Os resultados do teste clínico estão na edição de ontem da revista "Archives of Internal Medicine", da Associação Médica Americana. Com 638 voluntários, é um dos maiores ensaios já feitos para testar se a acupuntura funciona para valer.
Para avaliar a eficácia de um remédio que vem na forma de comprimidos, o que médicos fazem é comparar seu efeito ao de um placebo --uma pílula de farinha sem nenhuma substância relevante. O problema da acupuntura é que é difícil alguém fingir que está aplicando agulhas num paciente sem que ele perceba que não está sendo espetado. Só nos últimos anos é que cientistas têm usado a acupuntura simulada --um tipo de "agulha placebo"-- para isso.
No estudo publicado ontem, Daniel Cherkin, do Centro para Estudos da Saúde, de Seattle (EUA), e seus coautores explicam como é essa estratégia.
"Desenvolvemos uma técnica de acupuntura simulada usando um palito de dentes no tubo de suporte da agulha, que se mostrou capaz de passar por acupuntura com credibilidade em pacientes de lombalgia sem experiência de tratamento com acupuntura", escrevem Cherkin e colegas. "O acupunturista pressiona o palito gentilmente, torcendo-o um pouco para simular uma agulha de acupuntura se agarrando à pele."
Para distanciar o tratamento ainda mais da acupuntura real, os cientistas aplicaram o palito de dentes em pontos longe das regiões tidas como corretas por acupunturistas profissionais.
Ninguém percebeu a diferença e, surpresa ou não, o palito de dentes teve a mesma eficácia da agulha verdadeira. Mas susto maior veio quando os dados sobre "atendimento usual" aos pacientes entraram na conta.
Após oito semanas, 60% dos pacientes sob acupuntura real ou simulada tiveram certa melhora, mas só 39% dos outros voluntários relataram progresso. Estes últimos, porém, não passaram por nenhum "atendimento relacionado ao estudo", só pelo tratamento que o médico de cada um indicava ("em geral remédios, cuidados primários e idas à fisioterapia").
Se, por um lado, a acupuntura real não se saiu melhor do que palitos de dentes, por outro, o teste sugere que autoridades de saúde pública deem um passo atrás para saber o que o "atendimento usual" tem reservado a quem tem lombalgia.
FOLHAONLINE
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