sábado, 16 de janeiro de 2010

Brasil tem 38% da população indígena vivendo na pobreza


RIO - Dos 750 mil índios - números do Censo de 2000 -, cerca de 285 mil (38%) vivem em extrema pobreza no Brasil. Os dados fazem parte do primeiro relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) apresentado nesta quinta-feira, no Centro de Informações das Nações Unidas para o Brasil (Unic-Rio), sobre a situação dos povos indígenas. Segundo o documento, dos 370 milhões de índios (cerca de 5% da população) existentes no mundo, 300 milhões deles estão na mesma situação. Isso corresponde a um terço dos 900 milhões dos miseráveis do planeta.
O relatório "A situação dos povos indígenas do mundo" foi produzido pelo Secretariado do Fórum Permanente sobre Questões Indígenas das Nações Unidas e divulgado simultaneamente no Rio de Janeiro, Nova York, Bruxelas, Canberra, Manila, México, Moscou, Pretoria e Bogotá.
De acordo com os analistas da ONU, a expectativa de vida da população indígena chega a ser 20 anos inferior à média nacional em alguns países, como Nepal e Austrália. Os motivos, aponta o estudo, ocorre devido à pobreza e à falta de acesso à saúde e educação. Por conta disso, diversos povos indígenas enfrentam sério risco de extinção.
- No Brasil, a situação mais grave é no Mato Grosso do Sul por causa dos conflitos de demarcação das terras. É o estado mais violento. Recentemente, dois índios foram assassinados em decorrência dessas demarcações - revelou Marcos Terena, articulador dos direitos dos índios no Comitê Intertribal - Memória e Ciência Indígena (ITC) e membro da Cátedra Indígena Itinerante.
Diante do quadro revelado pela ONU, diversos povos indígenas enfrentam risco de extinção. Além disso, o documento afirma que, em cem anos, 90% de todos os idiomas indígenas - entre seis e sete mil no mundo, sendo 180 no Brasil - devem desaparecer.
- A situação crítica é pobreza, analfabetismo e indígenas, que não são reconhecidos pelos seus governos em algumas regiões do mundo africano, asiático e até mesmo árabe. Os índios são excluídos do poder econômico e político, como acontece no Brasil. Um índio não consegue ser presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio) - criticou Marcos Terena.

Taxa de suicídios 19 vezes maior que a média brasileira

Na América Latina, as taxas de pobreza dos índios são sempre superiores às do restante da sociedade: no Paraguai, ela é 7,9 vezes maior; no Panamá 5,9 vezes maior; no México 3,3 vezes maior; e na Guatemala 2,8 vezes maior. A ONU cita que, entre 2000 e 2005, a taxa de suicídios entre os índios guaranis foi 19 vezes maior do que a média brasileira.
- A situação dos Kaiowá resume os principais problemas indígenas do Brasil. Desnutrição, suicídio, alcoolismo, desemprego, falta de terras e violência - disse Marcos Terena.

- O Brasil tem avançado. O problema é transformar as leis em políticas públicas concretas. As políticas públicas, hoje, são muito atrasadas - disse Giancarlo Summa, diretor do Unic-Rio.

Presidente da Funai fala em melhorias

Em Brasília, o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Márcio Meira, disse que o relatório foi elaborado com a cooperação do governo brasileiro e que muitos dos pontos preocupantes fazem parte do diagnóstico do governo sobre a situação indígena no país.
Meira disse que muitos indicadores já estão melhorando, como o de mortalidade infantil:
- Estima-se que o Censo do IBGE deste ano revele uma população de mais de um milhão de índios, comparada com os 730 mil medidos em 2000. O crescimento entre os índios é cinco vezes maior que na população geral. Estamos em um período de queda da mortalidade e aumento da população.
O relatório da ONU destaca ainda que no Brasil, Bolívia e Chile, mais da metade da população indígena vive em áreas urbanas. Só no Brasil existem 12 povos indígenas isolados, sem contato com outras sociedades. Outro obstáculo é a desnutrição, duas vezes mais comum em crianças indígenas do que as não indígenas. Em Honduras, 95% das crianças menores de 14 anos sofrem com o problema.
O documento revela ainda que, durante as três últimas décadas na Colômbia, milhares de pessoas indígenas foram deslocadas devido à atividade militar do Estado ou a presença de grupos armados envolvidos com o cultivo e o tráfico de drogas. Isso gerou o aumento das populações refugiadas nos países vizinhos como o Brasil, Equador, Panamá, Peru e Venezuela.
O estudo mostra que os índios possuem níveis desproporcionais de mortalidade infantil e materna, desnutrição, doenças cardiovasculares, HIV, entre outras, como malária e tuberculose.

Globo.com
Foto: Adriana Alves Brier - Olhares.com

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