Testes conseguem detectar características específicas do HIV e identificar o tratamento adequado a cada paciente
Segundo o programa das Nações Unidas para Aids (Unaids), a epidemia já contaminou 33 milhões de pessoas no mundo, atingindo cada vez mais pobres e cada vez mais jovens. É verdade que desde 2001, o número de novos casos por ano caiu cerca de 10%. Foram 3,1 milhões de infecções contra 2,7 milhões em 2007. No Brasil, a epidemia de Aids está estabilizada em cerca de 30 mil novos casos por ano desde 2000. “A infecção pelo HIV, como se sabe, ainda não tem cura”, comenta o pesquisador Ricardo Sobhie Diaz, do Laboratório de Retrovirologia da Unifesp. “Mas a chegada de medicamentos de última geração possibilitou o controle da doença de forma mais personalizada, melhorando a qualidade de vida do portador.” Há quase 20 anos, quando um paciente recebia o diagnóstico de Aids era como se estivesse sendo condenado à morte. A expectativa de vida do portador não ultrapassava seis meses. Contudo, o início da terapia antirretroviral em 1987 promoveu uma mudança no conceito da doença. O tratamento feito pelas combinações de medicamentos – o chamado coquetel antiaids –, permitiu aos portadores viver mais e melhor, ter menos doenças oportunistas, reduzindo as internações hospitalares. Entretanto, com o passar do tempo, os pacientes apresentaram resistência aos medicamentos do coquetel. Isso porque o vírus HIV possui uma capacidade de mutação muito grande. “O HIV pode continuar a se reproduzir, mesmo que a pessoa esteja sob terapia combinada. Assim, o organismo pode apresentar uma nova população de HIV, resistente a uma ou mais drogas específicas”, explica o Dr. Diaz. Terapia ao vírus resistente O HIV pode usar duas “portas” para entrar nas células sadias – os co-receptores CCR5 ou CXCR4. No decorrer da infecção, o vírus apresenta afinidade por uma ou outra “porta” de entrada. No Brasil, milhares de pacientes em tratamento para o HIV têm resistência a um ou mais medicamentos do coquetel antiaids. Desse grupo, aproximadamente 40% a 60% são portadores do HIV que usa o co-receptor CCR5 como porta de entrada nas células. É exatamente nesse processo que o medicamento Celsentri (maraviroque), lançado recentemente, age no tratamento da Aids. O produto bloqueia o co-receptor CCR5, impedindo a entrada do vírus na célula. Para saber se o paciente é portador de HIV com afinidade pelo co-receptor CCR5, é necessária a realização de um exame que se chama teste de tropismo. Esse teste determina por qual das portas (CCR5 ou CXCR4) o vírus entra nas células.A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) anunciou recentemente a disponibilidade no Brasil do teste de determinação do tropismo viral, cujo desenvolvimento foi conduzido pelo Dr. Diaz. Por meio de uma técnica que utiliza o mapeamento genético do HIV, o teste de tropismo desenvolvido pelo médico consegue detectar o tropismo CCR5 ou CXCR4 e, assim, identificar o tratamento adequado a cada paciente. Segundo o pesquisador, a realização do teste antes do tratamento permite a utilização do medicamento justamente naquela população que pode se beneficiar de Celsentri e de outros produtos que chegarem ao País. “O teste de tropismo desenvolvido aqui no Brasil chega para facilitar o acesso ao tratamento de muitos portadores do HIV,” afirma Diaz.RedaçãoeAgora.com.br
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