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sábado, 30 de janeiro de 2010
Como serão as mães do futuro
Ao contrário do que sugere nossa imaginação acerca do futuro, o "bebê tecnológico" chegará ao mundo em um ambiente simples e familiar. A tendência é que eles continuem a nascer em quartos de hospitais, mas esses locais deverão cada vez mais se parecer com o lar dos pais do recém-chegado. "Alguns grandes hospitais colocaram isso em prática, com o 'parto humanizado': quartos específicos para o parto natural, com banheira de hidromassagem. É uma tentativa de transformar o ambiente hospitalar em local mais hospitaleiro para a grávida", afirma Alexandre Pupo Nogueira, ginecologista e obstetra do Hospital Sírio Libanês, de São Paulo. A família tem fácil acesso ao quarto, e o equipamento de anestesia fica propositalmente escondido atrás de móveis.
A tendência mistura componentes contraditórios. "Se, por um lado, avançam os limites da medicina, por outro lado, queremos que ela seja mais natural, sem intervenções e medicamentos", diz Nogueira. Isso poderá desaguar inclusive em uma mudança no momento do parto propiamente. Atualmente, segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), mais de 80% dos nascimentos na rede privada brasileira são realizados por cirurgia cesariana. "Com a evolução da anestesia, analgesia e exame pré-natal, não haverá o estigma da dor, e a mulher se sentirá mais segura para optar pelo parto normal", afirma Eduardo Zlotinik, ginecologista e obstetra do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo.
Há, porém, um obstáculo a esse movimento: a idade das gestantes - cada vez mais avançada. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de mulheres que engravidaram pela primeira vez depois dos 40 anos cresceu 27% na última década. As razões já são conhecidas: "A mulher está empurrando a gravidez para os limites do seu relógio biológico. A maternidade é colocada em segunda instância em relação à carreira", analisa Nogueira. "Na década de 1990, considerávamos uma mulher de 31 anos uma gestante em idade avançada. Hoje, são as de 35. Em breve, isso vai mudar de novo", prevê o ginecologista.
A idade, é sabido, é uma inimiga da gravidez. Acrescenta dificuldades à fecundação e, quando ela acontece, provoca a gestação de risco e problemas metabólicos - complicações para o bebê e para o parto. "A mulher, então, passa a ter pressão alta, chances de desenvolver pré-eclampsia, diabetes pré-gestacional, e o risco de má-formação também é maior", diz Nogueira. Zlotinik traz ainda outra complicação, que pode agir contra o retorno ao parto natural: gestantes mais velhas tendem a ser mais gordas, o que influencia o tamanho do bebê e pode forçar uma cesariana.
O desenvolvimento médico e científico deverá também incentivar cada vez mais a realização de uma consulta "pré-concepcional". "Para a realização de exames clínicos, estabelecimento do peso adequado, indicação de atividades físicas e consumo de ácido fólico, para ajudar na formação da parte neurológica da criança", diz Zlotinik. A medicina deverá ainda incrementar as cirurgias fetais, prevenindo problemas futuros.
A idade avança, as chances de gravidez despencam e a procura pela reprodução assistida aumenta. Nos cálculos de Emerson Cordts, especialista em reprodução humana do Hospital e Maternidade São Luiz, de São Paulo, aos 40 anos, uma mulher mantém 8% de sua capacidade reprodutiva; aos 43, só 1%. Daí, a procura pela reprodução assistida. Pesquisa realizada Universidade de Oxford junto a 1.563 clínicas de 53 países, o número de bebês que nasceram a partir de técnicas de reprodução cresceu 25%em dois anos.
A grande promessa para as mulheres que gostariam de engravidar mais tarde é o congelamento de óvulos. A técnica permite que elas preservem as células em bancos de óvulos por até vinte anos para posterior implantação. "Antes, o procedimento era muito precário, mas avançou muito nos últimos dois anos", afirma Cordts. O recurso também é uma alternativa para vítimas de câncer, que precisam se submeter à quimioterapia e, por isso, param de produzir óvulos.
Outra técnica em estudo - aplicada em casos de exceção, mas que poderá revolucionar a reprodução assistida - é a maturação in vitro do óvulo, pela qual a célula feminina é desenvolvida fora do organismo. "Se isso progredir, seria um avanço. A mulher não precisaria ser submetida a medicação hormonal para engravidar", comenta o especialista.
Veja.com
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