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sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Bullyng: Punição na dose certa para agressores
Caso em escola recifense gera discussão sobre medidas para frear violência Pessoas com pouca empatia, oriundas muitas vezes de famílias desestruturadas e com chances de se tornarem adultos com comportamentos anti-sociais. Assim os especialistas definem os autores do bullying (agressão física ou psicológica praticada continuamente entre colegas).
No Recife, o espancamento promovido por três adolescentes de uma escola particular contra um grupo de 10 colegas levantou a polêmica. Qual a dose certa de punição para frear a ação violenta dos agressores? Em Fernandópolis, a 553 quilômetros de São Paulo, a Justiça determinou que dois adolescentes de 15 e 16 anos fossem internados na Fundação Casa (antiga Febem) por terem agredido um garoto de 10 anos com pontapés em uma escola estadual da cidade. A decisão é considerada inédita.
Diante da denúncia de oito pais de alunos que procuraram a Gerência de Polícia da Criança e do Adolescente (GPCA), na última quarta-feira, para denunciar os espancamentos, o delegado Thiago Uchôa disse ser contra colocar na mesma unidade jovens envolvidos em assassinatos, tráfico de drogas ou assalto com alguém que pratica bullying. "Acho que a medida mais adequada seria a prestação de serviço à comunidade, por exemplo. Mas temos que avaliar cada caso. Há alguns jovens que, pelo tipo de comportamento, poderiam ser internados em unidades fechadas para adolescentes".
Para o pediatra Lauro Monteiro, especialista em bullying e presidente do Observatório da Infância, no Rio de Janeiro, colocar em regime fechado nunca é a solução correta nesses casos. "Prender não previne o bullying. O que deve acontecer é que a Justiça deve ir contra a escola. Há vários casos de pais de alunos vítimas que acionaram a Justiça contra o colégio por danos morais", informou. Em Ceilândia, no Distrito Federal, uma escola foi condenada pela Justiça a pagar indenização a uma família que acusou a instituição de não tomar providências para resguardar o filho das frequentes agressões que sofria dos colegas.
Para Lauro Monteiro, a maior parte da falha está na escola, que não preveniu e também não detectou o problema, mas também nas famílias, que não perceberam o comportamento da criança, seja ela a agressora ou agredida. "Assim como a vítima precisa de atendimento psicológico, o autor das agressões também precisa", alertou. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê seis medidas sócio-educativas para adolescentes em conflito com a lei: advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, inserção em regime de semiliberdade e internação em estabelecimento educacional.
Ontem, um dos três adolescentes acusados de espancar os colegas em uma escola religiosa do Recife prestou depoimento na GPCA. "Ele falou que encarava tudo como uma brincadeira e que todos os meninos participavam", informou o delegado Thiago Uchôa. O jovem tem 14 anos e foi à polícia acompanhado do pai. "O pai dele disse que é contra a postura do filho e acrescentou que ele deve pagar pelo que fez", adiantou o delegado. Ontem, outros pais de alunos vítimas estiveram na GPCA para depor. Segundo Uchôa, os outros dois jovens acusados de liderarem as agressões devem prestar depoimento na semana que vem. Um deles, também com 14 anos, já foi transferido da escola pela mãe. O Diario tentou entrar em contato novamento com o colégio onde teriam acontecido os espancamentos, mas novamente não obteve retorno das ligações.
Tire suas dúvidas
De que maneira os alunos se envolvem com o bullying?
Os autores são, comumente, indivíduos que têm pouca empatia. Frequentemente pertencem a famílias desestruturadas, nas quais há pouco relacionamento afetivo. Seus pais exercem uma supervisão pobre sobre eles, toleram e oferecem como modelo para solucionar conflitos o comportamento agressivo ou explosivo. Os alvos são pessoas ou grupos que são prejudicados ou que sofrem as consequências dos comportamentos de outros e que não dispõem de recursos, status ou habilidade para reagir ou fazer cessar os atos danosos contra si. São, geralmente, pouco sociáveis. Um forte sentimento de insegurança os impede de solicitar ajuda. São pessoas sem esperança quanto às possibilidades de se adequarem ao grupo. A baixa autoestima é agravada por intervenções críticas ou pela indiferença dos adultos sobre seu sofrimento. Alguns creem ser merecedores do que lhes é imposto. Têm poucos amigos, são passivos, quietos e não reagem efetivamente aos atos de agressividade sofridos. Muitos passam a ter baixo desempenho escolar, resistem ou recusam-se a ir para a escola, chegando a simular doenças. Trocam de colégio com frequência, ou abandonam os estudos. Há jovens que, em depressão, acabam tentando ou cometendo o suicídio.
E o bullying envolve muita gente?
A pesquisa mais extensa sobre o assunto, realizada na Grã-Bretanha, registra que 37% dos alunos do primeiro grau e 10% do segundo grau admitem ter sofrido bullying pelo menos, uma vez por semana. Os meninos, com uma frequência muito maior, estão mais envolvidos com o bullying, tanto como autores quanto como alvos. Já entre as meninas, embora com menor frequência, o bullying também ocorre e se caracteriza, principalmente, como prática de exclusão ou difamação.
Quais são as consequências do bullying sobre o ambiente escolar?
Quando não há intervenções efetivas contra o bullying, o ambiente escolar torna-se totalmente contaminado. Todas as crianças, sem exceção, são afetadas negativamente, passando a experimentar sentimentos de ansiedadee medo.
Fonte: Observatório da Infância
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