quinta-feira, 26 de novembro de 2009

A dor das mães que sofrem ao ver os filhos no mundo do crack


Elas não sabem mais a quem pedir ajuda: foram ao conselho tutelar, ao fórum, procuraram atendimento, mas não conseguiram resolver o problema

O problema da dependência química vai além do usuário: chega às famílias, que perdem a esperança na luta contra as drogas. São mães que não sabem mais a quem pedir ajuda depois de tentar de tudo: foram ao Conselho Tutelar, ao Fórum, procuraram atendimento, mas não conseguiram resolver o problema dos filhos. Mas há esperança: a quarta reportagem da série “Pedra da Morte” traz histórias de pais que conseguiram vencer o crack.
A recicladora Rosângela Francisca Correia é mãe de nove filhos – o mais velho está preso no Centro de Triagem (Cotel) em Abreu e Lima. O de 14 anos, já causa grandes problemas. “Até me espancar, ele me espanca. Eu amarro ele, tem horas que preciso amarrar de corrente nas pernas , porque eu não aguento. Ele dá nos meninos em casa, ele quebra as coisas”, comenta.
Na vizinhança de Rosângela há outras famílias devoradas pelas drogas. “Ele rouba, faz pequenos furtos. Então, o povo procura saber onde ele mora e vem à procura. Eu mesmo pago. É um pequeno furto de bicicleta, de panela, de roupas e mais que eu não posso dizer. Pago para não ver eles ‘estirados’ no chão”, comenta Elianai Albuquerque .
O desespero se reflete nos rostos de diversas mães que passam pelo mesmo sofrimento. “Eu moro em Camaragibe. Anteontem, vim buscar meu menino que está roubando, cheirando cola, fazendo tudo o que não presta na vida. Eu não sei mais o que faço”, desabafa uma das mães encontradas pela reportagem
As instituições que deveriam ajudar essas famílias acabam se distanciando do problema. “A gente já foi para o Conselho Tutelar, para o Ministério Público, para o Fórum. Já falou com juíza, com tudo. Ontem, a gente foi para o Conselho Tutelar de Olinda de novo. Eu falei para eles que meu filho estava violento. Era para eles virem aqui em casa, mas não vieram”, explica Rosângela.
De acordo com o coordenador dos Conselhos Tutelares de Olinda, Robson Catanheiras, o órgão apenas orienta os pais a procurarem os programas indicados para casos de dependência. “Enquanto órgão de defesa sentimos muita dificuldade nessa orientação. Quem pratica os serviços de fato são as Secretarias de Políticas Sociais dos municípios e estadual. Nós apenas encaminhamos para esses serviços”, explica.
O conselheiro explica também que o órgão não pode obrigar a criança ou o adolescente a se tratar. “Nós orientamos os pais , mas não podemos obrigar a criança ou o jovem a freqüentarem os locais indicados. Eles devem ir por vontade própria”.

DINHEIRO

A droga não poupa ninguém. “Eu tenho um acesso fácil ao dinheiro, porque o meu avô me proporciona uma mesada toda sexta-feira. Toda sexta-feira era o dia de eu receber. Ele me dava R$ 350 e colocava gasolina no carro”, explica o estudante Felipe Flamarion , 24 anos. O rapaz é descendente de uma família de políticos em Alagoas, trancou duas faculdades e está no terceiro internamento para se curar da dependência de crack.
Roberto Caldas já passou por onze internações. Depois da última tornou-se coordenador de uma comunidade terapêutica. Ele está sem drogas há um ano e sete meses, graças à ajuda dos pais. “Eu me lembro quando, antes da minha última internação, meu pai me pegou em casa e disse ‘você tem três opções’. Uma seria eu me tratar; a outra seria sair de casa com a roupa do corpo, porque eu não tinha nada, tudo era a minha mãe que me dava, nunca tive responsabilidade”, admite. A terceira opção seria ser algemado pelo pai para andar com ele no carro e dormir amarrado na cama, com uma corrente e um cadeado.
A enfermeira Edilene Félix já passou 48 dias em um presídio esperando pelo filho de 20 anos, preso por tráfico. “Eu não ia desistir dele nunca, o que eu pudesse fazer, nós iríamos fazer para resgatá-lo. E foi o que nós fizemos”, explica. O pai do jovem, Eduardo Viana, é mais duro. “Ele foi uma pessoa de sorte porque está apenas preso, poderia estar morto”, comenta.
Quando o filho do casal concordou com um internamento, a mãe comprou um enxoval para o rapaz. “O sentimento de culpa é muito grande e a gente fica pensando o que podia ter feito para poder ter resgatado ele antes que tudo isso viesse a acontecer”, desabafa Edilene. Os pais esperaram seis meses – período da internação. Quando o filho voltou, procuraram facilitar o tratamento, que deve durar a vida toda. “Estávamos ansiosos, então resolvemos pintar o quarto dele”, conta. Decidiram pintar a casa toda para recebê-lo em um ambiente diferente. “Queremos que ele entenda tudo isso e também seja diferente do que era, espera Eduardo Viana.

Fonte: Pe360°

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Verbratec© Desktop.