terça-feira, 6 de abril de 2010

Vamos conhecer um pouco da África III

As antigas gerações conseguiram passar as vestimentas e decorações Maasai aos jovens .

As tradições Maasai prosperam nas terras do clã Il Ngwesi
Se você participar de um safári no Quênia, a promessa de ver os “Big Five”, os cinco grandes mamíferos mais perigosos da África, certamente será cumprida. Pode custar caro – as diárias nos parque nacionais quenianos são astronômicas – mas, afinal, é uma ocasião que não pode ser perdida. Entre uma saída para ver animais e outra, o tour certamente incluirá uma “visita comunitária”, que levará o turista para “conhecer melhor a cultura Maasai” em um vilarejo muitas vezes montado com essa única finalidade. Nossa experiência na pousada Il Ngwensi foi bem mais autêntica. Talvez porque são os próprios Maasai que dirigem a operação, eles não querem (nem precisam) colocar sua gente como atração turística.
Sem dúvida, a cultura Maasai é tão colorida e pitoresca que qualquer visitante quer conhecer um pouco mais sobre esse povo guerreiro. Com uma população de quase um milhão de pessoas (metade no Quênia e a outra metade na Tanzânia), os Maasai conseguiram manter boa parte de suas tradições e, ao mesmo tempo, lograram se adaptar ao mundo moderno. É comum encontrar um Maasai fartamente ornado com seus colares de contas multicoloridas, vestindo sua shuka (roupa vermelha) e, em uma de suas mãos, segurando o o-rinka, seu bastão de madeira. Mas, na outra mão, ele certamente terá um celular!
Durante nossa estadia em Il Ngwesi, estivemos, em três ocasiões diferentes, em dois vilarejos. Essas visitas genuínas representaram uma ocasião única para aprender um pouco mais sobre a cultura Maasai. Cedo pela manhã, chegamos ao vilarejo Bamati Lemaa a tempo para acompanhar os pastores que levam o gado para beber água no rio. “Nossas vacas são o que temos de mais importante”, diz Isaiah Torongos. “É nossa principal fonte de alimento. Ela nos dá leite, sangue e carne. Por isso tratamos muito bem de nosso gado.” Isaiah agarra um novilho com carinho e examina sua perna machucada. “Está bem melhor e logo estará curado.” A riqueza de um Maasai é medida pelo número de cabeças de gado que cada família possui.

O gado representa a essência da cultura Maasai. Possuir vacas é mais importante do que ter uma conta bancária. Cada vaca vale mais de R$500 e esse investimento é cuidado com carinho.

Isaiah retira da cintura uma faca – todo Maasai caminha pelo mato com uma faca, uma lança e um bastão – e corta um ramo de um arbusto. Ele prepara as duas extremidades do pedaço de pau. “Serve como escova de dentes de um lado e palito de outro”, afirma Isaiah. “Como somos guerreiros, não somos ainda casados. E precisamos impressionar as meninas.”
Uma parte importante da sociedade Maasai está relacionada com seu “grupo de idade”. Em uma comunidade relativamente pequena, não existe uma pirâmide populacional contínua, uma vez que são os ciclos de 15 anos que marcam os casamentos e os futuros filhos. Aproximadamente a cada 15 anos, uma nova geração de jovens é iniciada. Todos adolescentes na faixa entre 13 e 18 anos são circuncidados e passam a ser considerados como guerreiros (il murrans). Teoricamente, eles precisam esperar mais um ciclo de 15 anos para se tornarem adultos e, assim, terem a permissão de casar. Isaiah admite que, embora seja formalmente proibido, alguns guerreiros namoram meninas no mesmo vilarejo antes do casamento, encontrando-se às escondidas. “Apenas os amigos íntimos dela e dele sabem sobre a relação, mas nenhum adulto ou ancião pode saber”, diz Isaiah. “Seria um problema grave engravidar uma moça e a criança nascida estaria fora de qualquer grupo etário.”
No dia seguinte, visitamos outro vilarejo, pois um grupo de guerreiros vem dançar e cantar. Interessados em impressionar as jovens donzelas que assistem ao espetáculo, os guerreiros consideram as danças como as melhores ocasiões para flertar com as meninas que, um dia, serão suas futuras esposas. Eles demonstram uma vitalidade singular e dançam, durante horas, balançando, para trás e para frente, a cabeça e o tronco.

Os cantos Maasai descrevem a vida cotidiana e também realçam a importância do gado.

Mesmo se por poucos dias, durante nossa passagem pelas terras de Il Ngwesi vimos que a cultura Maasai mantem-se viva e forte. Mesmo se as secas dos últimos anos dizimaram um grande número de cabeças de gado, alguns clãs, como o de Il Ngwesi, conseguiram diversificar suas atividades, gerando novas entradas com o turismo sustentável. O lucro obtido com as operações turísticas não apóiam somente a conservação da natureza nas terras Maasai, como também tem ajudado a preservar essa cultura singular.

Haroldo Castro


Época

Blog Viajologia

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