Comunidade quilombola da Bahia usa a tradição oral e os saberes populares na sala de aula
"Para cada estrela do céu, existe um diamante na terra. E cada diamante tem o seu dono." Esse mito da cultura garimpeira da Comunidade Rural do Quilombo do Remanso, que fica em Lençóis, a 412 quilômetros de Salvador, é contado de geração em geração e hoje, mesmo com o garimpo decadente, é conhecido dos jovens. A pedra é parte fundamental da história desses descendentes de escravos libertos que rumaram para a chapada Diamantina, há um século, sonhando enriquecer. E é o resgate dessa história, contada por quem a viveu, que está servindo de ferramenta de estudo para as turmas de 1ª a 4ª série da EM Terezinha Guerra, a única da comunidade e que atende mais de 50 alunos.
Tudo começou em abril com uma visita-surpresa. A turma assistia às aulas quando ouviu vozes vindas de longe entoando antigas cirandas. Todos foram para as janelas, curiosos que só, e avistaram uma bela moça dançando com uma saia rodada e cheia de cores, cantando canções do tempo da escravidão. Junto dela, iam as octogenárias dona Judite e dona Rosa, duas das mais antigas moradoras locais. Os músicos eram animados homens da comunidade, que tocavam zabumba, triângulo e sanfona. As crianças correram para fora da sala, uma grande roda formada por velhos e jovens se fez e a moça da saia colorida se apresentou:
- Eu sou uma jovem griô, que para os antigos africanos quer dizer "contador de histórias e guardião das tradições orais". Aprendi com os mais velhos coisas muito importantes, como as músicas da nossa terra, as histórias dos nossos antepassados e a ciência escondida em nossos saberes ancestrais. Vim aqui, acompanhada dessas sábias senhoras, para contar a lenda do diamante e como essa pedra é parte viva de nosso povo. Durante toda a manhã, a garotada aprendeu velhas canções (e soube em quais situações elas eram cantadas) e ouviu a trajetória da comunidade. Durante a tarde, dona Judite contou como aprendeu com a mãe a usar ervas medicinais e preparou um xarope com as crianças. Seu Robertinho, filho de Judite, ensinou os truques da pescaria sem linhas e anzóis, fazendo a moçada construir armadilhas de pesca centenárias. Os alunos viram, ainda, como a mandioca se transforma em farinha e em goma de tapioca, bases da culinária local - um resgate saboroso da própria identidade cultural.
Para as professoras, que vieram de fora da comunidade, foi a chance de conhecer os moradores e sua tradições. "É muito mais fácil me aproximar dos alunos se eu os conheço de verdade. Foi muito enriquecedor", conta Jane Alves Oliveira, docente da 1ª e da 2ª série.
A iniciativa faz parte da Ação Griô Nacional, projeto da organização não-governamental Grãos de Luz e Griô, apoiada pelo Ministério da Cultura (Minc) e presente em mais de 110 cidades. "Nós acreditamos que a surpresa e a vivência proporcionadas por esse encontro despertam a vontade de saber mais sobre a própria cultura. Ao mesmo tempo, abre caminho para o estudo dos conteúdos escolares", explica Lilian Pacheco, coordenadora pedagógica da organização. Depois do encontro, a escola elabora um projeto pedagógico levando em conta a visita e a ONG oferece aos professores formação e materiais de apoio pedagógico sobre o tema.
"Para cada estrela do céu, existe um diamante na terra. E cada diamante tem o seu dono." Esse mito da cultura garimpeira da Comunidade Rural do Quilombo do Remanso, que fica em Lençóis, a 412 quilômetros de Salvador, é contado de geração em geração e hoje, mesmo com o garimpo decadente, é conhecido dos jovens. A pedra é parte fundamental da história desses descendentes de escravos libertos que rumaram para a chapada Diamantina, há um século, sonhando enriquecer. E é o resgate dessa história, contada por quem a viveu, que está servindo de ferramenta de estudo para as turmas de 1ª a 4ª série da EM Terezinha Guerra, a única da comunidade e que atende mais de 50 alunos.
Tudo começou em abril com uma visita-surpresa. A turma assistia às aulas quando ouviu vozes vindas de longe entoando antigas cirandas. Todos foram para as janelas, curiosos que só, e avistaram uma bela moça dançando com uma saia rodada e cheia de cores, cantando canções do tempo da escravidão. Junto dela, iam as octogenárias dona Judite e dona Rosa, duas das mais antigas moradoras locais. Os músicos eram animados homens da comunidade, que tocavam zabumba, triângulo e sanfona. As crianças correram para fora da sala, uma grande roda formada por velhos e jovens se fez e a moça da saia colorida se apresentou:
- Eu sou uma jovem griô, que para os antigos africanos quer dizer "contador de histórias e guardião das tradições orais". Aprendi com os mais velhos coisas muito importantes, como as músicas da nossa terra, as histórias dos nossos antepassados e a ciência escondida em nossos saberes ancestrais. Vim aqui, acompanhada dessas sábias senhoras, para contar a lenda do diamante e como essa pedra é parte viva de nosso povo. Durante toda a manhã, a garotada aprendeu velhas canções (e soube em quais situações elas eram cantadas) e ouviu a trajetória da comunidade. Durante a tarde, dona Judite contou como aprendeu com a mãe a usar ervas medicinais e preparou um xarope com as crianças. Seu Robertinho, filho de Judite, ensinou os truques da pescaria sem linhas e anzóis, fazendo a moçada construir armadilhas de pesca centenárias. Os alunos viram, ainda, como a mandioca se transforma em farinha e em goma de tapioca, bases da culinária local - um resgate saboroso da própria identidade cultural.
Para as professoras, que vieram de fora da comunidade, foi a chance de conhecer os moradores e sua tradições. "É muito mais fácil me aproximar dos alunos se eu os conheço de verdade. Foi muito enriquecedor", conta Jane Alves Oliveira, docente da 1ª e da 2ª série.
A iniciativa faz parte da Ação Griô Nacional, projeto da organização não-governamental Grãos de Luz e Griô, apoiada pelo Ministério da Cultura (Minc) e presente em mais de 110 cidades. "Nós acreditamos que a surpresa e a vivência proporcionadas por esse encontro despertam a vontade de saber mais sobre a própria cultura. Ao mesmo tempo, abre caminho para o estudo dos conteúdos escolares", explica Lilian Pacheco, coordenadora pedagógica da organização. Depois do encontro, a escola elabora um projeto pedagógico levando em conta a visita e a ONG oferece aos professores formação e materiais de apoio pedagógico sobre o tema.
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