sexta-feira, 29 de maio de 2009

Líderes indígenas denunciam altos índices de violência


É preciso tomar uma providência urgente para conter a violência, o alcoolismo e as drogas que estão cada vez mais presentes nas comunidades indígenas localizadas na região do Alto Rio Solimões, no sudoeste do Amazonas. O alerta foi dado hoje (27), em Tabatinga, pelo cacique da comunidade Umariaçú 1, Osvaldo Mendes. De acordo com o líder indígena, os três problemas apontados estão perturbando o bem-estar desses povos e não têm recebido das autoridades a atenção devida. Mendes ressaltou ainda que, nas comunidades mais próximas aos oito municípios que compõem o Alto Solimões, não existem dificuldades para o consumo de bebidas alcóolicas e drogas ilícitas, como a maconha e a cocaína. Entre os jovens, acrescentou, ?a cachaça está em primeiro lugar?. Amaturá, Atalaia do Norte, Benjamin Constant, Fonte Boa, Jutaí, Santo Antônio do Içá, São Paulo de Olivença, Tabatinga e Toncantins são as cidades que formam a região conhecida como Alto Rio Solimões e que possui, segundo a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), uma população de aproximadamente 50 mil indígenas, a maior do país. Desse total, 90% são da etnia Ticuna e, o restante, dos povos Kocama, Canamari, Maku-Yuhup, Whitota e Cambeba.?A lei proíbe a entrada de álcool nas aldeias. Não entendo como hoje em dia há tanta facilidade de drogas e cachaça na nossa comunidade. Estamos falando de problemas graves que precisam ser resolvidos. Para quem vamos denunciar? A Polícia diz que não é com eles e a Funai [Fundação Nacional do Índio] até agora não fez nada. Por que o pessoal que passa a droga para os índios não é preso? Isso também é violência contra o nosso povo?, declarou o cacique.Segundo relato feito à Agência Brasil pelo líder Ticuna Júlio Almeida, da comunidade Umariaçú 2, há uma relação direta entre a violência e o consumo das bebidas alcóolicas, da maconha e da cocaína. Sem perspectivas de trabalho e de educação (nas duas aldeias só há aulas até o ensino fundamental), os indígenas acabam recorrendo ao uso desse tipo de drogas e, com, isso, afirmam os líderes indígenas, ?contribuindo para o crescimento dos números da violência no local?. Na opinião de Almeida, o consumo de drogas pelos indígenas é influenciado pela cultura dos não índios. ?A gente quer estudo e emprego para nossos jovens. Hoje falta isso para nós. Depois que termina o ensino fundamental não tem mais o que o nosso jovem estudar. O pior é o contato com os brancos que trazem essas coisas [bebidas e drogas] para nossa aldeia?, lamentou.Localizadas no município de Tabatinga, as comunidades indígenas de Umariaçú 1 e 2 são separadas apenas por uma ponte e abrigam quase 5 mil indígenas da etnia Ticuna. A cidade, por sua vez, é conhecida por estar na tríplice fronteira - Brasil, Colômbia e Peru. A entrada de drogas nessa área é atribuída aos colombianos. Em Tabatinga, as facilidades de trânsito entre Brasil e Colômbia podem ser observadas, por exemplo, em diversos estabelecimentos comerciais, onde o uso da moeda do país vizinho (peso) é tão recorrente quanto o uso do real. ?Nos comércios, restaurantes e táxis de Tabatinga o pagamento e o troco podem ser feitos com o peso. Cada real equivale a mil pesos?, contou um atendente de um restaurantre local.As situações de violência, uso de drogas lícitas e ilícitas reveladas pelo cacique Osvaldo Mendes e pelo líder de Umariaçu 2, Júlio Almeida, tiveram destaque hoje, durante o Seminário sobre o Enfrentamento de Situações que Colocam em Risco as Comunidades Indígenas do Alto Rio Solimões. O evento será realizado até quinta-feira (28), em Tabatinga, e é promovido pela Coordenação Regional da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) do Amazonas, com apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). O objetivo da iniciativa é conhecer, discutir e propor estratégias e metodologias no enfrentamento aos principais desafios relacionados à saúde mental do povo Ticuna dessa região do Amazonas.?Vamos colocar policiamento para dar apoio à comunidade?, prometeu o coronel Ardaya, comandante do batalhão de Polícia Militar de Tabatinga.Hoje, quase 100 participantes, entre representantes das comunidades indígenas e das prefeituras do Alto Solimões, e também da Funai, Funasa, Unicef, Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), entre outros, estiveram reunidos para discutir e conhecer mais detalhes sobre o dia a dia dos povos Ticuna do Alto Solimões. No encerramento do encontro, que ocorrerá amanhã (28), está prevista a apresentação de propostas para o enfrentamento dos desafios. Tudo será avaliado pelas lideranças indígenas. Também participam da programação integrantes do Exército, Marinha e das Polícias Civil e Militar.?Este evento representa um marco histórico para essa região. É a primeira vez que reunimos um grupo tão grande de indígenas e de autoridades para tratar especificamene dos problemas e levantar alternativas para combater esses problemas. Quando se tem saúde, educação e oportunidades, obviamente, se tem menos violência, alcoolismo e drogas?, disse o o coordenador do escritório do Unicef na Amazônia Ocidental, Halim Antonio Girade."

Fonte:Amanda Mota
Agencia Brasil
Mais Comunidade

FOTO: Blog Claiton Severiano - Direitos Humanos e Psicologia

2 comentários:

  1. É isso mesmo, Amanda. Os povos originários sofrem atrocidades por mais de 500 anos nas mãos do "bondoso" homem branco. Está mais que na hora de nos envolvermos em ações para conter essa onda de violência que atinge sempre os mais fracos. Um exemplo bem ilustrativo é o da mídia hegemônica que ainda retrata o(a) índio(a) como selvagem, como aquele que rema contra os interesses da nação, como símbolo de atraso. Na melhor das hipóteses, retraram o povo indígena de forma folclórica e caricatual.
    []s, CLAYTON

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  2. Obrigada por sua visita Clayton!
    Abraços
    Carmen e Maria Célia

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