RIO - A coreografia é dada e, com ou sem música, os alunos a repetem, descobrindo novas possibilidades em seu próprio corpo. A dança, que está nas festas, nas ruas e até em quem não sabe dançar, traz a mistura da arte e do exercício físico – muitas vezes intenso – que pode agregar saúde, bem-estar e conhecimento do corpo a quem pratica.
O diretor da Sociedade Brasileira Medicina do Esporte, Samir Daher, destaca a dança como uma atividade física com grande gasto de energia e utilização da musculatura e articulações.
– É uma atividade aeróbica e focada em pontos específicos do corpo, que variam de acordo com o tipo da atividade – esclarece Daher. – Em geral, mexe com frequência cardíaca, musculatura esquelética e articulações, podendo ser uma boa aliada para se perder peso. Uma hora de dança pode gastar em média de 300 a 400 calorias. Dependendo do tipo e intensidade do movimento, até mais.
Para Daher, é preciso tomar alguns cuidados para evitar dores nos joelhos, coluna e tendinites, já que a atividade provoca um movimento repetitivo nas articulações, principalmente em pessoas acima do peso. O médico destaca a importância do alongamento, normalmente feito antes das aulas, e alerta que se a intensidade da prática de dança for muito intensa, exigindo horas de dedicação e mais de duas vezes na semana, é recomendada uma preparação da musculatura e do condicionamento. Afora isto, a dança pode ser praticada por pessoas de todas as idades e perfis.
– A dança, como atividade física, libera endorfina, substância relacionada ao prazer. – afirma o médico. – Ninguém dança de cara fechada e, normalmente, termina a atividade mais alegre. É um exercício que interliga mente e corpo.
Ao contrário do que muita gente pensa, não é apenas a dança de salão, facilmente encontrada nas noites cariocas, ou o balé clássico que estão entre as opções para uma atividade física que mexe com a alma e o corpo. O leque de atividades é variado, indo da dança contemporânea, às relacionadas à cultura popular brasileira, como jongo, maracatu e frevo, ou as com origem em rituais religiosos, como a dos orixás. Entre outras opções como danças flamenca, indiana, do ventre, hip hop e jazz.
A coordenadora da Escola de Dança da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Katya Gualter, explica que a dança de salão exige mais dos membros inferiores, tornozelos e pés, além de trabalhar a agilidade e coordenação motora. O balé também força mais os membros inferiores, tem os pés como base e melhora a postura. A contemporânea, segundo a professora, trabalha todo o corpo tendo várias bases de sustentação.
De acordo com Katya Gualter, a dança traz um diferencial frente a outras atividades físicas, que é a possibilidade de criação e necessidades do corpo. Para a professora, a dança é também uma atividade de desenvolvimento pessoal.
– Ao investigar o movimento, a pessoa passa a entender que ela não tem um corpo, mas ela é o seu corpo. Cada um traz o seu jeito de se movimentar que está ligado a pessoa. Entendendo o seu corpo, você passa a se entender melhor também – diz.
A coordenadora do centro de movimento Débora Colker, Maria Elvira Machado, comenta que a atividade ultrapassa a repetição dos movimentos. Segundo ela, a escola já recebeu, inclusive, alunos com deficiências por recomendação médica para desenvolvimento da coordenação e do sistema cognitivo.
– Às vezes, em uma academia, você não tem a consciência do movimento e uma integração com o ambiente e com as pessoas do local. Na dança, você muda a sua rotina, dependendo da música o aluno se envolve mais e tem uma interação mais intensa – comenta.
Sobre o aspecto de expressão corporal e sentimental da dança, a professora de dança flamenca, Izabel Moratti, complementa:
– Na dança flamenca, por exemplo, você tem os aspectos do feminino, da força, do orgulho. É passional, você vira, bate o pé, desestressa. Todos esses aspectos e sentimentos, além de você estar fazendo algo bonito, mexem com a autoestima da pessoa que pratica.
Indo além da dança a dois e dos bailes, a integração com um novo grupo e a autoestima também são pontos destacados na prática da dança.
– Eu já fazia balé clássico e comecei na dança contemporânea porque me identifico mais com os movimentos – comenta Stephane Deluca, com as faces rubras no fim da aula de dança contemporânea, do Centro de Movimento Débora Colker. – Na contemporânea você explora todo o espaço disponível, alterna com frequência entre lentidão e rapidez, tem mais contato com o chão. Além de mexer muito com a emoção. Quando chego aqui sinto que coloco tudo pra fora.
JB Online
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