sexta-feira, 14 de maio de 2010

‘O monstro Abdelmassih deve voltar para a prisão’


por Vanuzia Leite Lopes

Tenho 49 anos, sou divorciada, moro em São Paulo, sozinha, sem filhos. Era poetisa, autora de livros poéticos e infantis (nem ponto nem vírgula, Dona Goiaba, A pedrinha entre outros). Era também estilista, empresária bem sucedida, inventora de produtos lúdicos (roupinhas para computador, nome 100 dono). Atualmente estou no último ano de Direito.
Sou vítima do Roger Abdelmassih. Por consequência de estupro, seguido do atentado violento ao pudor, tive uma lesão corporal gravíssima. Fiquei estéril em sua clínica por causa de uma bactéria adquirida durante um coito anal.
Hoje sofro de disfunção hormonal grave, úlcera e gastrite, além de forte depressão adquirida após esses fatos, conforme laudo forense. Os documentos estão à disposição de quem quiser comprovar.
Mantive-me calada por anos porque acredito em Deus todo poderoso e em seus diversos planos. Mas agora, e sempre temente ao meu criador, sei que posso expressar meus sentimentos sobre o monstro Roger Abdelmassih, que destruiu meu casamento, meus sonhos, minha profissão e minha saúde.
Durante minha solitude, por 16 anos andei de mãos dadas com minha fé pelas ruas da razão, diversas ruelas de prantos e becos de desespero. Sempre abafando meu grito. E sempre esteve na minha memória latente esta violência sexual e psicológica, um dano irreparável que sofri desta pessoa que se dizia médico.
Digo “que se dizia médico” porque ele se apresentava como tal, mas, a meu ver, para ser médico não basta apenas um diploma, porque é necessário o estado de espírito, o dom. O que este senhor não possui.
Quando soube que o habeas corpus tinha sido deferido pelo ministro do Supremo Gilmar Mendes, fiquei em agonia e entrei em desespero.
A notícia afetou-me como um relâmpago. Fiquei trêmula, pálida, me vesti de melancolia e me senti de novo acuada, ferida e padecida, com medo.
A soltura deste criminoso foi como se todos os órgãos judiciais os quais procurei em 1993 tivessem outra vez apontado na minha direção um dedo metralhador, matando toda a minha esperança de Justiça.
Como estudante de Direito, esperava que ele continuasse preso, para preservar todas as provas, além dele não ter a oportunidade de alterar os locais onde praticava manipulação genética.
O habeas corpus não deveria ter sido concedido porque o processo envolvendo graves denúncias encontrava-se em andamento e o que já tinha sido apurado até confirmou que Roger Abdelmassih é um criminoso de jaleco, terno, pijama etc.
Independe de ser médico, a sua má índole, forjada há anos, foi reforçada pela certeza da impunidade, que lhe acrescentou distorções de caráter, como a arrogância e o poder de intimidar.
A questão que mais me preocupa é sobre os meus embriões e óvulos e os de outras tantas pacientes.
Ludicamente me apego na esperança, no sonho, de saber se meus 17 embriões e diversos óvulos, que ele e sua equipe me furtaram, possam vir a ser localizados.
Consta nos autos do processo o desaparecimento dos meus embriões num “relatório confissão”. Me permito desejar, talvez, desejar somente o desejo....
Mas quem sabe eu ainda possa vir a saber o destino dado a eles, e Deus, que é longânime, me proporcione este encanto, num sopro divino.
Mas uma coisa eu sei: FUI VIOLENTADA, ENGANADA E FERIDA EM TODOS OS SENTIDOS, SEXUAL E PSICOLOGICAMENTE POR ROGER ABDELMASSIH.
Algumas máscaras do Roger ainda vão ser retiradas, muitas assustadoras, pois são muitos os seus crimes. Além dos sexuais, há os de manipulação genética, de crianças com problemas, de erros médicos etc.
Se ele continuar solto, as investigações sobre esses crimes podem ser prejudicadas. Creio que o ministro Gilmar Mendes não se “lembrou” desse detalhe.
Convém frisar que houve uma repercussão internacional desse caso, com destaque para a suspeita de que havia manipulação de embriões humanos e animais no mesmo ambiente na clínica do Roger.
Uma jornalista da revista alemã Stern para quem eu dei uma entrevista me disse que na Alemanha os comentários eram de que Roger Abdelmassih é um monstro comparável a Hitler, que fazia experimentos com seres humanos.
Como até os cegos de nascença enxergam emoções, sabem que a vida é um poema e conseguem interpretar a índole de uma pessoa, é de se esperar que nossos juristas que creem na paz, no amor e na família saibam identificar a escória da sociedade com a mesma clarividência.
Existem diversos tipos de dores, dores físicas, dores invisíveis, dores perpétuas e dores terríveis. E todas as dores em uma só, como a que Roger causou às suas vítimas.
Por isso a minha expectativa é que o Supremo adote a ideia máxima de nossa Constituição, a “de que não existe meia verdade e meio criminoso”. O monstro deve voltar para a prisão, porque ali é o lugar dele.
Grata por me ouvirem.

Se, ao bater na razão a lógica não repercute no coração, não serve para nada. (Alaôr Caffé Alves)

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