domingo, 17 de maio de 2009

“Mentimos tanto sobre a idade que ninguém mais sabe como é parecer ter 40”

A escritora feminista americana Suzanne Braun Levine confessa que engole em seco quando tem que dizer sua idade – 65 anos – mas defende que as mulheres deixem de mentir sobre o assunto. Em seu novo livro, Fifty is the new fifty (algo como Os 50 são os novos 50, que será lançado no Brasil em dezembro pela editora Rocco), Suzanne fala sobre as vantagens de atingir o que chama de “segunda etapa da vida adulta”. Nesta entrevista ao Mulher 7×7, ela explica por que não gostaria de voltar aos 30 e diz que se submeter a procedimentos estéticos é como ficar revivendo o processo de envelhecimento.

O título do seu livro é “Os 50 são os novos 50”. O que a senhora quer dizer com ele?
Suzanne Braun Levine – Não sei no Brasil, mas aqui nos Estados Unidos, quando querem dizer que alguém está bem e se sente bem aos 50 anos, dizem: “Os 50 são os novos 30”. A ideia é que você não pode estar tão bem e se sentir tão bem se você tem 50! Meu ponto é que os 50 não são nada parecidos com os 30. São um novo e maravilhoso estágio da vida para as mulheres, e a maioria das mulheres de 50, 60 e 70 que conheço não gostaria de voltar a ter 30.

E por que elas não querem voltar aos 30?
Suzanne Aos 50 e aos 60, as mulheres se tornam mais seguras e capazes de lidar com as situações da vida. Mais desejosas de aproveitar as oportunidades e tentar coisas novas. É um sentimento generalizado de que temos os nossos pés no chão e controle sobre as nossas vidas. Quando tinha 30, sentia que tentava ser o que as outras pessoas queriam que eu fosse. Ser o tipo de mulher que eu via nas revistas, nos filmes, o tipo de mulher que os homens gostariam que eu fosse. Mas, quando você chega aos 50, você está pronta para ser o tipo de mulher que você é.

Por que a senhora atribui isso ao processo de envelhecimento?
Suzanne – Porque acho que chegamos a um ponto em que não estamos lendo um roteiro escrito para nós. Quando as mulheres chegam aos 50 ou 60, a sociedade realmente se esquece delas. E isso é uma coisa ruim, porque somos tão sexy, maravilhosas e excitantes… Mas é bom porque quer dizer que podemos escrever nosso próprio roteiro. Podemos começar a entender o que realmente sentimos, pensamos e queremos em vez de tentar sentir, pensar e querer o que esperam de nós. Isso tem a ver com a nossa capacidade reprodutiva. E as mulheres são avaliadas, em muitos sentidos, por sua capacidade de ter filhos. Quando você chega à idade em que não pode mais ter um bebê, está de certa forma livre.

Como é essa liberdade?
Suzanne – Conheci uma mulher dia desses e ela me disse que se sentia muito triste , que estava de luto pela perda de sua beleza. Perguntei o que ela queria dizer com aquilo. E ela disse: “A beleza era muito importante para mim em minha carreira e nas minhas relações”. Ao que respondi: “Isso significa que, de agora para frente, tudo o que você conquistar vai ser por sua habilidade, e não por sua beleza”. E que ela devia se sentir muito bem por isso.

As mulheres estão deixando a maternidade para mais tarde. A senhora acha que isso pode influenciar na maneira como elas vivem os 50 anos?
Suzanne – Tive meus filhos aos 40 e claro que isso faz diferença. Não é como as mães que experimentam a casa silenciosa depois que os filhos foram embora. Quando tinha 50, meus filhos estavam no ensino médio. Tive desafios diferentes. Mas acho que todas têm uma experiência única. Mas meu ponto é que, quando você chega aos 50 ou aos 60, independentemente do que esteja acontecendo na sua vida, você está experimentando uma transição. É um processo muito parecido com o que passamos da infância para a adolescência. A semelhança mais óbvia é a mudança de hormônios. Mas você está se fazendo perguntas muito parecidas com as que fazia quando era adolescente: o que faço agora? Quem são meus amigos? Como está o meu relacionamento?

Que conselhos a senhora daria para quem não está se sentindo bem aos 50 anos?
Suzanne – A olhar para suas vidas como se começassem um capítulo completamente novo. Uma das coisas mais importantes ao longo da vida, mas neste estágio em particular, é ter amigas que estejam passando pelo mesmo que você e em quem você confie para perguntar coisas como “estou louca?” Acho que a primeira coisa é passar mais tempo com essas amigas. Depois, começar a explorar coisas novas e tomar decisões para o resto da vida, para o futuro, não para o passado.

A senhora fala abertamente sobre sua idade, 65 anos. O que a senhora acha de quem a esconde?
Suzanne – É muito comum as mulheres mentirem sobre sua idade porque quanto mais velhas ficamos, mais perdemos nosso valor na sociedade. E isso tem que mudar. Agora as mulheres estão se sentindo ótimas, com saúde, realizando muitas coisas no mundo e estão redefinindo o que é viver a maturidade. Há muitos homens que podem lhe dizer que as mulheres de 50 são muito interessantes. Mas é verdade que tenho que engolir em seco para dizer que tenho 65 anos. Estou tentando mudar isso.

Como?
Suzanne – Dizendo às pessoas a minha idade. Gloria Steinem, uma das femininas mais importantes dos Estados Unidos, continua gloriosa aos 75 anos. E lembro-me de que, quando fez 40 anos, deu uma grande festa. E as pessoas diziam: “Não parece que você tem 40!” E ela respondeu: “Pois é exatamente assim que os 40 são!” Fato é que mentimos tanto sobre a idade e há tanto tempo que ninguém mais sabe como é parecer ter 40 anos.

Qual a sua opinião da busca por procedimentos estéticos para parecer mais jovem?
Suzanne – Você não pode enganar a Mãe Natureza. Mais cedo ou mais tarde terá que fazer as pazes com o que está acontecendo com seu corpo. Há mulheres que ficam mais felizes pelo fato de estarem fortes e saudáveis do que por terem mais ou menos rugas. Mas, para outras, parecer mais jovem é uma questão de auto-respeito. Não vou dizer para as mulheres não fazerem plástica se é isso que elas querem.

O que a senhora acha, pessoalmente, sobre isso?
Suzanne – Quando alguém faz um lifting no rosto, por exemplo, aquilo dura quatro, cinco anos. Depois, tem que fazer novamente. Isso para mim quer dizer que vou ter que me ver envelhecendo de novo e de novo. Parece um pesadelo. Não gosto das rugas do meu pescoço, gostaria que elas não estivessem lá, mas tenho outras coisas mais interessantes para fazer do que uma cirurgia plástica.

Letícia Sorg

Mulher 7 x 7
ÉPOCA

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