Uma atitude que chama a atenção pela frieza e premeditação. O motorista que confessou ter atropelado e matado a menina Yasmin Martins Jesus, de 5 anos, no sábado último, em Taguatinga Norte, esteve no velório e no enterro da vítima, sem levantar suspeitas, quando ainda era procurado pela polícia. Ao verem a imagem de Ítalo Pinheiro de Almeida, 26 anos, pela televisão e jornais, amigos e parentes da vítima o reconheceram como uma das pessoas que estiveram no cemitério.
Uma das vizinhas, que mora em uma casa próxima ao lote onde vivia Yasmin, confirmou a presença de Ítalo no enterro. "É uma maldade e uma covardia sem limites. Ele viu que todos estavam sofrendo com uma perda que é irreparável e mesmo assim não teve a dignidade de assumir o que havia feito", afirmou, revoltada, sem se identificar. Ontem à tarde, o portão da casa onde morava Yasmin servia como ponto de homenagens, feitas por coleguinhas da menina. Com frases escritas em cartazes ou simplesmente em folhas de cadernos, crianças enviaram mensagens de conforto à família e expressaram saudade da amiga, que perdeu a vida de forma trágica quando saiu à rua na companhia de amigos, durante uma festa de aniversário, na quadra QNL 5.
Ítalo morava em uma casa a cerca de 200 metros do acidente, ou seja, era vizinho da família de Yasmin. Por esse motivo, parentes da menina abandonaram a casa, ontem pela manhã, e permanecem em um local não revelado. A família se diz vigiada por amigos e familiares do motorista. "Eles estiveram na minha casa no sábado para saber como estávamos lidando com essa tragédia. Queriam saber que tipo de providências iríamos tomar. Tudo isso foi feito para ajudar na estratégia de defesa do Ítalo", acredita a avó de Yasmin, Cleusa Maria Gonçalves, quando ainda estava na 17ª Delegacia de Polícia, local onde Ítalo se apresentou, na tarde de segunda-feira.
Um dos tios da menina, Nílson Barbosa, contou que pessoas estavam durante todo o dia do domingo último atrás de uma árvore, rondando a casa e tentando saber o que se passava no interior da residência. "Todos estavam se sentindo de certa forma incomodados e ameaçados com a presença dessas pessoas, que provavelmente têm alguma ligação com esse motorista que atropelou a Yasmin", explicou.
Na casa de Ítalo, a situação não era diferente durante a tarde de ontem. A casa estava fechada e sem qualquer movimentação de pessoas. Policiais da 17ª DP ainda pretendem escutar, pelo menos, mais cinco testemunhas que podem ajudar a conseguir elementos que comprovem que o motorista teria ingerido bebida alcoólica antes de pegar o volante. Ontem, uma das pessoas ouvida pela polícia foi o pai da menina, Alisson Jesus Siqueira. Ele contou que conhecia Ítalo de vista, mas nunca teve contato com ele. "Só ficamos sabendo quem ele era quando chegamos na delegacia", explicou.
Algumas pessoas que moram na mesma quadra contaram que nunca tinham presenciado algum tipo de problema provocado por ele. O aposentado Cícero Portela, que completou 79 anos ontem, se lamentou ao lembrar de Yasmin. "Minha neta foi quem escreveu a maioria das homenagens que estão presas no portão. Sempre quando voltava da padaria comprava balas para ela. Já desse Ítalo eu nunca tinha ouvido falar", relatou.
Carlos Carone carone@jornaldebrasilia.com.br
Jornal de Brasília
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