quarta-feira, 13 de maio de 2009

Brasil desenvolve metodologia para detectar autismo em crianças

O cérebro de uma criança com autismo apresenta alterações no corpo caloso, amígdala e cerebelo

Um método para diagnosticar o autismo por meio de exame de imagem está sendo desenvolvido pelo Instituto Fernandes Figueira, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). Atualmente, não há nenhum teste específico para o autismo. O diagnóstico é clínico, com base na observação dos sintomas.

Os pesquisadores utilizam o eletroencefalograma computadorizado para fazer uma varredura cerebral. O exame amplia e mede as correntes eletromagnéticas no cérebro em diversas frequências (de 3 a 27 hertz) e permite verificar as ligações entre os grupos de neurônios.
Segundo o neurologista infantil Adaílton Tadeu Alves de Pontes, um dos coordenadores da pesquisa, as imagens obtidas com o mapeamento são comparadas com as do cérebro de uma criança sem o problema.
"Verificamos a relação de uma área com outra e percebemos que as crianças com autismo tiveram uma resposta diminuída no hemisfério cerebral direito em relação ao esquerdo, ou seja, há uma deficiência de ativação no hemisfério direito".
Pontes explica que o hemisfério direito está associado às funções socioafetivas, emocionais, de empatia e de percepção do contexto e compreensão social, enquanto o hemisfério esquerdo é mais relacionado com o cálculo e o raciocínio.
O próximo passo, segundo ele, é ampliar a amostra de crianças analisadas, incluindo autistas com inteligência normal e outros com problemas de linguagem, por exemplo. Por fim, haverá uma comparação dessas crianças com outras que possuam patologias neuropsiquiátricas diferentes -para saber como funciona a resposta cerebral nesses casos.
Pesquisas anteriores com cérebros de autistas já encontraram desequilíbrios em neurotransmissores (substâncias químicas que ajudam as células nervosas a se comunicarem) que poderiam explicar o comportamento do autista.
Outros trabalhos encontraram irregularidades nas próprias estruturas do cérebro, como no corpo caloso (que facilita a comunicação entre os dois hemisférios do cérebro), na amígdala (que afeta o comportamento social e emocional) e no cerebelo (envolvido com as atividades motoras, o equilíbrio e a coordenação).
Na avaliação do neurologista José Geraldo Speciali, da USP de Ribeirão Preto, caso a eficácia do eletroencefalograma no diagnóstico do autismo seja confirmada, será "uma ótima notícia" porque hoje o autismo é descoberto tardiamente. "Porém, ainda não sabemos se o diagnóstico e a intervenção precoces mudarão o curso da doença", observa.
Para o médico Luiz Celso Vilanova, chefe do departamento de neurologista infantil da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a pesquisa da Fiocruz é mais uma que tenta encontrar um marcador biológico para o diagnóstico do autismo, mas dificilmente chegará a uma resposta positiva.
"Ela pode trazer novas contribuições, mas outros trabalhos, com métodos até mais sofisticados como a ressonância magnética e o PET scan, não conseguiram definir um quadro que sirva de marcador independente", diz o médico.
Segundo ele, a limitação é da própria medicina. "No passado, essas crianças eram classificadas como psicóticas. Existem algumas evidências de alterações de natureza biológica e cerebral, mas nada que nos ajude no diagnóstico."
Hoje, o diagnóstico ocorre por volta dos três anos de idade, e o tratamento é basicamente comportamental (psicólogos e fonoaudiólogos, por exemplo). Medicamentos são usados para controlar sintomas específicos, como a agressividade.


BOL Notícias

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