SÃO PAULO - As empresas de reciclagem são as maiores empregadoras de mão de obra infantil, diz um estudo encomendado pela Fundação Telefônica, com 5,6 mil crianças e adolescentes de 17 municípios paulistas - a capital foi excluída. Entre eles, 3,7 mil disseram ter algum tipo de trabalho, dos quais 70,8% nas ruas e/ou semáforos, entre malabares, flanelinhas e vendedores. A maioria (77,9%), porém, passa dias e noites catando lixo, uma das piores formas de trabalho infantil. Desses, 56,5% têm entre 5 e 9 anos.
"O fato de a maioria exercer uma atividade tão insalubre quanto catar lixo e de começar tão jovens nos surpreendeu", diz a responsável pela pesquisa, Vera Masagão Ribeiro, coordenadora de programas da ONG Ação Educativa. Os irmãos M.L., de 11 anos, A.L., de 13, e M.L., de 14, não conheceram infância sem trabalho. A mãe morreu, em 1999, e eles foram morar com a avó, aposentada por invalidez e com renda mensal de um salário mínimo. Sem alternativa, os três foram para a rua trabalhar como catadores. "O juizado de menores vivia vindo aqui, mas o que eles queriam que eu fizesse?", diz a avó A.M.S, de 57 anos. "Eu não tenho como sustentá-los." Ela recebe R$ 120 do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil. Já era previsto que o trabalho infantil fosse apontado pelo levantamento, mas os pesquisadores não esperavam índice tão alto: 67%. A legislação brasileira proíbe o trabalho a menores de 14 anos. Jovem entre 14 e 16 anos pode trabalhar como aprendiz; entre 16 e 18 anos o trabalho é permitido, mas são vetadas atividades insalubres e degradantes - revirar o lixo nas ruas está entre elas. Vera defende a formalização do trabalho de catadores pelos municípios. "Quanto mais formal a atividade, menos chance terá de empregar mão de obra infantil", diz.
Fonte: O Estado de S. Paulo.
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