As Origens do Problema
De acordo com o Instituto do Sono, ligado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), “a insônia é a ponta de um enorme iceberg” e deve ser analisada sob três aspectos: físico, psicológico e social. Ou seja, não se pode culpar unicamente as situações de ansiedade e stress pelas noites maldormidas. Muitas vezes, a raiz do problema está escondida onde só um médico pode encontrar.
Entre as possíveis causas da insônia, estão doenças físicas, uso de medicamentos e até distúrbios hormonais. Doenças psiquiátricas e neurológicas como depressão, Parkinson, esquizofrenia, derrames cerebrais e Alzheimer também podem trazer dificuldades. Nesses casos, a ajuda especializada é fundamental. O coordenador do Instituto do Sono da Unifesp, Sérgio Tufik, acrescenta ainda outro elemento causador da insônia: o medo. “Medo, na natureza, é exatamente o contrário do sono: só dorme quem está tranqüilo, quem não vai ser atacado”, afirma.
Como se não bastassem esses fatores involuntários, pioramos ainda mais nossa qualidade de sono – ou até mesmo desencadeamos a insônia – com hábitos errados que adquirimos no dia-a-dia. Falta de rotina para dormir, ambiente inadequado e ingestão de bebidas alcoólicas são alguns erros comuns. “Antigamente, tudo era mais fácil. Hoje, com a luz artificial, TV e internet, mudou o nosso comportamento”, explica Tufik. E é nessas situações que a nossa ação pode ser mais eficaz. Confira as recomendações de especialistas para uma boa noite de sono.
O ambiente – A qualidade do sono depende em grande medida do ambiente em que se repousa. Por isso, características básicas como barulho, calor ou claridade excessivos devem ser levadas em conta. “Fisicamente, o ambiente tem que estar acondicionado apropriadamente, daí os cuidados com luz, temperatura e ruído”, orienta o neurolofisiologista Flávio Alóe, do Centro de Estudos do Sono do Hospital das Clínicas de São Paulo.
O médico lembra ainda que o sono é influenciado pelo ambiente “de uma forma perceptível e imperceptível”. “Em outras palavras, você pode achar que está dormindo bem em um lugar barulhento ou em um lugar não ideal e não perceber o problema”, explica. Ou seja, deve-se manter o quarto nas condições ideais sempre: escurecido, fresco e silencioso.
Para isso, é indicada a instalação de cortinas que realmente isolem o ambiente da claridade externa. Outra dica: desligue a TV, pois a luz da telinha prejudica a secreção da melotonina, hormônio que induz o sono e só é produzido no escuro. Outra alternativa é aderir a máscaras para dormir. Contra o barulho, a saída são os tampões de ouvido. Quanto à temperatura, alguns condicionadores de ar possuem a função sleep, que ajustam a temperatura durante a noite.
Riscos á saúde dos insones
Nas páginas do romance Cem Anos de Solidão, a insônia é tratada pelo escritor Gabriel García Márquez como uma peste que acomete a mítica cidade de Macondo. Exageros à parte, o colombiano buscou inspiração em efeitos reais da insônia, muitas vezes subestimados. No livro, o mal ganha proporções epidêmicas e evolui para uma manifestação mais crítica: o esquecimento. “Queria dizer que quando o doente se acostumava ao seu estado de vigília, começava a apagar-se da sua memória as lembranças da infância, em seguida o nome e as noções das coisas, e por último a identidade das pessoas e ainda a consciência do próprio ser, até se afundar numa espécie de idiotice sem passado”, explica o narrador.
A verdadeira insônia não leva a esse grau de amnésia. Mas os danos na vida real podem ser mais severos do que os da insônia fictícia. Muitas vítimas recorrem a estimulantes para enfrentar o cansaço decorrente de uma noite maldormida e dar conta da profusão de compromissos diários. Mas as horas a mais de vigília têm um preço: a saúde física e mental do insone.
“A população com o transtorno de insônia tem todos os riscos possíveis e imagináveis mais elevados do que a população geral”, ressalta o neurofisiologista Flávio Alóe, do Centro de Estudos do Sono do Hospital das Clínicas de São Paulo. “O desfecho de um caso de insônia é a transformação desse transtorno em alguma coisa mais grave”. Segundo o neurofisiologista, entre 20% e 30% dos casos deságuam na depressão. “A insônia é um precursor”, explica.
Além disso, quando não dormimos, o cérebro não consolida as informações recebidas ao longo do dia, o que acaba refletindo em alterações de memória e das capacidades cognitivas, como aprendizado, raciocínio e pensamento. Também cresce o risco de problemas como diabetes e até câncer.
Revista VEJA
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