Segundo PF, cresce a atuação feminina nesse tipo de crime; para os especialistas, elas são 10% dos pedófilos
Nos vídeos e fotos de pornografia infantil apreendidos pela Polícia Federal, um registro cada vez mais recorrente tem colocado em xeque o perfil do pedófilo clássico. Cerca de 30% do material investigado tem a presença de mulheres, participando ou produzindo cenas de abuso sexual. “Desde 2001, trabalhamos com esses casos e podemos dizer que a atuação feminina vem aumentando sensivelmente”, diz o chefe da Divisão de Combate a Crimes Cibernéticos da Polícia Federal, delegado Adalto Martins. “Isso faz cair por terra a idéia de que só quem pratica a pedofilia é o homem.”
Classificada como transtorno sexual, a pedofilia atinge mais homens. Especialistas estimam em quase 10% o número de pedófilas. Por razões que variam do machismo à ausência de sinais claros de abuso, casos femininos são de difícil identificação. A Operação Carrossel 2, no início deste mês, prendeu apenas três homens. “Não tivemos a ‘sorte’ de pegar nenhuma pedófila no momento em que enviava ou recebia filmes de pornografia infantil”, diz Martins.
A ONG SaferNet, que combate abusos na rede, recebe denúncias contra mulheres. A pedido do Estado, a entidade analisou 500 casos do primeiro semestre deste ano. Embora não tenha sido possível quantificar as envolvidas, foram apurados três casos emblemáticos: uma mulher fazendo sexo oral em um menino de 12 anos, um casal abusando de crianças e homens vestidos de mulher que molestam meninos e meninas. “Entre os casos envolvendo mulheres, constatamos que a maioria age com homens. Quando os pais abusam dos filhos, muitas vezes a mulher não é apenas cúmplice, também participa”, diz o psicólogo Rodrigo Nejm, diretor de Prevenção e Atendimento da ONG. “A literatura internacional aponta que, em geral, essas mulheres foram vítimas de abusos na infância.”
“A questão da pedofilia feminina é muito recente em termos de divulgação”, afirma a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Projeto Sexualidade do Instituto de Psiquiatria da USP. “Mas, a partir do momento em que ela entra no mercado e passa a ter uma vida mais social, adquire comportamentos do gênero masculino.”
ATENTADO AO PUDOR
Na semana passada, uma mulher de 27 anos foi indiciada em São Paulo por atentado violento ao pudor. Há dois anos, ela teria iniciado relação com um garoto que hoje tem 14 (mais informações nesta página). Em dezembro, a Justiça condenou o professor Carlos Ivancko, de 47 anos, e Ana Paula Silva, de 27, de Uberlândia (MG), a 54 anos de prisão por praticarem sexo com a filha dela, de 6 anos.
“É relativamente comum a participação de mulheres em pedofilia”, diz o promotor Carlos Fortes, curador da Infância e Juventude em Divinópolis (MG). “Em muitos casos, a mãe é conivente. Outras até agenciam filhos a pedófilos.” Martins também diz que há casos de agenciamento em São Paulo.
Por outro lado, destaca a psiquiatra Carmita Abdo, muitas mães se culpam por se sentirem atraídas pelos bebês. “Elas dizem: ‘tenho vontade de morder, de pegar’. Mas desse apego até chegar à conotação erótica há longo caminho”, diz. “A pedófila é aquela que tem no carinho a busca pela excitação. Esse ciclo não se desencadeia em carícia feita em uma criança que tem início e fim nela própria.”
O Estado de S. Paulo - 17/09/2008
Mariana Franco
Estadão
Nos vídeos e fotos de pornografia infantil apreendidos pela Polícia Federal, um registro cada vez mais recorrente tem colocado em xeque o perfil do pedófilo clássico. Cerca de 30% do material investigado tem a presença de mulheres, participando ou produzindo cenas de abuso sexual. “Desde 2001, trabalhamos com esses casos e podemos dizer que a atuação feminina vem aumentando sensivelmente”, diz o chefe da Divisão de Combate a Crimes Cibernéticos da Polícia Federal, delegado Adalto Martins. “Isso faz cair por terra a idéia de que só quem pratica a pedofilia é o homem.”
Classificada como transtorno sexual, a pedofilia atinge mais homens. Especialistas estimam em quase 10% o número de pedófilas. Por razões que variam do machismo à ausência de sinais claros de abuso, casos femininos são de difícil identificação. A Operação Carrossel 2, no início deste mês, prendeu apenas três homens. “Não tivemos a ‘sorte’ de pegar nenhuma pedófila no momento em que enviava ou recebia filmes de pornografia infantil”, diz Martins.
A ONG SaferNet, que combate abusos na rede, recebe denúncias contra mulheres. A pedido do Estado, a entidade analisou 500 casos do primeiro semestre deste ano. Embora não tenha sido possível quantificar as envolvidas, foram apurados três casos emblemáticos: uma mulher fazendo sexo oral em um menino de 12 anos, um casal abusando de crianças e homens vestidos de mulher que molestam meninos e meninas. “Entre os casos envolvendo mulheres, constatamos que a maioria age com homens. Quando os pais abusam dos filhos, muitas vezes a mulher não é apenas cúmplice, também participa”, diz o psicólogo Rodrigo Nejm, diretor de Prevenção e Atendimento da ONG. “A literatura internacional aponta que, em geral, essas mulheres foram vítimas de abusos na infância.”
“A questão da pedofilia feminina é muito recente em termos de divulgação”, afirma a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Projeto Sexualidade do Instituto de Psiquiatria da USP. “Mas, a partir do momento em que ela entra no mercado e passa a ter uma vida mais social, adquire comportamentos do gênero masculino.”
ATENTADO AO PUDOR
Na semana passada, uma mulher de 27 anos foi indiciada em São Paulo por atentado violento ao pudor. Há dois anos, ela teria iniciado relação com um garoto que hoje tem 14 (mais informações nesta página). Em dezembro, a Justiça condenou o professor Carlos Ivancko, de 47 anos, e Ana Paula Silva, de 27, de Uberlândia (MG), a 54 anos de prisão por praticarem sexo com a filha dela, de 6 anos.
“É relativamente comum a participação de mulheres em pedofilia”, diz o promotor Carlos Fortes, curador da Infância e Juventude em Divinópolis (MG). “Em muitos casos, a mãe é conivente. Outras até agenciam filhos a pedófilos.” Martins também diz que há casos de agenciamento em São Paulo.
Por outro lado, destaca a psiquiatra Carmita Abdo, muitas mães se culpam por se sentirem atraídas pelos bebês. “Elas dizem: ‘tenho vontade de morder, de pegar’. Mas desse apego até chegar à conotação erótica há longo caminho”, diz. “A pedófila é aquela que tem no carinho a busca pela excitação. Esse ciclo não se desencadeia em carícia feita em uma criança que tem início e fim nela própria.”
O Estado de S. Paulo - 17/09/2008
Mariana Franco
Estadão
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