domingo, 11 de abril de 2010

Veteranos da tragédia no Haiti, bombeiros lutam para salvar vidas nas favelas


RIO - Desde segunda-feira que os bombeiros não fazem outra coisa senão prestar atenção no mais leve ruído nas áreas afetadas pelos deslizamentos no estado, à procura de sobreviventes. Durante quatro dias, O GLOBO acompanhou o trabalho de dois bombeiros da tropa de elite da corporação, o Grupamento de Busca e Salvamento (GBS), diferenciados pela cor laranja do uniforme. O major Rodrigo Bastos, de 34 anos, subcomandante do GBS do quartel da Barra, e o capitão Rafael Paiva, de 28 anos, foram escalados para as principais tragédias dos 106 deslizamentos registrados no Rio. Ambos contam também com a experiência que adquiriram nos salvamentos após o terremoto no Haiti, em 12 de janeiro deste ano.
Além da audição apurada, o major Bastos diz que a concentração em ambientes desfavoráveis e o destemor são qualidades para chegar aos sobreviventes. Esses fatores levaram o grupo a encontrar Rodrigo, um jovem que passou sete horas soterrado embaixo de três lajes e um corpo, no deslizamento do Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, na última terça-feira.
O cenário foi montado em fração de segundos, com o escoramento de cada laje, o que fez com que alguns bombeiros se embrenhassem por baixo delas, em espaços apertados, com o objetivo de levar o oxigênio até Rodrigo. Retirando pedra por pedra, finalmente os bombeiros conseguiram livrar a vítima, com suspeita de fratura na bacia.
Depois de acompanharem Rodrigo até a ambulância, a euforia tomou conta da equipe. A chuva não dava trégua e uma ração fria, como os militares chamam a refeição à base de sanduíches, foi servida dentro da ambulância. Uma senhora, moradora da favela, ofereceu café.
Mas a trégua durou pouco. Em seguida, a equipe do GBS foi acionada para outro ponto dos Prazeres, onde Marcus Vinícius Vieira França da Matta, de 8 anos, estava soterrado. A chuva intermitente fez com que, por volta de 18h30m, ocorresse outro deslizamento no local. Por pouco, bombeiros e repórteres não foram atingidos. As buscas foram interrompidas até o dia seguinte, mas Vinícius não resistiu.
- A gente fez tudo que pôde. Tentou reanimá-lo, mas não deu. A morte de uma criança mexe com a gente - lamenta Bastos.
Os olhos ficam marejados quando, depois de quase 68 horas de serviço, o major vê uma cena que o choca: o resgate dos corpos de uma senhora abraçada a uma criança de 5 anos, no Morro do Bumba, em Niterói, na quarta-feira. Era a terceira favela em que Bastos prestava socorro desde segunda-feira, quando assumiu o trabalho.
Somente na quinta-feira, Bastos retirou oito corpos no Morro do Bumba. Naquele dia, ele teve mais uma notícia ruim: Rodrigo, o jovem resgatado nos Prazeres, cujo sobrenome desconhecia, acabou morrendo no hospital.


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