SÃO PAULO - Artistas, frequentadores da Praça Roosevelt e amigos se reuniram em um ato de repúdio à violência na noite deste domingo no Espaço Parlapatões, na Praça Roosevelt, no centro de São Paulo. Textos sobre e de autoria de Mario Bortolotto foram lidos e as dezenas de pessoas que lotavam o local fizeram um minuto de silêncio pela recuperação do dramaturgo, que segue internado em estado grave na Santa Casa de Misericórdia.
Na madrugada de sábado, quatro bandidos invadiram Espaço Parlapatões, onde funciona teatro e bar, em uma tentativa de assalto. O dramaturgo Mário Bortolotto foi atingido por três tiros . As balas atingiram o tórax, acertando pulmão e coração, e o pescoço. Submetido a duas cirurgias, Bortolotto segue internado em estado grave na UTI da Santa Casa de Misericórdia. O dramaturgo está sedado e respira por meio de aparelhos. O ilustrador e músico Carlos Carcarah foi atingido na perna, mas não corre risco de vida.
Estiveram presentes ao ato o presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte), Sérgio Mamberti, os diretores de teatro Cacá Rosset e Celso Frateschi, o músico Branco Melo (dos Titãs), os atores Marcos Caruso e Gero Camilo, e o escritor Marcelo Rubens Paiva, entre outros.
- Mario Bortolotto é um símbolo dessa praça e vai continuar sendo por muito tempo. Muito do que aconteceu com a vida da Praça Roosevelt tem a ver com a história de Mario - disse Hugo Possolo, um dos fundadores do grupo Parlapatões, Patifes e Paspalhões.
O primeiro texto a ser lido foi escrito pela atriz Fernanda D'Umbra, ex-mulher de Bortolotto, que não pode estar presente na manifestação. "Mário tem o dom de agradar, mesmo sem querer. É impossível resistir ao teatro dele, a seus superheróis de ressaca e à mistura de humor e lirismo torto. Mário é para sempre e nada pode mudar isso".
- Todos os espaços dessa praça são para nós artistas como nossa sala de estar. Fomos vítimas de uma violência que poderia ter acontecido com qualquer pessoa em qualquer lugar. Não vamos ceder à ideia que esse é um lugar de desgraça. É um lugar de graça, de alegria, um símbolo da cidade de São Paulo e de como a presença da arte pode recuperar um entorno degradado - completou Possolo.
Ao longo de todo o ato, que reuniu cerca de cem pessoas na Praça Roosevelt, uma viatura da polícia esteve estacionada em frente ao Espaço Parlapatões.
Antes do assalto, os grupos de teatro com sede na Praça Roosevelt já reivindicavam a instalação de uma Base Comunitária da PM no local. "O teatro não vai se intimidar com a violência, muito menos se submeter aos bandidos, aos que querem a escuridão nas ruas, aos querem que o povo fique em casa, acuado", diz o manifesto no site dos Parlapatões.
- Além da vigília pela recuperação de Bortolotto, quisemos mostrar que a Praça Roosevelt é um espaço público, que pertence ao cidadão e não aos bandidos - disse Possolo.
Devido ao ato, está cancelada a apresentação da peça "O papa e a bruxa", para que elenco, artistas, produtores, técnicos e funcionários do teatro possam participar da manifestação. A partir de segunda, o Espaço volta a funcionar normalmente.
A polícia tenta identificar o assaltante que disparou contra Bortolotto. Imagens dele foram gravadas pelas câmeras de segurança do Espaço Parlapatões e divulgadas no fim da tarde deste sábado pela polícia (foto menor).
A invasão do Espaço Parlapatões ocorreu às 5h50m de sábado. Cerca de 20 pessoas estavam no local. Dois dos quatro bandidos renderam um vigilante e o levaram ao camarim, que fica no segundo andar. Enquanto isso, outros dois assaltantes ficaram na porta de entrada.
Segundo a polícia, Bortolotto reagiu e não obedeceu as ordens dos ladrões, que mandaram todos se deitarem no chão. O dramaturgo teria permanecido em pé e tentado evitar o assalto. Um dos bandidos atirou. Após os disparos, o grupo fugiu levando apenas um casaco e as chaves do vigilante.
Bortolotto frequentava a Praça Roosevelt quase diariamente.Ele é uma das figuras do teatro de vanguarda que reanimou a Praça Roosevelt, hoje um espaço tradicional do teatro paulistano. ( Leia também: Bortolotto: pop do teatro ao rock)
Decadente durante a década de 80, a praça foi revitalizada justamente quando grupos de teatro alternativo decidiram ocupar o local. Os bares vizinhos voltaram a atrair público e a praça voltou a ser um endereço procurado na noite paulistana.
Antes ocupada por prostitutas, traficantes e moradores de rua, a Praça Roosevelt começou a se transformar no que é hoje a partir da virada dos anos 1990 para os 2000. A companhia Os Satyros foi uma das primeiras a se instalar no local, atraindo jovens dramaturgos, diretores e atores teatrais, escritores, músicos e poetas.
Fonte: Globo
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