quinta-feira, 28 de maio de 2009

Mulheres terão vida mais longa e maior poder econômico

A alteração do status da mulher vai liderar as mudanças de comportamento social no Brasil

ELAS PODEM

Baile da terceira idade no centro de São Paulo. As mulheres serão maioria e viverão mais, com maior poder econômico
As pessoas estão acostumadas a pensar no próprio comportamento como uma questão de escolhas: elas são o que são e fazem o que fazem porque querem. Parece simples, mas a realidade é outra. Quando se olha para o país como um todo, e para os grandes movimentos demográficos em curso, percebe-se que opções individuais são influenciadas (se não determinadas) por um cenário mais amplo: o das grandes mudanças sociais. Para imaginar como se comportarão os brasileiros de 2020 – como serão as famílias, como serão os casamentos, como serão as relações entre jovens e entre os gêneros –, é imperioso entender que o país será moldado por três fenômenos de grande envergadura: a redução da taxa de natalidade, o aumento da longevidade e a preponderância das mulheres.
Um país com menos crianças, mais idosos e com mulheres mais numerosas e influentes – essa é, em grandes linhas, a cara do Brasil de 2020, pelo que se depreende dos dados e das projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “O Brasil caminha para ser um país de pessoas mais velhas, com famílias menores e mais mulheres chefes de família”, afirma Ana Lucia Saboia, chefe da divisão de indicadores sociais do IBGE.
A redução e a transformação da família já são visíveis. Dez anos atrás, a família brasileira média tinha 3,6 pessoas. Atualmente, tem 3,2. Dentro de uma década, o núcleo social básico será ainda menor – e mais diverso. Uma tendência clara registrada pelos demógrafos é do casamento sem filhos. São os chamados Double Income, no Children (Duas Rendas, Nenhum Filho). Há cerca de 35 milhões de casais no Brasil, e, desses, 2 milhões já não têm filhos. Essa é uma tendência mundial que o Brasil está copiando. Da mesma forma, tende a crescer o número de divórcios e de casamentos entre pessoas já separadas. Os divórcios já somam todos os anos um quarto do número de casamentos, proporção que tem subido ano a ano desde 1984, quando o divórcio foi instituído no país. Simultaneamente, cresce o número de casamentos entre pessoas que já foram casadas. Eles já são 17%, dobraram na última década e, segundo os especialistas, tendem a dobrar de novo até 2020. “Atribuo isso a uma tolerância maior das pessoas que buscam o casamento. Houve uma ruptura com a ideia do casamento eterno”, afirma Cláudio Crespo, gerente de estatísticas vitais e saúde do IBGE.
Outra mudança diz respeito aos homossexuais. Mudou a compreensão da sociedade brasileira desse fenômeno, que poderá aceitá-los melhor não só na família, mas também na escola e no mercado de trabalho. “Daqui a dez anos haverá ainda mais respeito à diversidade sexual”, afirma Maria Luisa Heilborn, doutora em antropologia sexual e coordenadora do Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos. “Digo respeito, e não tolerância, porque a palavra tolerar é fraca. O que se deseja é respeito.”
Muitas das novas configurações na sociedade decorrem diretamente da emancipação feminina. A ascensão social das mulheres – que o historiador britânico Eric Hobsbawm já havia identificado como um dos grandes fenômenos do século XX – seguirá sendo uma das forças de mudança na primeira metade do século XXI. Cresce a independência feminina, aumenta sua presença no mercado de trabalho e sua escolaridade. Isso tudo influencia nas escolhas que elas fazem (e farão) na vida particular e afetiva. Das decisões das mulheres resultam taxas de natalidade menores – eram 2,39 filhos por mulher em 2000; será 1,53 filho por mulher em 2020 – e famílias menores. Mesmo o casamento, que costumava chegar para as mulheres por volta dos 24 anos, na próxima década deverá acontecer aos 28. “As mulheres não podem mais ficar em casa tendo filhos”, afirma Ana Saboia, do IBGE. “Cada vez mais, elas vão trabalhar.”
Muitas das novas configurações na sociedade decorrem diretamente da emancipação feminina. A ascensão social das mulheres – que o historiador britânico Eric Hobsbawm já havia identificado como um dos grandes fenômenos do século XX – seguirá sendo uma das forças de mudança na primeira metade do século XXI. Cresce a independência feminina, aumenta sua presença no mercado de trabalho e sua escolaridade. Isso tudo influencia nas escolhas que elas fazem (e farão) na vida particular e afetiva. Das decisões das mulheres resultam taxas de natalidade menores – eram 2,39 filhos por mulher em 2000; será 1,53 filho por mulher em 2020 – e famílias menores. Mesmo o casamento, que costumava chegar para as mulheres por volta dos 24 anos, na próxima década deverá acontecer aos 28. “As mulheres não podem mais ficar em casa tendo filhos”, afirma Ana Saboia, do IBGE. “Cada vez mais, elas vão trabalhar.”
Desse movimento de profissionalização feminina já resultou o crescimento do número de mulheres como principais provedoras das famílias. Trinta por cento dos lares brasileiros têm essa conformação econômica, uma tendência que tende a se fortalecer. Entre outras razões para que isso aconteça está o fato de que elas são maioria – em 2020, o excedente de mulheres em relação aos homens no Brasil será de quase 5 milhões – e, adicionalmente, vivem mais. Enquanto a expectativa de vida masculina será de 72 anos em 2020, as mulheres chegarão em média aos 80. Logo, temos pela frente um país com mais mulheres – que serão mais prósperas e mais velhas do que são hoje. Por pressão demográfica, é provável que cresça o número de mulheres solteiras no Brasil.

Fernanda Colavitti


Época - 25/05/2009

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