Rio - Evelyn, Emily, Lara e Caio têm em comum o fato de serem irmãos gêmeos de 10 anos. O presente de aniversário que seus pais mais queriam ainda não chegou. Há uma década, as duas mães, Paloma Ribeiro Trepin, 33, e Roselane Alves Vieira, lutam na Justiça contra o laboratório Schering do Brasil para ter direito à indenização pela gravidez não planejada. Vítimas da pílula de farinha, como ficou conhecido na época o lote falsificado do anticoncepcional Microvlar, elas viram nesses 10 anos o padrão de vida da família despencar. Em todo o País, cerca de 200 mulheres engravidaram usando a “pílula da fertilidade”, mas só 10% ganharam na Justiça pensão para os filhos até a maioridade. Das duas, apenas Roselane venceu nos tribunais, mas o laboratório recorreu.
A gestação em dobro pegou de surpresa as duas moradores de Volta Redonda, no Sul Fluminense. De um dia para o outro foram obrigadas a se desfazer de bens para bancar a maternidade múltipla. “Quando engravidei, trabalhava como professora primária, já tinha dois filhos, de 15 e 12 anos, e tinha acabado de terminar um namoro”, recorda Paloma. O carro recém financiado teve que ser vendido para aumentar a casa para a chegada de Evelyn e Emily. O amor pelas gêmeas não tirou dela a preocupação com o futuro das meninas. Durante cinco anos, o laboratório pagou pensão para as filhas de Paloma, mas em março de 2004 a empresa recorreu e o benefício foi suspenso por decisão da Justiça. “Minha vida virou de cabeça para baixo. As meninas estudavam em uma escola particular, onde tinham aulas de natação, balé, inglês. Sem dinheiro, tive que transferi-las para escola pública, onde estão até hoje”, revolta-se Paloma. Ela largou o emprego para cuidar das crianças e foi forçada a alugar a casa e se mudar para outra menor. A perda financeira veio acompanhada de muito preconceito. “Nunca fiquei triste porque minha mãe não planejou a gravidez. Eu ficava muito chateada porque as pessoas nos apontavam nas ruas como as meninas das pílulas de farinha”, diz Emily.
A alegria pela chegada do casal de gêmeos, Lara e Caio, veio seguida de mudanças na rotina de Roselane. Na época, ela já tinha um filho de 9 anos e havia acabado de montar um salão de beleza. “Estava endividada. Com a gravidez, não podia mais lidar com produtos químicos. Vendi o salão, a casa, num bairro bom de Volta Redonda, e nos mudamos para a casa dos meus pais, onde moramos até hoje. É exaustivo. Essa história precisa de um final feliz”, desabafa Roselane, que, como Paloma, também sentiu a cobrança dos filhos. “Meu filho reclamava, dizendo que eu não queria eles. Na época não estava nos planos. Mas hoje não imagino minha vida sem os dois”, diz.
Não há revolta entre os filhos, que evitam tocar no assunto. “Ainda bem que ela tomou o remédio errado, porque senão a gente não teria nascido”, afirma Caio. A Justiça condenou a Schering a pagar um salário mínimo (R$ 465) mensal para Lara e Caio do nascimento até os 18 anos, retroativo com juros e correção monetária e mais R$ 15 mil para Roselane por danos morais. “É o reconhecimento do erro. A fraude foi comprovada e não houve reparação”, critica o advogado de Roselana, Davi Moura. Mesmo após o escândalo, o Microvlar continua sendo uma das pílulas mais consumidas no País, usada por 1,5 milhão de mulheres.
O DIA ONLINE
nossa...disso eu nem sabia...por eu descobri q existia isso ..quando li uma noticia eim uma revista do meu colegio.....mas isso e um assunto muito interessante...
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