sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

CRM dá 10 dias para médicos explicarem briga em sala de parto no Mato Grosso do Sul


CAMPO GRANDE - O Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul (CRM/MS) abriu sindicância e estipulou prazo de dez dias para que os médicos que disputaram o parto de um bebê em Ivinhema, cidade a 293 quilômetros de Campo Grande, apresentem defesa preliminar. Na terça-feira, os médicos discutiram e se agrediram ao disputar a realização do parto de Gislaine de Matos Rodrigues, de 32 anos. A briga aconteceu na frente da paciente, que teve que ser transferida de sala. O trabalho de parto só foi retomado uma hora e meia após o incidente e o bebê acabou morrendo.
O CRM/MS assumiu a investigação do caso para apurar responsabilidade. Caso fique comprovada a culpa, os médicos podem ser advertidos ou até mesmo terem o registro cassado. Um inquérito policial também está em andamento e foi registrado como morte a esclarecer pelo pai do bebê, Gilberto de Melo Cabreira, também de 32 anos.
- A minha mulher pediu pelo amor de Deus para que eles (os médicos) ajudassem no parto e com a briga ela ficou com medo do bebê cair da maca no chão. Aí o bebê que já estava em processo de coroação, voltou pra dentro - afirma Gilberto.
Ele conta que nos últimos três meses a mulher fez o pré-natal com o médico Orozimbo Ruela de Oliveira Neto, de 49 anos, e que por ter adquirido confiança solicitou que ele fizesse o parto. O médico não estava de plantão no dia, mas se prontificou a fazer o trabalho sem cobrar nada. Na segunda-feira à noite, ele e a equipe de enfermagem já estavam na sala de parto quando o médico Sinomar Ricardo, de 68 anos, entrou no recinto e começou a brigar com o colega de profissão, já que ele era o plantonista e não gostou que o outro estivesse atendendo a paciente. Ricardo expulsou Oliveira Neto, que retornou chutando a porta da sala e começou a agredir verbalmente e fisicamente Ricardo.
Segundo Gilberto, a esposa dele contou que, depois disso, Oliveira Neto foi para a sala de atendimento dele, que fica próximo à recepção, e Gislaine de Matos Rodrigues, levada para outra sala, onde teve que se submeter a uma cesárea para que o bebê pudesse nascer.
- Minha filha deveria nascer por volta das onze e quinze da noite de segunda-feira e só nasceu a uma e quinze da madrugada de terça, já morta. Tudo por causa desse fato horroroso - lamenta o pai da criança.
Um dos profissionais deixou a cidade logo depois do ocorrido e desmentiu o relato feito pelo pai do bebê à Polícia Civil. O outro médico envolvido na briga saiu da cidade e até esqueceu a bagagem no hotel. A reportagem da TV Morena, afiliada da Rede Globo, entrou em contato com ginecologista e obstetra Sinomar Ricardo, 68 anos, um dos médicos envolvidos no caso. Ricardo viajou para Campo Grande logo depois do incidente, pois segundo ele, a diretora do Hospital Municipal de Ivinhema, Dirce Minga, disse que a vida dele correria risco caso permanecesse na cidade.
O obstetra disse que estava na sala de cirurgia no momento do parto e que o médico Orozimbo Ruela de Oliveira, 49 anos, entrou na sala.
- Ele já chegou chutando a porta, tentei pegar umas coisas que estava no chão e ele continuou me agredindo - disse Ricardo, acrescentando que o colega é clínico geral e não poderia conduzir o parto, já que o especialista estava presente.
Ricardo disse que após o ocorrido, a médica Elza Maria, mulher dele, acompanhou o parto do bebê. Elza relatou ao marido que viu quando Orozimbo Ruela colocou dois comprimidos na vagina da paciente. Para Sinomar Ricardo, o medicamento era Cytotec, remédio de venda proibida no Brasil e utilizado em práticas abortivas. Ainda segundo ele, a mãe não foi informada que a medicação seria utilizada no parto.
Sinomar Ricardo disse que a secretária de Saúde de Ivinhema, Sônia Garção, e a diretora do hospital pediram que ele não fizesse o boletim de ocorrência.
- Segunda ela, isso poderia sujar a imagem do hospital - disse o obstetra.
Sônia nega que isso tenha ocorrido.
- Ele não fez o boletim de ocorrência por que não quis, os policiais estavam lá a disposição dele - relata a secretária. Gislaine Rodrigues mantém o relato feito pelo marido à Polícia Civil.
Gislaine confirma que dois comprimidos foram introduzidos, mas não soube dizer qual o nome do medicamento.
- Os comprimidos pareciam que estavam corroendo por dentro, comecei a sentir muita dor e liguei para o meu esposo - disse Gislaine.
A reportagem da TV Morena tentou entrar em contato com o médico Orizombo Ruela, também envolvido na briga, mas ele não foi encontrado no hotel em que se hospedou quando começou a trabalhar no hospital, há quatro meses. Os dois médicos já foram dispensados pela prefeitura e não prestam mais serviço na rede pública de Ivinhema.
O laudo da necrópsia tem previsão de sair no início da próxima semana. No atestado de óbito, segundo pai da criança, consta que o bebê teve sofrimento fetal e anoxia - falta de oxigenação no cérebro, decorrente da demora ou complicação do trabalho de parto.
O Cytotec é um remédio com comercialização e uso proibido desde 2005. O seu composto ativo, o misoprostol, é legalizado, com uso restrito nas unidades hospitalares credenciadas pelo SUS, sendo utilizado para a indução de partos que tem alguma complicação.
Os pais do bebê prestaram queixa na delegacia de polícia, que instaurou inquérito para apurar as responsabilidades. O delegado Lupérsio Degerone Lúcio informou que aguarda o laudo necroscópico que ele espera ficar pronto nos próximos dias. Parte da placenta também foi recolhida para biópsia, para que a polícia possa verificar se houve algum problema na formação do bebê e também se há indícios de problemas causados por algum medicamento.
De acordo com o delegado Lupérsio Degerone, o prontuário assinado pelo médico Humberto Ferraz, atesta que o bebê morreu em decorrência de "sofrimento fetal agudo". O delegado deve começar a ouvir os pais do bebê e as testemunhas da briga entre os médicos na manhã desta sexta-feira. Ele pretende ouvir Sinomar Ricardo e Orozimbo Ruela por último e a intenção é ter em mãos todos os exames periciais para definir quem será indiciado por ter provocado a morte da primeira filha de Gilberto e Gislaine, casados há três anos.
Os pais já tinham escolhido o nome da menina: Mibsan Rodrigues Cabreira. Durante o pré natal foi constatado que o feto era saudável e não apresentava complicações. A menina nasceu com 3,6 quilos e 47 centímetros.

