Sou branco. Minha mulher é branca. Adotamos 3 crianças negras. Ninguém é capaz de imaginar as situações pelas quais passamos. Só quem as viveu, conscientemente, pode avaliar.
Quando entramos na fila de adoção, a assistente social (negra) tentou nos dissuadir da idéia de adotarmos crianças negras, alegando que “isso não dá certo”.
Na padaria do bairro (chiquezinha) se as crianças corressem na frente (frequentemente vestindo o uniforme da escola), logo eram barradas pelo segurança (precisei dar alguns “esporros” até que parassem com isso).
Voltando de férias da Bahia, avião com overbooking; o atendente da cia. aérea nos colocou num canto, de pé, ao lado da cabine do piloto. Várias pessoas (todas brancas) entravam e nós esperando. Perdi a paciência e juntei o sujeito pelo colarinho. “Tá me achando com cara de palhaço?”. Os lugares apareceram milagrosamente.
Na livraria do aeroporto a mulher à minha frente, na fila do caixa, protege a bolsa quando minha filha se aproxima (minha filha é linda e estava vestida como uma bonequinha, laço de fita no cabelo e tudo mais). Pensei: vale a pena estragar a viagem prá discutir com essa idiota? Deixei prá lá.
Festa de aniversário no kartódromo. Fila de meninos para entrar nos carros. Deixo meu filho na fila e vou fazer outra coisa. Volto meia hora depois e ele ainda está na fila. Pergunto: o que houve? Ele: vários meninos entraram e o tio manda eu esperar. Olho pro “Tio” e ameaço: se ele não entrar na próxima, chamo a polícia. Rapidinho aparece um kart.
Na escola (classe média alta, mensalidade cara), qualquer encrenca envolvendo vários meninos, logo sobrava para os “pretinhos”. Chamei o diretor às falas, ameacei processar e levar o assunto para a mídia. Resultado: a perseguição aberta cessou, mas nasceu a perseguição institucional (na prova de matemática, ainda que todos os cálculos estivessem corretos, perdiam pontos por erros de português). Troquei de escola e adotei definitivamente o estilo low profile.
Desisti? Não! Apenas decidi criar meus filhos para saberem driblar tais situações. Estudem mais, sejam os melhores da classe, comportem-se mais que seus colegas, sejam mais educados, enfim, tenham mais paciência que seu pai. Provem para vocês mesmos que são os melhores, não pelo fato de serem negros (e nem apesar de serem negros) Sejam melhores, pelo prazer de serem melhores, por méritos próprios. E só!
E se, no futuro, nosso país não tiver passado por uma mudança radical, que lhes permita viver em paz, que tenham estudado o bastante para encontrar uma vida melhor em qualquer outro lugar do mundo, onde as pessoas sejam valorizadas por seus dotes e qualidades, não importando a cor ou a origem. E onde haja menos idiotas. Em todos os sentidos.
P.S.: eu vivo repetindo: cachorro pode ter raça; gato pode ter raça; gente pode, no máximo, ter cor diferente. Raça? Somos todos da RAÇA HUMANA (ainda que muita gente se esforce para me convencer do contrário)!!!
Quando entramos na fila de adoção, a assistente social (negra) tentou nos dissuadir da idéia de adotarmos crianças negras, alegando que “isso não dá certo”.
Na padaria do bairro (chiquezinha) se as crianças corressem na frente (frequentemente vestindo o uniforme da escola), logo eram barradas pelo segurança (precisei dar alguns “esporros” até que parassem com isso).
Voltando de férias da Bahia, avião com overbooking; o atendente da cia. aérea nos colocou num canto, de pé, ao lado da cabine do piloto. Várias pessoas (todas brancas) entravam e nós esperando. Perdi a paciência e juntei o sujeito pelo colarinho. “Tá me achando com cara de palhaço?”. Os lugares apareceram milagrosamente.
Na livraria do aeroporto a mulher à minha frente, na fila do caixa, protege a bolsa quando minha filha se aproxima (minha filha é linda e estava vestida como uma bonequinha, laço de fita no cabelo e tudo mais). Pensei: vale a pena estragar a viagem prá discutir com essa idiota? Deixei prá lá.
Festa de aniversário no kartódromo. Fila de meninos para entrar nos carros. Deixo meu filho na fila e vou fazer outra coisa. Volto meia hora depois e ele ainda está na fila. Pergunto: o que houve? Ele: vários meninos entraram e o tio manda eu esperar. Olho pro “Tio” e ameaço: se ele não entrar na próxima, chamo a polícia. Rapidinho aparece um kart.
Na escola (classe média alta, mensalidade cara), qualquer encrenca envolvendo vários meninos, logo sobrava para os “pretinhos”. Chamei o diretor às falas, ameacei processar e levar o assunto para a mídia. Resultado: a perseguição aberta cessou, mas nasceu a perseguição institucional (na prova de matemática, ainda que todos os cálculos estivessem corretos, perdiam pontos por erros de português). Troquei de escola e adotei definitivamente o estilo low profile.
Desisti? Não! Apenas decidi criar meus filhos para saberem driblar tais situações. Estudem mais, sejam os melhores da classe, comportem-se mais que seus colegas, sejam mais educados, enfim, tenham mais paciência que seu pai. Provem para vocês mesmos que são os melhores, não pelo fato de serem negros (e nem apesar de serem negros) Sejam melhores, pelo prazer de serem melhores, por méritos próprios. E só!
E se, no futuro, nosso país não tiver passado por uma mudança radical, que lhes permita viver em paz, que tenham estudado o bastante para encontrar uma vida melhor em qualquer outro lugar do mundo, onde as pessoas sejam valorizadas por seus dotes e qualidades, não importando a cor ou a origem. E onde haja menos idiotas. Em todos os sentidos.
P.S.: eu vivo repetindo: cachorro pode ter raça; gato pode ter raça; gente pode, no máximo, ter cor diferente. Raça? Somos todos da RAÇA HUMANA (ainda que muita gente se esforce para me convencer do contrário)!!!
Luis Nassif
Muito verdadeiro. Parabéns
ResponderExcluiryvone
Parabens, a realidade ainda machuca muito perante tantos preconceitos, admiro muito a luta de pessoas descentes, boa sorte e que Deus ilumine a todos.
ResponderExcluirVeronica
Parabens, a realidade ainda machuca muito perante tantos preconceitos, admiro muito a luta de pessoas descentes, boa sorte e que Deus ilumine a todos.
ResponderExcluirVeronica