sábado, 12 de dezembro de 2009

Polícia investiga exploração de menores

Segundo denúncia anônima, adolescentes trabalhariam como garçons em festas e alguns deles sofreriam abuso sexual
Maíra Soares
Após receber uma denúncia de exploração trabalhista e sexual de menores, membros do Conselho Tutelar de Bauru, Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) e Polícia Civil abordaram dois ônibus na quadra 27 da rua Bernardino de Campos, no Parque Viaduto em Bauru, na manhã de ontem. Os veículos levariam adultos e cerca de 20 adolescentes para trabalhar como garçons em festas promovidas por empresas do setor de eventos, entre elas a bauruense Ticomia, em diversas cidades do Interior.
Por segurança, os menores foram impedidos de viajar, levados ao Conselho Tutelar e entregues aos responsáveis. Três mulheres foram presas. A delegada titular da DDM, Luciana Claro Rodrigues, informou que abrirá inquérito para apurar a veracidade das acusações.
Segundo relato das vítimas ao Conselho Tutelar, os adolescentes, meninas e meninos de 15 e 16 anos, eram contratados por uma empresa que prestava serviços terceirizados representada por Getúlio Valentim, e receberiam R$ 40,00 por dia de trabalho como garçons.
A denúncia anônima feita na manhã de ontem aponta que, depois das festas, drogas e álcool seriam oferecidos aos menores e alguns deles seriam abusados sexualmente.

“São menores trabalhando, isso não poderia acontecer. Há uma ilegalidade em relação à legislação trabalhista, fora a denúncia de que, após as festas, elas seriam abusadas sexualmente”, diz Rodrigues.
Em entrevista à TV TEM, o empresário e ex-garçom Getúlio Valentim negou as acusações de assédio sexual, mas confirmou que empregava adolescentes irregularmente em sua empresa.
Equipes da Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise), Delegacia de Investigações Gerais (DIG) e do Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra) revistaram os ônibus e os pertences de todos os seus ocupantes, mas nenhum tipo de droga foi encontrada. Apenas um menor foi apreendido por possuir mandado de busca e apreensão.
Outros dois ônibus que levavam funcionários para festas contratados pela mesma empresa já haviam partido no momento da chegada da polícia. Os destinos dos veículos eram Ourinhos, Araçatuba, São Carlos e Sorocaba.
Três funcionárias maiores de idade, que estavam nos ônibus e preferiram não se identificar, confirmaram ao JC a natureza exploratória do trabalho e o emprego de menores, mas negaram o uso de drogas e o abuso sexual.
“A gente vai mesmo porque precisa, porque aquilo lá é trabalho escravo. Trabalhamos para uma festa de oito mil pessoas em São Carlos no fim de semana passado. Foi cansativo, cheguei a passar mal. Mesmo assim, pediram para eu continuar trabalhando”, alegou uma delas.

Convite

Uma mãe, que também preferiu permanecer no anonimato, conta que a filha de 15 anos e algumas amigas trabalharam em festas anteriores. Segundo ela, as meninas recebiam do contratante convite para ir ao motel.
“É um trabalho escravo, os meninos trabalham da hora que chegam até hora que saem e têm só cinco minutos para descansar. O que as meninas contam é que o ‘seo’ Getúlio chamava as meninas para ir para o motel”, relata.
A delegada da DDM afirma que agora o trabalho será de averiguar a veracidade das denúncias. “Por medida de segurança, impedimos os ônibus de sair com os menores. Agora vamos investigar se os fatos são verdadeiros ou não. Vou abrir inquérito para apurar a exploração de menores, o abuso sexual deles e o uso de álcool e entorpecente. Será investigado o senhor Getúlio Valentim, e também foi citado o nome de Cléber e da empresa Ticomia/Comiato”, afirma.
Maurício Pugliese, um dos proprietários da Ticomia, alega que a empresa é vítima do serviço terceirizado que contratou. “A verdade é que esse (trabalho de garçons) é um serviço terceirizado. Essa denúncia está sendo apurada e averiguada, mas não tem nada a ver com a Ticomia. É uma empresa que é contratada, terceirizada para contratar os garçons para a gente. Fiquei sabendo agora (ontem) que tinham alguns menores, para a surpresa nossa. A gente contratou uma empresa, e ele (Getúlio) é que estava errado”, diz.
Pugliese ainda alega que a empresa não permite trabalho de menores em seus eventos. “Quando a gente chega nos nossos eventos, fazemos essa conferência (checam os documentos para se certificar da idade das pessoas contratadas). Isso ocorreu antes de chegar no nosso evento. A gente não permite, de forma alguma, o trabalho de menor”, frisa.
Pugliese acrescenta que, na Ticomia, quatro adolescentes executam trabalhos internos por meio do programa “menor aprendiz”, nos setores de despacho operacional e área fotográfica.
“O ônibus onde foram encontrados esses menores de idade também iria transportar pessoas para trabalhar em cidades onde nós nem temos eventos agendados hoje (ontem), como Sorocaba, por exemplo”, acrescenta.

Fonte: Jornal da Cidade

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