Globo

2 comentários:

  1. Importante:
    Não é a primeira vez que o Hospital Municipal de Ivinhema, MS, torna-se palco de crimes inexplicáveis.

    Desta feita, dia 22 de fevereiro, dois médicos plantonistas, atracam-se em luta corporal no interior da sala de cirurgia, disputando e retardando um parto, levando à morte intra-uterina, menina que iria nascer. Os beligerantes, Orozimbo e Sinomar, nem ao menos tiveram seus nomes completos divulgados na imprensa, muito menos suas inscrições no Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul, se é que estes registros existem!

    Por outro lado e ainda nebulosa, uma ocorrência mais antiga: No dia 21 de março de 2007 o médico plantonista Miguel Angel Arévalo - já suspeito de crime anterior - matou sob emboscada o colega, também plantonista daquele hospital, Dr. Ademir Aparecido Pimenta dos Reis. Dizem que havia no pedaço a disputa de algo.

    Cabe, portanto à Diretoria do Hospital Municipal de Ivinhema, MS, de ora em diante, analisar o prontuário pessoal, profissional e policial de seus contratados. Com a palavra o Sr. Renato Camara, prefeito municipal!!!

    ResponderExcluir
  2. Carnaval, futebol, nepotismo, impostos, taxas, erosão e corrupção eleitoral. Ivinhema tem.

    Margarete Ribeiro

    ResponderExcluir

Verbratec© Desktop.