terça-feira, 26 de maio de 2009

Psicóloga aborda história e mostra avanços do abandono e da adoção

A segunda palestra em comemoração pelo Dia Nacional da Adoção realizou uma “viagem” histórica da Grécia Antiga à São Paulo dos dias de hoje, com a abordagem voltada para o abandono e adoção. A renomada autora de livros acerca do assunto, psicóloga Lídia Weber, traçou importantes fatos históricos, situações que, segundo a palestrante, ajudam a compreender os motivos do abandono e melhorar o atual sistema. A palestra foi realizada na noite desta segunda-feira (25/5) no auditório do Fórum Desembargador José Vida da Comarca de Cuiabá.
Lídia Weber é especialista, mestra, doutora e pós-doutora em adoção, tema que faz parte de suas pesquisas há pelo menos 20 anos, pouco antes da promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 1990, e narrou que vivencia o assunto em várias vertentes. Com auxílio de slides e vídeos, abordou como as diversas sociedades evoluíram acerca do tratamento a ser dado às crianças abandonadas. Contou que houve uma época em que eram consideradas adultos “imperfeitos” e, portanto, não mereciam tanta atenção; houve tempos em que crianças eram oferendas em sacrifícios de adoração e o cometimento de infanticídio era algo considerado “natural”, permitido legalmente na antiga Grécia. Citou casos mitológicos de adoção, como dos gêmeos Rômulo e Remo, adotados por uma loba, que foram considerados fundadores da cidade de Roma, sendo que essas adoções ocorreriam mais por motivos políticos e religiosos.
A psicóloga mostrou também as diferenças culturais acerca da adoção, como na Polinésia Francesa e no Havaí, onde é considerada algo comum, fazendo parte da sua cultura e historicamente incentivado. Nesses locais praticamente não há crianças abrigadas, enquanto que em grande parte do continente africano, em especial nos países de origem muçulmana, não se aceita o ato e em alguns países, como o Marrocos, apenas a adoção internacional é permitida, porém, os pais adotivos devem se converter ao Islamismo. Nesses países o número de crianças institucionalizadas é grande.
Por outro lado, Lídia Weber destacou que atualmente o Estatuto da Criança e do Adolescente é considerado uma das legislações mais perfeitas no mundo. As legislações acerca dos direitos da criança e adolescente estão entre as mais aceitas também em número de países. O ECA foi sancionado um ano depois da Convenção das Nações Unidas dos Direitos da Criança e do Adolescente, em 1989, que foi assinada por praticamente todos os países, com exceção da Somália e Estados Unidos, conforme a pesquisadora. Lídia Weber abordou ainda pesquisas realizadas para traçar os perfis dos envolvidos na adoção, em busca das suas motivações, desde as mães que abandonam, passando pelos pais que adotam e pelos filhos que são adotados.
“Temos que vencer o egoísmo. Adotar é um crescimento pessoal, é a defesa da própria continuidade humana“, alertou. Ela apontou entre os dados de pesquisas o perfil das mães que abandonam seus filhos, que em sua maioria não tiveram contato com os pais ou foram vítimas de maus tratos, não tendo carinho, atenção e nem limites em casa e, por isso, não desenvolveram vínculo afetivo. “Quem não aprendeu a ser filha, não aprendeu a amar e não sabe ser mãe”, finalizou.
Incentivo - “Trabalhei por muitos anos na vara única, acompanhei algumas adoções e os conhecimentos adquiridos aqui suplantaram muitos do cotidiano que tive. Achei as palestras maravilhosas. Saí daqui com o coração mole. Tenho certeza que vai incentivar a adoção“, assegurou a gestora da Sexta Vara Criminal de Cuiabá, Elinete Kestring. As palestras foram acompanhadas atentamente por magistrados, servidores do Judiciário, operadores do Direito, professores e estudantes. “Nunca vi um auditório tão cheio ficar tão quieto e atento aos palestrantes “, disse o estudante do quarto ano da Direito da UFMT André Chormiak.
O programa Adotar é Legal do Poder Judiciário de Mato Grosso é desenvolvido desde 2002, de forma permanente. E este ano teve atividades relacionadas em cada comarca sob orientação do corregedor-geral do Tribunal de Justiça, desembargador Manoel Ornellas de Almeida. Foram realizados shows culturais e distribuição de materiais explicativos no Parque Mãe Bonifácia, na abertura da campanha deste ano, finalizando com o seminário sobre adoção, no Fórum de Cuiabá. Além da psicóloga Lídia Weber, a juíza Cleuci Terezinha Chagas, da Primeira Vara Especializada da Infância e Adolescência de Cuiabá, ministrou palestra sobre os aspectos técnicos da adoção. Todas as ações visam eliminar mitos sobre a adoção e estimular o ato, já que existem cerca de 80 mil crianças e adolescentes em abrigos, sendo oito mil prontas para adoção em todo o país. Em Mato Grosso são 480 em instituições e destas 45 aguardam um novo lar.

Fonte: " O Documento"

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