quinta-feira, 3 de março de 2011

Polícia conta com 40 homens para prender 150 mil foragidos


Divisão de Capturas da Civil de São Paulo tinha até um mês atrás 12 homens na unidade

Um dia após ter sua prisão temporária decretada, o ladrão de cargas Édson Bezerra de Gouveia, de 35 anos, um dos suspeitos de sequestrar, estuprar e matar a supervisora de vendas Vanessa de Vasconcelos Duarte, no último dia 12, esteve no apartamento da sua mulher, em Carapicuiba, para visistar os filhos. Mas não foi preso. E nenhum policial fazia tocaia em frente à sua casa - como as que são vistas nos cinemas - para capturá-lo.
Édson é apenas um dos cerca de 150 mil foragidos que estão sendo procurados no estado de São Paulo. E a Divisão de Capturas da Polícia Civil conta com apenas 40 homens no total para cumprir todos os mandados de prisão. Ou seja, são 3.775 foragidos por policial. Até um mês atrás eram apenas 12 homens na unidade. A reestruturação do departamento será um dos desafios do novo delegado da divisão, Waldomiro Milanesi, que assumiu o comando no último dia 20 de janeiro.
Milanesi já escolheu o seu alvo. A prioridade é prender acusados de crimes de grande repercussão, como Roger Abdelmassih, Mizael Bispo de Souza e Evandro Bezerra Silva . Mas o primeiro da lista, no site de procurados da Polícia Civil, é mesmo Édson Bezerra de Gouveia.
O cientista político Guaracy Mingardi, ex-secretário nacional de Segurança, disse que a equipe de capturas não é suficiente para correr atrás de todos os foragidos. "É preciso de uma divisão maior, com prioridades, várias equipes e um trabalho de inteligência", afirma. Para ele, a polícia precisa ser mais organizada para prender um foragido. "É preciso ter informações da família, fazer o rastro do dinheiro, se eles estão usando algum cartão, escuta telefônica, acompanhar os passos das pessoas mais próximas. É um trabalho mesmo de inteligência", recomenda.
O delegado da Divisão de Capturas disse que fará uma auditoria na lista dos 150 mil foragidos. Há mandados de prisão em aberto desde 1977. "A quantidade é alta? Sim, é. Mas pode não ser essa a nossa realidade operacional. Eu tenho que organizar para ir atrás. Muitos desses casos podem estar prescritos", acredita.
Para o delegado, um dos entraves está no tempo em que o mandado de prisão é expedido pela Justiça até chegar ao conhecimento da divisão. Esse prazo pode chegar a até dez dias. Mesmo em tempos de internet a comunicação ainda é feita por correspondência ou, nos casos mais urgentes, por fax. "Está sendo firmado um convênio entre a Secretaria de Segurança Pública e o Tribunal de Justiça. A intenção é que o juiz faça a emissão e a inclusão no sistema on-line", explica. Mas o termo de cooperação ainda está em fase de implantação, sem data para iniciar.
Segundo Milanesi, nos próximos dias o número de policiais da divisão chegará a 54. "Todo o efetivo das polícias Civil e Militar é também responsável pela captura. Recebemos os mandados de prisão e redistribuímos para a unidade territorial mais próxima, seja pela seccional ou a delegacia. É mais fácil criminoso ser capturado pelos policiais da cidade de onde ele foi condenado", diz.
A divisão também é responsável em cumprir a prisão em casos de pensão alimentícia, que são cerca mais sete mil procurados no total. "Às vezes precisamos cumprir essa prisão num prazo de até 48 horas, por determinação do juiz."
Na reestruturação da divisão de capturas, tanto a modernização do sistema de informática quanto a dos equipamentos de investigação serão os desafios para diminuir o número de foragidos.
"Começamos a utilizar medidas cautelares, com autorização da Justiça, para juntar mais informações e melhorar a qualidade das capturas. Ações que até então não eram representadas pelas autoridades policiais ao poder judiciário", diz Waldomiro Milanesi.


Evandro Gomes Correia Filho
O pagodeiro é acusado de matar a mulher Andréia Cristina Bezerra Nóbrega, que caiu do terceiro andar do prédio onde morava, em novembro de 2008. O filho do casal, então com 6 anos, também caiu, mas sobreviveu. De peruca e cavanhaque ele chegou a dar uma entrevista coletiva, em setembro do ano passado, quando já era foragido. Na sexta-feira o STJ manteve sua prisão preventiva.

Ademar Gomes, advogado de defesa:
"Ele se considera inocente e não vai se entregar. Ele poderia responder o processo em liberdade até ser julgado, pois, no momento ele não é uma ameaça e não causou embaraços para o processo."


Mizael Bispo de Souza
O advogado é acusado pela morte da também advogada Mércia Nakashima, sua ex-namorada. A prisão foi decretada em dezembro de 2010 e desde então ele é foragido. Na última quinta-feira, o STJ negou o pedido para que o processo fosse transferido de Guarulhos, na Grande São Paulo, onde a moça foi vista pela última vez, para Nazaré Paulista, onde o corpo de Mércia foi localizado, dentro de uma represa. Um dia antes da decisão do STJ, o Tribunal de Justiça de São Paulo negou habeas corpus para Mizael.

Samir Hadda Júnior, advogado de defesa:
"Ele não saiu do Brasil, disso tenho certeza absoluta. Mas ele não é um foragido. Ele está oculto a espera dos recursos que estão em julgamento. É uma decisão dele de não se entregar, pois ele se considera inocente."

Roger Abdelmassih
O médico, especializado em medicina reprodutiva, foi condenado a 278 anos de prisão. Ele é acusado de 56 estupros de pacientes em sua clínica. Após a condenação, pode recorrer em liberdade. Mas teve sua prisão preventiva decretada no mês passado. Está foragido desde então.

José Carlos da Silva, advogado de defesa:
"Não comento sobre o paradeiro. Não tenho conhecimento. Mas apelamos da decisão condenatória e esperamos a decisão do Tribunal de Justiça para o habeas corpus."


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