada há pelo menos 20 anos na Europa e nos Estados Unidos, o modelo dá a pais e mães separados obrigações e oportunidades iguais de convivência com os filhos. No Brasil, começou a ser discutido com maior profundidade a partir de 2002, com a entrada de um projeto de lei em prol de sua aprovação. Em vigor oficialmente desde 2008, o regime timidamente conquista espaço nos tribunais e na sociedade brasileira. Isso porque ainda existe uma noção equivocada de que é a mãe quem deve “cuidar” dos filhos e que o pai deve sustentá-los. Mas a tendência é que isso mude, algo que já pode ser percebido nas estatísticas. Segundo dados do IBGE, dos 145 mil divórcios e separações concedidos em 2003 a casais com filhos menores de idade, apenas 2,7% terminaram em guarda compartilhada. Cinco anos mais tarde, esse percentual subiu para 4%. Isso sem contar os casais que não têm a guarda compartilhada oficializada. Afinal, a distância imposta pelos tradicionais encontros quinzenais já não é o suficiente para as famílias atuais.
O engenheiro Sandro Marino, 27 anos, pai de Laura e Giuliana, de 8 e 4, logo percebeu que não conseguiria ficar longe das filhas. Um mês após a separação, dois anos atrás, solicitou a guarda compartilhada. “Cheguei a recorrer ao juiz, mas logo eu e minha ex-mulher conseguimos entrar em acordo”, diz. Desde então, os dois compartilham das decisões referentes às filhas e participam igualmente da rotina e da educação delas. As meninas dividem a vida entre as duas casas sem maiores problemas. Toda segunda e quinta-feira, vão embora da escola com o pai. São esses os dias em que dormem na casa dele, sem descartar, claro, os finais de semana alternados. Nos outros dias, elas moram com a mãe.
Mas não são todos os ex-casais que conseguem resolver suas diferenças e ressentimentos a favor dos filhos. Com o funcionário público Ronaldo Campos, 41 anos, tudo parecia correr bem. Ele se separou no fim de 2008, quando sua filha, Giovanna, estava com 6 anos e conseguiu a guarda compartilhada sem problemas. Ele e a ex-mulher se revezavam para buscar a menina na escola (ela dormia na casa de quem a buscava) e decidiam juntos sobre médicos, escola, atividades extracurriculares. Foi assim por pouco mais de um ano, até que a mãe tomou por conta própria algumas decisões importantes. “Fui surpreendido ao saber que, sem meu conhecimento, ela tinha mudado nossa filha de pediatra e de algumas atividades. Questionei a decisão unilateral e ela afirmou ter feito as mudanças para atender a interesses próprios (como preço e distância). Respondeu que, se eu me opusesse, ela pediria a guarda unilateral.”
Foi o que fez e, assim, conseguiu uma “guarda provisória”. Campos, que recorreu da sentença e aguarda julgamento, hoje é obrigado a manter pouco contato e diz ter notado um aumento da animosidade da ex-mulher quando soube que ele estava com uma companheira. O ciúme, diz, acabou com o que vinha dando certo.
Leia mais:
Página 2 : Guarda compartilhada: Um filho, duas casas
Página 3 : Guarda compartilhada: Um filho, duas casas
Crescer
Na primeira cena, um pai explica à filha que vai sair de casa. Para manterem contato a qualquer hora, ele dá à menina um telefone celular. A tristeza inicial fica de fora das situações do dia a dia, onde eles se comunicam via telefone. Algumas despertam riso, como a que o pai, em plena fila do mercado, tenta afugentar monstros que “estão” debaixo da cama da menina. E, antes que o telespectador se pergunte “eles não se encontram mais pessoalmente?”, o pai aparece de surpresa para buscá-la na aula de balé. Suspiro. A propaganda de celular toca em um tema atual: como os pais separados criam os filhos sem estar perto deles todos os dias? O telefone, de fato, ajuda (inclusive aos pais que moram na mesma casa). Mas algumas famílias encontraram um jeito mais eficiente para manter os vínculos com os filhos após o divórcio: a guarda compartilhada.
Praticada há pelo menos 20 anos na Europa e nos Estados Unidos, o modelo dá a pais e mães separados obrigações e oportunidades iguais de convivência com os filhos. No Brasil, começou a ser discutido com maior profundidade a partir de 2002, com a entrada de um projeto de lei em prol de sua aprovação. Em vigor oficialmente desde 2008, o regime timidamente conquista espaço nos tribunais e na sociedade brasileira. Isso porque ainda existe uma noção equivocada de que é a mãe quem deve “cuidar” dos filhos e que o pai deve sustentá-los. Mas a tendência é que isso mude, algo que já pode ser percebido nas estatísticas. Segundo dados do IBGE, dos 145 mil divórcios e separações concedidos em 2003 a casais com filhos menores de idade, apenas 2,7% terminaram em guarda compartilhada. Cinco anos mais tarde, esse percentual subiu para 4%. Isso sem contar os casais que não têm a guarda compartilhada oficializada. Afinal, a distância imposta pelos tradicionais encontros quinzenais já não é o suficiente para as famílias atuais.
O engenheiro Sandro Marino, 27 anos, pai de Laura e Giuliana, de 8 e 4, logo percebeu que não conseguiria ficar longe das filhas. Um mês após a separação, dois anos atrás, solicitou a guarda compartilhada. “Cheguei a recorrer ao juiz, mas logo eu e minha ex-mulher conseguimos entrar em acordo”, diz. Desde então, os dois compartilham das decisões referentes às filhas e participam igualmente da rotina e da educação delas. As meninas dividem a vida entre as duas casas sem maiores problemas. Toda segunda e quinta-feira, vão embora da escola com o pai. São esses os dias em que dormem na casa dele, sem descartar, claro, os finais de semana alternados. Nos outros dias, elas moram com a mãe.
Mas não são todos os ex-casais que conseguem resolver suas diferenças e ressentimentos a favor dos filhos. Com o funcionário público Ronaldo Campos, 41 anos, tudo parecia correr bem. Ele se separou no fim de 2008, quando sua filha, Giovanna, estava com 6 anos e conseguiu a guarda compartilhada sem problemas. Ele e a ex-mulher se revezavam para buscar a menina na escola (ela dormia na casa de quem a buscava) e decidiam juntos sobre médicos, escola, atividades extracurriculares. Foi assim por pouco mais de um ano, até que a mãe tomou por conta própria algumas decisões importantes. “Fui surpreendido ao saber que, sem meu conhecimento, ela tinha mudado nossa filha de pediatra e de algumas atividades. Questionei a decisão unilateral e ela afirmou ter feito as mudanças para atender a interesses próprios (como preço e distância). Respondeu que, se eu me opusesse, ela pediria a guarda unilateral.”
Foi o que fez e, assim, conseguiu uma “guarda provisória”. Campos, que recorreu da sentença e aguarda julgamento, hoje é obrigado a manter pouco contato e diz ter notado um aumento da animosidade da ex-mulher quando soube que ele estava com uma companheira. O ciúme, diz, acabou com o que vinha dando certo.
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Página 2 : Guarda compartilhada: Um filho, duas casas
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