segunda-feira, 1 de março de 2010

A importância da família na estruturação da personalidade


Os pais, primeiros objetos de desejo serão aqueles que haverão de desempenhar funções, se colocar em posição de referência. O que prepondera são as representações desde o simbólico. A família vem, pois, estruturada nos significantes Nome-do-Pai e Desejo da Mãe. São eles que, formando a metáfora paterna (Lacan), vão operar no simbólico.
A família merece nota de especial relevância pelo fato de o ser humano, após o rompimento do cordão umbilical, depender exclusivamente de outro da mesma espécie para se humanizar, pois é o “único ser da natureza que nasce desarvorado, isto é, sem poder sustentar-se nem sequer engatinhar ou tatear em busca de alimento como o faz um filhote de cachorro”. A falta de maturidade biológica e psíquica e o desamparo do nascimento soterram qualquer hipótese de sobrevivência, se entregue o neófito à natureza.
Decorrência lógica desta inequívoca dependência é que, se não for assistido, acolhido, protegido, alimentado, abrigado por agente exterior, inevitavelmente perecerá, sua vida terá sido por demais efêmera: “o sujeito tem de aceitar como condição indispensável da vida esta extrema dependência inicial que marcará para sempre seu desenvolvimento psicológico”. Com efeito, a família tem de funcionar biologicamente na salvaguarda da sobrevivência do infante, para mais que a mera reprodução, dispensando os cuidados necessários à sustentação existencial. É ela o principal eixo de estruturação da pessoa.
Fundamental, então, é pertencer a alguém, para ter-se alguma possibilidade de ser alguém, de sair da natureza e poder encontrar a civilização no dobrar da esquina. Na família esta experiência carece ser alimentada continuadamente, pelo estímulo da sensorialidade, pela preservação e difusão da história e memória daquele grupamento, pela transmissão das experiências acumuladas e pela vinculação psíquica.
“Se não tem um bom pai, é preciso arranjar um” já o disse Nietzsche, a antecipar um pouco do sentido e repercussão do abandono, da indiferença e da negligência. Eleva-se, assim, o patamar de reverência aos vínculos a serem formados entre pais e filhos, desde o princípio, os mais sólidos possíveis, para a sobrevivência inicial e para suportar as ventanias da etapa juvenil. Identificação com os cuidadores e sentido de si mesmo são os fios-condutores da energia para as ligações relacionais futuras.
Para o pleno e sadio desenvolvimento da criança é imperioso que ela sinta que é querida, estimada, amada, desejada e aceita pela sua principal fonte de proteção: os pais. Afinal, é deles a responsabilidade por fornecer condições para uma boa estruturação da personalidade e pela formatação de um ‘self’ positivo. A família amorosa encaminha adultos seguros, confiantes e corajosos. Pessoas valorizadas enfrentam com melhor desenvoltura as dificuldades, as frustrações e as perdas de jovens enjeitados, pouco investidos, negligenciados, que podem se travestir em maiores imaturos, fracos e perturbados na psique.

André Luis de Moraes Pinto/Juiz da Vara das Famílias de Lajeado
Gazeta do Sul

Foto: Gonçalo Afonso Dias - Olhares.com

3 comentários:

  1. È muito boa essa matéria,realmente tudo isso faz sentido,nós temos que parar pra pensar nas origens das coisas e não aceitar tudo do jeito que é ou parece ser....!

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  2. Disse tudo,Parabéns ao autor desse artigo.

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  3. Obrigada por visitar o blog. Talvez também se interessem por:

    Anjos e Guerreiros: A importância da família na estruturação da personalidade
    http://anjoseguerreiros.blogspot.com.br/2010/03/importancia-da-familia-na-estruturacao.html

    Abraços
    Carmen e Maria Célia

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