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domingo, 31 de janeiro de 2010
Médico que operou Lanusse Martins será indiciado por homicídio doloso
Delegada Martha Vargas entendeu que houve erro médico durante a realização de lipo em jornalista. Cirurgião responderá por homicídio doloso
O cirurgião plástico Haeckel Cabral Moraes, responsável pelo procedimento de lipoaspiração que matou a jornalista Lanusse Martins Barbosa, 27 anos, no começo desta semana, foi indiciado por homicídio doloso (quando se assume o risco de matar) pela delegada Martha Vargas, chefe da 1ª DP. Ela concluiu que houve erro médico no caso. O resultado da autópsia realizada no corpo da jovem, que foi divulgado ontem, mostra que houve a perfuração da veia renal direita de Lanusse durante a lipo. Com isso, ela teve hemorragia interna e consequentemente diversas paradas cardiorrespiratórias.
Segundo Martha Vargas, um anestesista teria alertado o médico da perda dos sinais vitais da jornalista, mas Haeckel não teria feito tudo o que deveria para salvar a vida da paciente. "Ele cometeu dois erros: o primeiro foi o de ter perfurado a cavidade abdominal de Lanusse e o segundo foi o de não abrir a paciente para amarrar a veia que estancaria a hemorragia. Ela poderia ter sobrevivido se tivesse feito isso", defendeu a delegada.
Lanusse morreu no último dia 25, na sala de cirurgia do Hospital Pacini, localizado na 715/915 Sul. Os legistas identificaram 15 incisões feitas pela cânula de lipoaspiração. Ao ter a veia renal lesionada pelo instrumento, Lanusse teria apresentado sinais como palidez, sudorese e sangue mais escuro. A equipe de profissionais só teria percebido que havia algo errado após virar a paciente de lado. "Nesse momento, ela teve uma queda abrupta de pressão e começou a ter várias paradas cardiorrespiratórias", explicou a delegada. Imediatamente foi aplicado medicamento na veia da jornalista e, durante 1h15, o cirurgião tentou reanimá-la com massagens cardíacas, mas isso fez o sangue jorrar mais rápido.
Conforme antecipou ontem o Correio, Lanusse perdeu cerca de dois litros de sangue, quase a metade do que existia no corpo dela. Segundo uma fonte do IML ouvida pela reportagem na quinta-feira, o rim direito da jornalista também foi perfurado. "Quando fizemos o exame no corpo identificamos que a cavidade do coração estava sem sangue", disse a médico-legista do Instituto de Medicina Legal (IML) Luciana Satie, que comandou a perícia e participou da divulgação do laudo ontem.
Sala fechada
Muito abalada, a família de Lanusse preferiu não falar sobre o resultado do IML. A reportagem também procurou ontem o cirurgião Haeckel Moraes no centro clínico do Sudoeste, onde ele tem um consultório, mas a sala estava fechada. No Lago Sul, na casa de uma tia do médico, uma empregada informou que ele não estaria em Brasília. Haeckel foi intimado a depor, mas alegou estar abalado emocionalmente. Na tarde de quarta-feira, ele apresentou atestado de 15 dias assinado por um psiquiatra.
Até agora, foram ouvidas sete pessoas da equipe que operou Lanusse. A 1ª DP tem 30 dias para concluir o inquérito e enviá-lo ao Ministério Público. A promotoria tem a opção de oferecer denúncia pelo homicídio doloso, conforme entende a Polícia Civil, culposo (sem intenção de matar) ou ainda decidir pelo arquivamento do processo. A pena para o homicídio doloso é de 6 a 20 anos de prisão e o culposo é de 1 a 3 anos, em caso de constatação de que houve imperícia ou negligência.
Sem processos anteriores
A constatação da Polícia Civil de que houve erro médico no caso da jornalista serviu de alerta para a população e chamou a atenção da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). Segundo o presidente da entidade, Sebastião Guerra, o que aconteceu com Lanusse Martins foi uma fatalidade. Segundo ele, o médico Haeckel Moraes é de uma família tradicional de cirurgiões do Triângulo Mineiro (MG), com mais de 16 anos de experiência no ramo de cirurgia plástica.
O médico também não responde a nenhum outro processo criminal. Ele é membro da SBCP. "Ele tem a melhor formação possível. Estamos consternados com o que aconteceu porque houve um acidente grave e letal", disse Sebastião Guerra. A SBCP analisa a suspensão do exercício da profissão de Haeckel junto ao Conselho Regional de Medicina (CRM). "Vamos nos inteirar dos fatos e criar normas para combater erros assim", destacou.
Protocolo
A Câmara Técnica de Cirurgia Plástica do Conselho Federal de Medicina (CFM) anunciou ontem a elaboração de um protocolo de segurança para cirurgia plástica. O documento será elaborado em parceria com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e irá oferecer orientações de indicações cirúrgicas, exames pré-operatórios, atendimento pós-cirúrgico, anestesia e condições do local. Esse protocolo tem for finalidade detalhar uma série de procedimentos que deverão ser adotados desde a primeira consulta até o pós-operatório. A estimativa é que esse projeto demore ainda cerca de cinco meses para entrar em vigor.
Mara Puljiz
Correio Braziliense
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