terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

‘Acordei meio sedada, e o Dr. Sacana estava em cima de mim’


de uma leitora

Por vergonha e medo, não procurei veículos de comunicação durante essa cascata de acusações de abuso sexual contra o Dr. Roger Abdelmassih. É só o Ministério Público que tem a violenta verdade pela qual passei, registrada no seu processo de trocentas páginas contra este doutorzinho.
Agora acho que é hora de falar para que todos saibam de mais um caso do nosso algoz e também para que as pessoas fiquem mais perplexas diante da mulher que decidiu se tornar a nova Sra. Abdelmassih.
Há 6 anos, procurei a famosa clínica Abdelmassih, hoje dita clínica dos horrores, para fazer um tratamento de fertilização. Meu marido tinha baixa contagem de esperma. A fertilização, portanto, teria que ser feita externamente, para que depois o embrião fosse implantado em meu útero.
Escolhi a tal clínica pela fama que o Dr. Roger tinha no país, pela credibilidade que ele passava nos programas de TV e, acima de tudo, pela esperança que ele deu a mim e ao meu marido, no dia da nossa primeira consulta.
Depois de literalmente ter nos convencido a vender nosso carro para pagar o tratamento, fazendo terríveis perguntas, como “Vocês querem um filho ou não querem?”, “O que vale mais, um carro ou um filho?”, saímos da clínica com duas grandes certezas: a de que, sim, iríamos vender o nosso carro e a de que daquele lugar sairia o nosso tão esperado bebê.
O custo subiu bastante perto do que foi combinado, pois tivemos que fazer exames extremamente simples, mas curiosamente extremamente caros e ainda tomar na clínica medicamentos, que tinham custo à parte e bastante alto, além dos próprios estimuladores de ovulação.
Literalmente nos enforcamos, mas estávamos certos de que valeria a pena. De que através das “sagradas” mãos do Dr. Roger nasceria nosso bebezinho que embalaríamos com amor, para quem cantaríamos musiquinhas de ninar e que realizaria nossos sonhos há tanto tempo pendentes e sofridos.
O sonho durou pouco e transformou-se rapidamente num enorme pesadelo. A primeira tentativa de inseminação fracassou. Não deu em nada, o que foi muito frustrante, mas que fazia parte do risco neste tipo de tratamento.
Erguemos a cabeça, tomei inúmeras injeções de hormônios novamente, engordei feito uma pipa por causa da hiper estimulação (o que era super frequente na clínica) e acabei com o meu humor em função da alta dose de hormônios misturada com a ansiedade, mas continuei forte e firme, disposta a fazer inúmeros tratamentos, se fosse necessário, para conseguir o meu bebê. Afinal, o Dr. Roger nos prometia isso e, não sei bem o porquê, ingenuamente acreditávamos nele, confiávamos nele e depositávamos toda a nossa fé em suas mãos.
Pois quando fui sedada nesta segunda tentativa, com o objetivo de retirar os meus óvulos, que veio a grande surpresa.
Entrei na sala de cirurgia e deitei-me otimista numa cama. Como meu marido estava fora da cidade, fui acompanhada pela minha irmã, que ficou me aguardando na recepção lotada, do Dr. Sacana.
Fechei meus olhos sorrindo, crente de que caminhava rumo ao pote de ouro no final do arco-íris. E eis que acordei em numa outra sala (sala de recuperação), deitada numa outra cama, com o Dr. Monstro por cima de mim. Não entendi absolutamente nada e demorei alguns segundos para acreditar no que estava acontecendo.
- Como assim, ele? O Dr. Roger “montado” em cima de mim?
Ele beijava meu pescoço e minha boca, passava a mão no seio e entre minhas pernas. Estava com a calça abaixada e esfregava seu pênis no meu corpo – fico literalmente enjoada, só de me lembrar.
Afinal, o que era aquilo? O que estava acontecendo?
Com a pouca força que tive – ainda estava meio sedada – me levantei, afastando-o de mim. Ele olhou meu rosto fixamente, beijou a minha boca num impulso e se retirou da sala, me deixando ali sozinha.
Essa violência me tirou o chão. Me arrancou, bruscamente, todo o meu doce sonho, a minha esperança. Aquele homem nojento, aquela celebridade tão conhecida e bem falada, estava a ponto de me estuprar.
Saí da clínica como se sai de um incêndio. Corri com a mão na barriga, pois sentia muita dor. Demorei para encontrar a minha irmã, pois como já disse, naquela época a clínica vivia lotada de pessoas desavisadas como eu. Quando a vi, puxei-a pelo braço e corri daquele lugar. Contei para ela durante o caminho o que havia acontecido e ficamos as duas quietas e aterrorizadas por horas e horas. Nunca mais pisei naquele inferno.
Na época fiz um BO, que não me ajudou em muita coisa. Como todas as outras vítimas dizem, era a minha palavra contra a dele – o célebre, o famoso, o amigo de fulano de tal, o milionário e poderoso Roger Abdelmassih.
Demorei todos estes anos para entender que aquele Dr. Podre era um estuprador em série, e que eu era apenas uma das suas centenas de vítimas.
Hoje estou unida a todas essas outras mulheres corajosas e vitoriosas, em busca de um mínimo de justiça. O que conseguimos até agora já me dá muita satisfação. Nem logo a clínica dos horrores possui mais. Será que ainda está funcionando?
ODEIO esse velho com todas as minhas forças. Ele infelizmente ainda está no meu subconsciente e sonho com ele com frequência. São sempre pesadelos horríveis, onde ele aparece com um revólver apontado para a minha barriga. Foi o que ele fez. Matou meu sonho de ser mãe.
Com as outras vítimas e simpatizantes, quero compartilhar. Com os “protetores” desta besta, não vou bater boca. Tudo que tinha para dizer está dito. O resto, infelizmente, ainda não tenho como por para fora. São cicatrizes eternas que só outras vítimas de situações similares poderão entender.
Conto com a justiça para aliviar a minha dor. Conto com a justiça para aliviar a dor de todas as outras vítimas e de nossos familiares.

Agradeço ao Paulo pelo espaço para me colocar.


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