Quando Freud criou a psicanálise e descortinou os mistérios da sexualidade infantil foi um verdadeiro escândalo, tamanha a repressão e preconceito da época. Infelizmente, até os dias atuais muitas pessoas ainda consideram que as crianças são anjinhos assexuados e que os psicanalistas só pensam em sexo.
Desde o nascimento somos invadidos por uma energia poderosa que nos impulsiona para a vida e é ela que nos faz desejar, ousar, conquistar, nos movimentando sempre na direção de um outro ser humanos. Sem ela ficamos seres apáticos , sem vivacidade, sem brilho e esvaziados de graça.
Freud foi um homem brilhante, extremamente sério e rigoroso nos seus estudos, sem ter melindres em revisar suas formulações teóricas quando se deparava com novas descobertas.
Ele nos ensinou que a sexualidade alimenta a nossa capacidade de amar e ser amado, de emocionar, de fazer vibrar, de dar e receber prazer, enfim todo o esplendor da natureza humana. E isto transcede as contato físico propriamente dito.
Os bebês são radicais em relação às suas emoções e sensações físicas, ou tem prazer ou desprazer, amam ou odeiam, e não sabem refletir, argumentar, esperar. O contato físico e emocional com a mãe ou com quem exerce a função materna é que dará forma e sentido a toda essa avalanche de estímulos. Portanto, a mãe será o primeiro objeto amoroso tanto para meninos quanto para meninas. Por ela nos apaixonamos e queremos atenção exclusiva. Lembram do desenho animado cujo personagem dizia " não é a mamãe "? Esta relação é erotizada desde o início, ao amamentar, dar banho, brincar, fazer dormir, cantar canções infantis, alimentar, embalar a criança no seio, porque a mãe também está enamorada e totalmente voltada para o seu bebê. E esta relação que se configura não tem nada a ver com a sexualidade genital adulta, integrada, mas sim com a sexualidade infantil, que nos constitui e que será o esteio para o nosso desenvolvimento.
O bebê precisa e demanda o amor da mãe, não basta cumprir as exigências físicas. Certamente, dificuldades podem acontecer neste caminho, por exemplo, quando a mãe por algum motivo pessoal fica deprimida ou desconectada afetivamente do seu bebê. Nestes casos, a dupla mãe-bebê estará sujeita a um desencontro afetivo que pode levar ao adoecimente psíquico.
Voltando aos tempos atuais, quando vemos a nudez excessiva dos corpos, ficamos com a impressão que algo foi perdido, porque não é um corpo sarado e desnudo que nos encanta. O que nos provoca arrebatamento é a qualidade da vivência emocional, são todos os sinais da força amorosa do outro que nos atrai, e isto , meus caros, é o elixir da vida, não tem idade e nem prazo de validade.
LUCIA PALAZZO
Diretora de Comunicação da AFRERJ e psicanalista por formação.
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