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sábado, 16 de janeiro de 2010
Uso de crack cresce em Bauru e casos de esquizofrenia triplicam
Em cinco anos, triplicou o número de pacientes com distúrbios mentais associados à droga atendidos pelo Caps-AD
Nos últimos anos, disparou o número de casos de esquizofrenia relacionados ao uso intenso e prolongado de entorpecentes. E nos últimos cinco anos, triplicou a quantidade de pacientes com distúrbios mentais associados às drogas atendidos pelo Centro de Atenção Psicossocial a Usuários de Álcool e Drogas (Caps-AD) de Bauru.
Na maioria das situações, os distúrbios estão relacionados ao uso crônico do crack. Atualmente, o Caps-AD vem atendendo a 30 pacientes nessa situação. Em 2004 eram apenas cinco. “É desesperador. O grupo aumentou muito, e a cada dia chegam mais e mais pessoas”, diz a fonoaudióloga Érika Paez, que atua no local há mais de 15 anos.
O psiquiatra Sérgio Sato explica que o crack costuma funcionar como um “gatilho” que desencadeia a esquizofrenia nos indivíduos que já possuem uma tendência latente de desenvolver o distúrbio. Há casos, também, de usuários que não tinham predisposição ao transtorno, mas acabaram desenvolvendo o problema em decorrência do uso crônico da substância.
“O crack afeta no cérebro a área da observação, que permite aos seres humanos se comunicarem. O uso intenso e prolongado do entorpecente pode fazer com que a pessoa perca a capacidade de compreender as coisas ao seu redor. Ela passa a viver sob a influência de um meio subjetivo doentio”, afirma.
A esquizofrenia (do grego “phrenés”, que em português significa “dividir”) é um transtorno que costuma manifestar-se em adolescentes a partir dos 16 anos de idade. “Em geral, são indivíduos muito inteligentes e ao mesmo tempo bastante retraídos socialmente”, explica Sato.
Tais características são denominadas pelos especialistas de “personalidade pré-mórbida”. As causas para o distúrbio seriam genéticas, mas pesquisadores divergem quanto a essa hipótese. Na medida em que a pessoa com tendências esquizofrênicas fica mais velha, os sintomas podem se aprofundar: ela fica ainda mais retraída e se isola do restante do mundo; além disso, passa a ter ideias mirabolantes, porém sem nexo algum.
Se nada for feito para frear esse processo, a tendência é que o indivíduo comece a ouvir vozes no interior de sua cabeça. Na maioria das vezes, tais alucinações têm um tom ofensivo ou mesmo persecutório (colocam em dúvida a sexualidade da pessoa, incitam-na a atentar contra a própria vida etc).
Na metade do ano passado, o bauruense Gabriel (nome fictício), 22 anos de idade e usuário de crack, começou a sofrer alucinações. “Eu ouvia uma voz feminina na minha cabeça. Parecia um desses ‘radinhos’ a pilha”, afirma o rapaz. A mulher que atormentava a mente do rapaz com palavras ofensivas se chamaria Natália.
Em outubro, a situação de Gabriel se agravou ainda mais. “Meu filho já não dormia. Ele acordava chorando no meio da noite, reclamando das vozes. Quando via TV, ficava dizendo que estava dentro do aparelho e ainda se zangava comigo porque eu não conseguia enxergá-lo na tela”, conta a mãe do jovem.
Às vezes, durante as crises, Gabriel se desesperava e saía correndo pela rua, aos gritos. “Ele permanecia apontando para o céu e dizendo que a mulher da voz estava escondida na estrela”, relata a mãe. Numa ocasião, ele tentou se matar com uma faca de cozinha. “Foi horrível. Passei um mês sem pregar os olhos, pois precisava ficar atenta para que ele não fizesse nenhuma besteira”, afirma.
Um outro paciente atendido pelo Caps-AD, de 26 anos de idade e também usuário de drogas, além de atentar contra a própria vida, tentou assassinar a irmã com uma faca. Aos 12 anos, ele fumava maconha. Dois anos depois, já bebia com frequência. Há cerca de um ano, teve sua primeira experiência com crack, fato que desencadeou os distúrbios psíquicos atuais.
Pais não sabem
Tanto no caso de Gabriel quanto no do jovem de 26 anos, os pais não faziam ideia de que os filhos estavam envolvidos com entorpecentes. “Só fui saber que ele usava drogas no dia em que o trouxe para a primeira consulta no Caps-AD”, afirma a mãe.
De acordo com Érika Paez, a situação é mais frequente do que imagina o senso comum. “Muitas vezes, a família nem imagina que o filho foi buscar ajuda especializada contra as drogas”, afirma. Hoje em dia, Gabriel faz tratamento com medicamentos antipsicóticos. Ele já não ouve vozes, porém, apresenta alguns efeitos colaterais em decorrência do uso da medicação.
Suas pernas balançam de maneira involuntária a todo instante, e ele apresenta certa dificuldade para expressar suas ideias. Gabriel ainda não tem condições de trabalhar ou morar sozinho. Somente aos poucos ele poderá ser liberado da medicação.
• Serviço
O Caps-AD funciona na rua Cussy Júnior, 12-27, Centro. Mais informações sobre o tratamento oferecido aos dependentes químicos podem ser obtidas pelo telefone (14) 3227-3287.
Rodrigo Ferrari
Jornal da Cidade de Bauru
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Pessoal as familias e os usuários pedem socorro, o sofrimento é muito grande, teremos que aguardar uma salvação divina??
ResponderExcluirSimone
Somente JESUS pode tirar um viciado do crack .Fui usuario durante 20 anos e so conseguir ser liberto atraves da palavra de DEUS.
ResponderExcluirProblemas com drogas? Nos podemos ajudar! Procure Narcoticos Anonimos. 0800-8886262
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