segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Pais enfrentam dilema na hora de falar de Papai Noel


Se seu filho já mandou a cartinha para o polo norte e agora aguarda com ansiedade a chegada dos presentes no dia 25, ele certamente será atraído pela foto ao lado. Então é melhor mostrar esta página a ele.

"Minha filha já desconfia", conta Adriana Bona Matos, 43, com ar preocupado, enquanto observa Ana, 7, caminhar com os olhos brilhantes em direção ao Papai Noel do shopping Eldorado, em São Paulo. "No Natal passado ela percebeu que o Papai Noel que levava os presentes tinha alguma semelhança com o pai dela. Mas, por sorte, foi só isso. Não chegou a fazer uma pergunta direta."
Falta menos de um mês para o Natal. Como muitos pais e mães nesta época do ano, Adriana se pergunta se não é hora de abrir o jogo e contar toda a verdade sobre o Papai Noel. Além da desconfiança da filha, pesa o fato de amiguinhos dela já saberem que o senhor da barba branca não existe.
Especialistas em infância afirmam que não há idade certa. "Pode ser aos quatro anos, aos seis, mais tarde... A própria criança dá sinais de quando é o momento, e os pais precisam reconhecer os sinais", explica a pedagoga Maria Angela Barbato Carneiro, do Núcleo de Pesquisas do Brincar da PUC-SP.
Antes de tudo, é necessário esperar a pergunta "O Papai Noel existe mesmo?". Depois, a dica é não entregar de pronto a resposta definitiva. O pai precisa antes perceber se o filho espera um "sim" ou um "não". Será justamente essa a resposta adequada naquele momento.
Quando a criança chega inconformada, criticando o coleguinha que ousou dizer que o Papai Noel não existe, aí está o sinal claro de que ela ainda quer crer no bonachão natalino.
Por outro lado, quando a mãe diz que o Papai Noel, sim, existe, e a criança retruca com perguntas que derrubam os argumentos a favor do bom velhinho, talvez não haja nada a fazer além de entregar a verdade.

Ilusão necessária
O importante é que os pais não destruam a ilusão antes do tempo. Crer que o Papai Noel tem uma casa no polo norte, fabrica brinquedos para as crianças do mundo todo e viaja pelos céus a bordo de um trenó faz parte da mesma lógica dos contos de fadas.
Assim como as tradicionais narrativas infantis, o Papai Noel ensina certas virtudes --como a bondade e a generosidade-- e comportamentos --a obediência aos pais e o bom relacionamento com os irmãos.
A imaginação, além disso, é fundamental para o amadurecimento emocional da criança. "O mundo real é complexo demais para a criança novinha. O mundo da fantasia, ao contrário, pode ser manipulado e mudado. É uma espécie de treinamento que dá à criança os recursos emocionais para que ela mais tarde seja capaz de enfrentar o mundo real", diz a médica Ivete Gattás, da Unidade de Psiquiatria da Infância e Adolescência da Unifesp.
Por fim, quando pais e filhos escrevem a cartinha juntos, montam a árvore de Natal e compartilham a ansiedade pela chegada do dia 25, os laços familiares são estreitados.
Mas, da mesma forma que não se deve acabar com a fantasia antes do tempo, os pais tampouco podem prolongá-la além da conta. Alguns fazem isso sem perceber. "Quando a criança deixa de crer no Papai Noel, significa que uma fase da infância ficou para trás. Nenhuma mãe gosta de ver que o filho está crescendo", diz Cláudia Tricate, psicóloga e diretora do colégio Magno, de São Paulo.
Rafaela Cunha, 28, lembra a própria infância ao explicar por que quer sua Maria Eduarda, 5, acreditando piamente na existência do bom velhinho por bastante tempo: "A vida real é tão dura, não é? Gostaria que ela continuasse vivendo essa magia o máximo possível. Me lembro da minha época de criança, e era tão gostoso".
A mãe pode ficar tranquila, ao menos por agora. Enquanto Rafaela conversa com a Folha no shopping, Maria Eduarda está no colo do Papai Noel, envergonhada, tentando descrever a boneca cigana que deseja ganhar neste Natal.

Ricardo Westin


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