terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Queixa de zumbido no ouvido atinge 28 milhões de brasileiros e tem tratamento


Imagine viver com um chiado no ouvido, um ruído de apito, de cigarra ou grilo, e o médico dizer que há pouco a fazer para acabar com a queixa. Esta é a realidade de pelo menos 28 milhões de brasileiros que sofrem de zumbido. Porém, especialistas no assunto garantem que o problema - causado por hábitos nocivos e doenças, desde ouvir som alto e abuso de cafeína a estresse e males digestivos e neurológicos - tem boa solução em 70% dos casos. E 10% se livram de vez dele. A melhora na qualidade de vida depende de um diagnóstico preciso, e muitas vezes difícil de fazer.
Uma dificuldade no diagnóstico e tratamento de zumbido é que há poucos médicos dedicados a estudar o sintoma, apesar da alta incidência em várias faixas etárias, inclusive crianças. Uma tese de doutorado que avaliou 506 alunos, de 5 anos a 12 anos, de escolas públicas e privadas, na cidade de Lageado (RS), mostrou que 27% relataram zumbido, e em 19% o sintoma incomodava. Brinquedos barulhentos e sequelas de otites foram apontados como possíveis motivos.
Nos Estados Unidos, de 15% a 17% da população vivem com alguma forma de zumbido ou ele é muito frequente, diz a otorrinolaringologista Tanit Ganz Sanchez, fundadora do Grupo de Pesquisa em Zumbido do Hospital das Clínicas e professora da faculdade de medicina da USP. Em idosos, o índice chega a 33%.
- O zumbido é extremamente comum. Se a pessoa não reclama, ele passa despercebido. Há pacientes que não se incomodam muito e evitam procurar médicos; outros têm dificuldade de explicar a queixa e há ainda quem prefira esconder o problema por medo de demissão - comenta Tanit, autora de "Quem disse que zumbido não tem cura?" (H Maxima Editora) e coordenadora do Grupo de Apoio a Pessoas com Zumbido (GAPZ), e de um instituto que leva seu nome: www.institutoganzsanchez.com.br .

Dieta é um dos fatores de risco
São muitas as causas de zumbido e a exposição a ruído alto, de curta ou longa duração, é uma delas:
- Isso é comum nos dias de hoje, principalmente entre jovens com seus MP3s. Aumentou o número de pacientes desse grupo. Antes de perceber alguma perda de audição, um primeiro sinal pode ser o zumbido - diz Tanit.
Ruído alto é apenas um dos fatores que pode desencadear zumbido. Erros alimentares, diabetes, gordura em excesso no sangue, abuso de cafeína, nicotina e álcool, hipertensão, doenças do coração e da tireoide são outros frequentes. Estresse e problemas psicológicos (ansiedade, depressão e fobias) também estão nessa lista. Daí a importância da consulta detalhada.
- Temos que olhar o indivíduo, não só o ouvido - afirma a médica. O zumbido é um problema que foi rotulado como sem solução, mas isso não é verdade. Todos os casos devem ser investigados porque o sintoma pode ser sinal de algo sem importância, que às vezes nem chega a incomodar, mas pode indicar dano mais grave - diz Tanit, lembrando que há um grupo do GAPZ, no Rio, que dá apoio a pacientes e funciona no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (da UFRJ) e atende pelo endereço eletrônico gapzrj@forl.org.br.
Às vezes, o problema é atenuado ou corrigido com mudanças de hábitos alimentares. A cafeína, por exemplo, é um excitante cerebral e o seu abuso pode desencadear um ritmo mais acelerado no ouvido, o zumbido. Já o excesso de gordura no sangue obstrui a artéria auditiva (muito fina e delicada), e o açúcar aumenta a produção de insulina, alterando a bioquímica do ouvido. Por sua vez, o jejum corta a energia do órgão.

Problema piora a qualidade de vida
Portanto, o tratamento dependerá da história clínica, do exame físico, do resultado de exames de audiometria (quase 90% das pessoas com zumbido apresentam algum grau de perda auditiva, e nem sempre percebem), entre outros.
- Em pelo menos 15% dos casos o zumbido dificulta a concentração e o sono. Em 5% piora tanto a qualidade de vida que o indivíduo se sente incapaz de levar vida social e profissional normal - diz.
Por mais que a avaliação médica seja bem realizada, há situações nas quais não se sabe a causa do zumbido. Isso porque os exames disponíveis nem sempre são sensíveis o suficiente para o diagnóstico. Mesmo nessas situações há alguma forma de aliviar a queixa.
Segundo a médica, nem todos os zumbidos indicam problema. Algumas pessoas percebem sons de baixíssimo volume quando em silêncio. Esse ruído é o próprio funcionamento da vida auditiva. É o que alguns chamam de "som do silêncio". Na dúvida, vale a pena consultar um especialista.

Antonio Marinho

O Globo

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