quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Formado em poucos dias, buraco gigante na África pode criar novo oceano


Uma cratera na crosta terrestre --que pode ser a precursora para um novo oceano-- se rompeu em apenas alguns dias em 2005, segundo sugere um novo estudo. A abertura, localizada na região de Afar, na Etiópia, traz uma oportunidade única para os geólogos estudarem como as cadeias meso-oceânicas (elevações na crosta que ocorrem no meio dos oceanos) se formam.
A fenda é um componente da superfície de uma fissura continental abaixo da terra, formada entre as placas da África e da Arábia, e que é desenhada a partir do encontro delas. A fenda começou a se formar em setembro de 2005, quando um vulcão no extremo norte da cratera, chamado Dabbahu, entrou em erupção.
O magma dentro do vulcão explodiu como uma fonte de lava e não chegou à superfície --em vez disso, ele foi desviado para o subsolo continental. O magma resfriado em forma de cunha levantou uma "barricada" que então se ergueu, rompendo a superfície e criando a fissura de 500 m de comprimento e 60 m de profundidade.
Usando dados coletados por sensores das universidades da região, pesquisadores liderados por Atalay Ayele, da Universidade Addis Ababa, na Etiópia, reconstruíram a sequência de eventos sísmicos que levaram à formação da cratera. Eles descobriram uma barricada de magma solidificado, cuja extensão é de 60 km de comprimento e cuja largura é 8 m, formado na abertura do monte Dabbahu --e que formou a cratera em questão de dias.

Ferocidade "impressionante"
Barricadas semelhantes são encontradas na Islândia, com medidas em torno de 10 km de comprimento e 1 m de largura, e levam anos para se formar. O novo estudo mostra que a formação desses diques podem ocorrer em vários segmentos --e em períodos mais curtos de tempo-- do que se pensava anteriormente.
"A ferocidade do que vimos neste episódio surpreendeu a todos", disse Cynthia Ebinger, da Universidade Rochester, em Nova York.
Embora a abertura do monte Dabbahu ainda esteja a centenas de quilômetros adentro em relação à superfície, Ebinger diz que ela pode continuar alargando e alongando. "Como as placas mantêm a distância, ela vai acabar similar ao mar Vermelho", afirma.

Novo oceano
Eventualmente, a abertura pode chegar à costa leste da Etiópia e se encher com água do mar. "Em algum ponto, se continuar se abrindo e aumentando, então aquela área será inundada", afirma Ken Macdonald, geofísico marinho da Universidade da Califórnia, que não está envolvido no estudo.
Ebinger diz que isso não deve acontecer tão cedo --seriam necessários cerca de 4 milhões de anos para a cratera chegar ao tamanho do mar Vermelho. Outras áreas na região de Afar que estão abaixo do nível do mar, no entanto, podem ver inundações antes.
Macdonald diz que o processo de placas continentais aumentando a separação e se preenchendo com magma é análogo ao que acontece nas cadeias meso-oceânicas, localizadas nas profundezas marítimas, cujo estudo é difícil pelo fato de se encontrarem a alguns quilômetros abaixo da água. "Isso é muito estimulante no que se refere às implicações para as profundezas oceânicas e sobre como as cadeias meso-oceânicas atuam", disse.

MACGREGOR CAMPBELL
da New Scientist

Folha Online

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