quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Aluno falta e mães são detidas


O Ministério Público de Mirassol, a 453 km de São Paulo, pediu a prisão de quatro mães por ausência escolar e mau comportamento dos filhos. Para o promotor José Heitor dos Santos, da Vara da Infância e da Juventude, os pais cometeram abandono intelectual ao não explicar por que os filhos estariam faltando às aulas e usando drogas. As mães negam o abandono e acusaram o promotor de abuso de poder e de humilhá-las.
Nenhuma delas foi presa. A delegada da Mulher de Mirassol, Junia Cristina Macedo, não aceitou a voz de prisão e decidiu liberá-las. Para a delegada, não havia justificativa social nem legal para colocar as mães atrás das grades. “Todas separadas judicialmente ou divorciadas, são trabalhadoras e cuidam dos filhos como podem. Legalmente, não havia dolo específico que justificasse a prisão”, disse. Segundo ela, as mães têm dificuldade de receber ou não recebem as pensões dos ex-maridos. “Se eu prendê-las, vou causar uma situação pior ainda.”
As mulheres prestavam depoimento no fórum quando tiveram a voz de prisão dada pelo promotor. Em seguida, foram colocadas em camburões e levadas para a Delegacia da Mulher. “Quando chegamos lá, jornalistas estavam nos esperando. Ele queria era fazer show”, disse Rosangela Soares Andrade, que passou mal quando soube que ia ser presa. “Não sou criminosa, não sou bandida. Trabalho de noite cuidando de doentes, e ainda queriam me levar para o hospital de viatura”, disse. “É só o promotor ir à escola e ver que fui em todas as reuniões, minha assinatura está lá”, afirmou.
C.A.F., de 33 anos, uma das mães, tem hepatite C e cirrose hepática e respira com ajuda de aparelhos. Há dois anos, amarrou o filho de 15 anos na cama para evitar que ele se drogasse. “Não tenho muito o que fazer, preciso cuidar de mim. Não tenho condições de vigiá-lo o tempo todo.”
O promotor não foi localizado para comentar o assunto ontem. Em entrevistas anteriores, ele disse que os jovens usam drogas e são acompanhados há mais de um ano pelo MP.

Chico Siqueira
Fonte: Jornal da Tarde

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