sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Jacarezinho: o Rio é o epicentro da violência urbana no mundo


Não se pode tapar o sol com a peneira. O Rio é o epicentro da violência urbana no mundo. É o retrato nítido de uma das mais violentas cidades do mundo, envolta numa sangrenta guerra urbana, de caráter permanente, onde o medo é um sentimento real e onde ao policial, muitas vezes, ao enfrentar o poder de fogo de perigosos traficantes, só resta matar para não morrer. O cabo PM morto no início da tarde desta quinta-feira, em defesa da ordem pública, em incursão na Favela do Jacarezinho — um dos quartéis generais do reduto do tráfico no Rio, onde oito traficantes também foram mortos — é o décimo policial morto no Rio desde 14 de janeiro, sendo seis policiais militares e quatro civis. Oito dessas dez mortes ocorreram em ação de defesa da sociedade.
A violência do Rio, num cenário de atuação de uma criminalidade eminentemente atípica, encastelada em morros e favelas, dotada de armas de guerra, pode ser medida pelo número de mortos nos últimos dez anos (em todo o estado), envolvendo um total aproximado de 60 mil homicídios, numa média anual de cerca de 6 mil assassinatos. Note-se que aí não estão incluídos os desaparecidos, além dos encontros de cadáver ou ossadas achadas sem que fosse possível determinar a causa mortis.
A Guerra do Vietnã, com mais de uma década de violentos combates, matou 57 mil soldados americanos. A Guerra do Iraque, com cerca de quatro anos de duração, matou até agora mais de 2.500 soldados americanos. Tais dados comparativos nos demonstram que, no Estado do Rio de Janeiro, os números da violência urbana são números de guerra.
Nos 60 mil homicídios ocorridos nos últimos dez anos, cerca de 1.500 foram assassinatos de policiais militares. A taxa de homicídios no estado em 2009, segundo o Instituto de Segurança Pública — o IBGE e o Cide contestam a metodologia empregada — foi de 34,6 para grupo de cem mil habitantes. Nova York, hoje, apresenta uma taxa de 6 mortes. São Paulo, onde se morre três vezes menos do que no Rio, comparativamaente ao total da população, registra uma taxa de homicídios de 10,9 para cada cem mil habitantes.
Muito há o que ser feito, portanto, em termos de inteligência, ação e trabalho policial integrado. Há muitas armas e drogas a serem apreendidas, e perigosos bandidos a serem trancafiados. Por enquanto, o Rio é o epicentro da violência urbana no mundo. Bagdá é aqui. A diferença é que lá existe a possibilidade do fim do conflito pela via diplomática. Aqui, só o trabalho constante da força policial do estado, em ação de polícia pró-ativa, associado à inserção social, serão capazes de afastar o medo e melhorar níveis de segurança pública. O preço da liberdade é a eterna vigilância.

Milton Corrêa da Costa é tenente-coronel da PM do Rio na reserva

Jornal Extra


Casos de Polícia e Segurança

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