segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Homofobia: o que leva alguém ao cúmulo de uma agressão?


Eles têm presença garantida em tudo o que se proponha a retratar o dia a dia da sociedade - seja como personagens em novelas ou participantes de reality shows. A 11ª edição do Big Brother Brasil, por exemplo, é a que traz o maior número de homossexuais e bissexuais: quatro (assumidos até agora), além da transexual Ariadna, que saiu na primeira semana. Enquanto isso, na novela das nove da TV Globo, Insensato Coração, o núcleo de personagens gays também cresce. Mas o aguardado beijo entre casais do mesmo sexo continua fora de cogitação, porque “o público não está preparado”, diz o autor Gilberto Braga. Na vida real, eles também conquistam seu espaço. Mesmo a passos lentos, eles já começaram a conquistar direitos legais semelhantes aos concedidos a heterossexuais, como a permissão para recorrer a técnicas de reprodução assistida para ter filhos e o benefício da previdência privada a seus companheiros. Ainda assim, à medida que os homossexuais se fazem mais presentes e assumidos - são 19 milhões no Brasil, segundo estimativa de grupos ativistas - parece crescer também a intolerância. E isso se reflete nos impressionantes casos de agressões contra gays e lésbicas - de acordo com o Grupo Gay da Bahia (GGB), a cada dois dias um homossexual é morto no país vítima do preconceito.
Porém, quanto mais casos surgem (confira os recentes abaixo), menos se explica o que leva uma pessoa ao cúmulo da agressão pela simples preferência sexual do outro. Um estudo feito pelo Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) aponta que esse comportamento pode ser despertado por uma espécie de autodefesa. “Essa agressividade pode ser uma resposta a uma sensação de incômodo, insegurança ou ansiedade desencadeada pelo tabu da homossexualidade”, explica Cristina Lasaitis, pesquisadora que coordenou o estudo Aspectos Afetivos e Cognitivos da Homofobia no Contexto Brasileiro, que foi tema de sua tese de mestrado. “Esses sentimentos devem ter maior influência no preconceito do que o ódio propriamente dito.”
O poder do grupo - E ao se sentir mais acuado ou receoso perante alguém considerado diferente, uma pessoa já intolerante pode transformar esse comportamento defensivo em violência, impulsionado principalmente pelo apoio de seu próprio grupo - basta ver que raramente um caso de agressão ocorre apenas entre duas pessoas. “Quando falamos de homofobia, geralmente colocamos em foco o relacionamento entre diferentes grupos e ignoramos a importância do fator intragrupo, no caso dos agressores”, salienta Cristina.
Por isso, a pesquisadora enfatiza que “o grupo tem um papel fundamental nas agressões”. Ela acredita que, sem o respaldo dos amigos, a chance de uma pessoa partir para a violência é muito menor, ainda que a vítima também esteja sozinha. E esta espécie de amparo, que lhe dá até a sensação de poder dividir a culpa, é visto como uma “vantagem” em ser homofóbico. “Durante a agressão, predomina um forte sentimento de confraternização, de pertencimento, de coesão de grupo, além da adrenalina natural do momento. É quase como um banquete, cabendo à vítima, ironicamente, o papel mais dispensável.”
Destruir o tabu - Para começar a mudar esse quadro, a pesquisadora entende que é essencial criminalizar a homofobia. “Além do instrumento legal para punir tais atos, isso criaria uma pressão simbólica contra a violência ao transmitir à sociedade a noção de que homofobia é crime”, destaca. Ao mesmo tempo, é muito importante trabalhar na desconstrução do tabu que envolve a homossexualidade, destruindo estereótipos e se preocupando em informar corretamente e de forma natural. “É preciso mostrar a todas as pessoas que a homossexualidade também está no mundo delas, presente na forma de familiares, amigos, vizinhos, colegas de trabalho, e que o respeito e a boa convivência é uma questão de cidadania.”
E a melhor forma de ilustrar esse tabu a que a pesquisadora se refere é lembrar exatamente de como as novelas retratam os casais gays, preocupando-se em deixar o romance apenas subentendido e nunca de forma explícita, como evitando o beijo para o qual “a sociedade não está preparada”. Para Cristina, está é “uma representação hipócrita", que traz a ilusão de que o assunto está resolvido. "Se não houver uma tentativa de habituar a população com a visão do romantismo homossexual, ele sempre será encarado como algo extraordinário, escandaloso.”


Veja

Um comentário:

  1. É mesmo uma coisa horrorosa.
    Mas é bom ficarmos atentos, porque há os que aprontam, mas se fazem de vítimas!

    Vejo homens gays assediando descaradamente homens heterossexuais, aí esses se irritam e acontece uma tristeza dessa... Mas nada justifica essa barbárie. O jeito é ignorar, ou ir à delegacia prestar um B.O. por assédio sexual... A pessoa não suja as mãos de sangue e o assediador se coloca no lugar dele.

    Mas claro que há casos e casos. Nem todos são assim. Tenho amigos e conhecidos gays que realmente, sabem se portar como qualquer pessoa civilizada, ser civilizado independe de orientação sexual...

    Há gays que são agredidos por nada!

    Isso tem que ser combatido, mas não com projetos de leis que beneficiam um grupo em específico. Se a lei é para todos, para que esse tipo de lei???

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