A violência é um fenômeno antigo, portanto, acompanha as civilizações e recebe influências culturais. Fatos que antes podiam ser considerados fenômenos normais ou sofridos em silêncio, entre quatro paredes, hoje, são situações consideradas de violência e causam indignação na sociedade. O estupro marital, o abuso de crianças e o assédio no trabalho são exemplos dessas novas categorias de violência passíveis de punição na atualidade.
Prova dessa influência da cultura no fenômeno da violência, o incesto, que não é visto como crime em algumas sociedades, esclarece a psicóloga Elaine Marinho. Admite que o machismo, herança da sociedade patriarcal, influencia grande parcela de casos de violência ainda hoje. Outro fato importante é compreensão da sexualidade infantil, no século XIX. O fato tirou o sono de pais, médicos e professores que passaram a vigiar os pequenos.
Na atualidade, as crianças são consideradas objetos sexuais e vítimas potenciais até mesmo dos próprios pais e cuidadores mais próximos.
A psicóloga Elaine Marinho, concorda: “Antes, esses casos ficavam entre paredes e não eram divulgados por vergonha ou por ser considerado como algo normal”. Hoje, “esses casos são apresentados, por conta disso a sociedade já está mais ciente de seus direitos e começa a denunciar”.
Elaine Marinho denuncia casos de violência cometidos no Nordeste que possuem raízes no machismo que “autoriza” esse tipo de crime. No entanto, revela: “Isso não quer dizer que não existam casos desse tipo em outras regiões do País”.
”A violência é uma imposição“
Helena Damasceno – Psicóloga
A sutileza e a astúcia do agressor sexual é de tal forma que faz a vítima se sentir culpada. “Mas não temos culpa e nem somos vulneráveis porque queremos. A violência é uma imposição”, desabafa. O sofrimento físico e psíquico por ter sentido na própria pele os horrores do abuso sexual dos cinco aos 20 anos de idade, na própria família, deixou cicatrizes, mas que foram amenizadas. Após um trabalho terapêutico, a arte e a literatura serviram de fio condutor para “resignificar” a sua experiência de vida.
No livro “Pele de Cristal”, que prefere definir como resultado de um processo psicoterápico, conta como conseguiu resignificar a experiência do abuso vivido durante parte de sua vida.
“Hoje, aos 33 anos descobri que não tenho culpa e nem cometi crime algum”. Num tom leve, porém, firme, fala deste processo. O objetivo não é fazer com que pessoas que ainda teimam em esconder o lixo da violência sexual embaixo do tapete, não tenham medo.
“O abuso sexual não pode ser banalizado”, diz, ao mesmo tempo que alerta: este “outro” ou o “monstro” pode ser o tio, padrasto ou pai que coloca a sobrinha, a enteada ou a filha no colo.
Diário do Nordeste
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