segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

COMO NEM TUDO É SÓ POLÍTICA, POR AQUI TB TEMOS NOSSOS PROBLEMAS.


O CRAVO NÃO BRIGOU COM A ROSA

Chegamos ao limite da insanidade da onda do politicamente correto.
Soube dia desses que as crianças, nas creches e escolas, não cantam
mais O cravo brigou com a rosa.
A explicação da professora do filho de um camarada foi comovente: a
briga entre o cravo - o homem - e a rosa - a mulher - estimula a
violência entre os casais. Na nova letra "o cravo encontrou a rosa/
debaixo de uma sacada/o cravo ficou feliz /e a rosa ficou encantada".

Que diabos é isso? O próximo passo é enquadrar o cravo na Lei Maria da Penha.

Será que esses doidos sabem que O cravo brigou com a rosa faz parte de
uma suíte de 16 peças que Villa Lobos criou a partir de temas
recolhidos no folclore brasileiro?

É Villa Lobos, cac...e!

Outra música infantil que mudou de letra foi Samba Lelê.
Na versão da minha infância o negócio era o seguinte: Samba Lelê tá
doente/ Tá com a cabeça quebrada/ Samba Lelê precisava/ É de umas boas palmadas. A palmada na bun..a está proibida. Incita a violência contra a menina Lelê.

A tia do maternal agora ensina assim: Samba Lelê tá doente/ Com uma
febre malvada/ Assim que a febre passar/ A Lelê vai estudar.

Se eu fosse a Lelê, com uma versão dessas, torcia pra febre não
passar nunca. Os amigos sabem de quem é Samba Lelê? Villa Lobos de
novo. Podiam até registrar a parceria. Ficaria assim: Samba Lelê, de
Heitor Villa Lobos e Tia Nilda do Jardim Escola Criança Feliz.

Comunico também que não se pode mais atirar o pau no gato, já que a
música desperta nas crianças o desejo de maltratar os bichinhos.
Quem entra na roda dança, nos dias atuais, não pode mais ter sete
namorados para se casar com um. Sete namorados é coisa de menina
fácil.

Ninguém mais é pobre ou rico de marré-de-si, para não despertar na
garotada o sentido da desigualdade social entre os homens.

Dia desses alguém [não me lembro exatamente quem se saiu com essa e
não procurei a referência no meu babalorixá virtual, Pai Google da
Aruanda] foi espinafrado porque disse que ecologia era, nos anos
setenta, coisa de vi..do. Qual é o problema da frase? Ecologia, de
fato, era vista como coisa de vi..do. Eu imagino se meu avô, com a alma
de cangaceiro que possuía, soubesse, em mil novecentos e setenta e
poucos, que algum filho estava militando na causa da preservação do
mico leão dourado, em defesa das bromélias ou coisa que o valha. Bic..a
louca, diria o velho.

Vivemos tempos de não me toques que eu magôo. Quer dizer que ninguém mais pode usar a expressão coisa de vi..do? Que me desculpem os paladinos da cartilha da correção, mas isso é uma tremenda babaquice.
O politicamente correto é a sepultura do bom humor, da criatividade,
da boa sacanagem. A expressão coisa de vi..do não é, nem a pau (sem
duplo sentido), ofensa a bic..a alguma.
Daqui a pouco só chamaremos o anão - o popular pintor de roda-pé ou
leão de chácara de baile infantil - de deficiente vertical . O crioulo
- vulgo picolé de asfalto ou bola sete (depende do peso) - só pode ser
chamado de afrodescendente. O branquelo - o famoso branco azedo ou Omo total - é um cidadão caucasiano desprovido de pigmentação mais
evidente.

A mulher feia - aquela que nasceu pelo avesso, a soldado do
quinto batalhão de artilharia pesada, também conhecida como o rascunho do mapa do inferno - é apenas a dona de um padrão divergente dos preceitos estéticos da contemporaneidade.

O gordo - outrora conhecido como rolha de poço, chupeta do Vesúvio, Orca, baleia assassina e bujão
- é o cidadão que está fora do peso ideal. O magricela não pode ser
chamado de morto de fome, pau de virar tripa e Olívia Palito.

O careca não é mais o aeroporto de mosquito, tobogã de piolho e pouca telha.

Nas aulas sobre o barroco mineiro, não poderei mais citar o
Aleijadinho. Direi o seguinte: o escultor Antônio Francisco Lisboa
tinha necessidades especiais... Não dá. O politicamente correto também
gera a morte do apelido, essa tradição fabulosa do Brasil.

O recente Estatuto do Torcedor quer, com os olhos gordos na Copa e
2014, disciplinar as manifestações das torcidas de futebol. Ao invés
de mandar o juiz pra pu..queop...u e o centroavante pereba tomar no
olho do c..., cantaremos nas arquibancadas o allegro da Nona Sinfonia de Beethoven, entremeado pelo coro de Jesus, alegria dos homens, do velho
Bach.
Falei em velho Bach e me lembrei de outra. A velhice não existe mais.
O sujeito cheio de pelancas, doente, acabado, o famoso pé na cova,
aquele que dobrou o Cabo da Boa Esperança, o cliente do seguro
funeral, o popular tá mais pra lá do que pra cá, já tem motivos para
sorrir na beira da sepultura. A velhice agora é simplesmente a "melhor
idade".

Se Deus quiser morreremos, todos, gozando da mais perfeita saúde.
Defuntos? Não. Seremos os inquilinos do condomínio Cidade do pé junto.


Luiz Antônio Simas (Mestre em História Social pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro e professor de História do ensino médio).

E-mail enviado pela amiga e colaboradora Sonia Maria C.
DiMarino

4 comentários:

  1. Gostei, muito boa. Até parece que a violência e agressividade sairam daí.
    Vamos parar pra pensar.

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  2. Saúde Não Tem Preço: Medicamentos gratuitos para hipertensão e diabetes
    Agora os brasileiros que sofrem com diabetes e hipertensão poderão ter acesso gratuito aos medicamentos para o controle destas doenças através do programa Saúde Não Tem Preço.

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    comunicacao@saude.gov.br ou www.formspring.me/minsaude

    Obrigado,
    Ministério da Saúde

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  3. Agradecemos, essa matéria já foi postada desde o dia que saiu a notícia.
    abçs
    Maria Célia e Carmen

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  4. Crianças ñ cantam mais...adolescentes e jovens agora só matam índio, incendeiam mendigos, espancam pessoas q nem conhecem, pelo simples prazer d fazer o mal.
    Enfim....vamos torcer p/ q nossos descendentes carreguem nas bagagens, princípios valiosos, mts passados por nós q cantávamos essas musiquinhas.
    Lucinha

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