sábado, 30 de janeiro de 2010

Vizinhos de embaixada em Honduras querem indenização do Brasil



A normalidade começa a voltar ao poucos à vizinhança da embaixada brasileira em Tegucigalpa, onde o ex-presidente de Honduras, Manuel Zelaya, ficou abrigado por mais de quatro meses antes de deixar o país, na última quarta-feira.
Após a saída de Zelaya, as barreiras usadas pelos militares para impedir o acesso aos quarteirões próximos à embaixada foram retiradas e os holofotes utilizados pelas forças hondurenhas para jogar luz sobre o prédio foram desinstalados.
Com o acesso às ruas liberado, os vizinhos começam agora a contabilizar os prejuízos causados pelos quatro meses de cerco, e alguns, inclusive, esperam ganhar algum tipo de indenização por parte do Brasil ou do governo hondurenho.
Muitos dos pontos comerciais, escritórios e consultórios médicos nas imediações viram seu movimento cair de maneira drástica depois que Zelaya se abrigou no prédio da representação diplomática, e alguns tiveram que fechar suas portas.
Grande parte dos clientes se afastou devido à exigência de autorização para entrar na área isolada.

Indenização
O consultório da dentista Jacqueline Rittenhouse, por exemplo, viu seu movimento cair cerca de 70% desde o cerco, enquanto o aluguel e as contas de água e luz continuavam chegando.
“Desde que Mel (Manuel) Zelaya chegou à embaixada do Brasil, a clientela caiu cerca de 70%, porque os clientes tinham medo, não por causa dos militares, mas por causa da resistência, porque não podiam deixar os carros aqui perto, havia tumultos violentos”, diz a dentista, cujo consultório ficava ao lado de uma das barreiras montadas pelos militares.
Rittenhouse conta que estava esperando a data da posse do novo presidente hondurenho, Porfirio Lobo, na última quarta-feira, para decidir o futuro de seu consultório. Caso Zelaya não deixasse a embaixada brasileira, ela se mudaria para outro local.
A dentista agora espera receber algum tipo de ressarcimento pelos prejuízos causados pelo cerco.
“Nos afetou muito economicamente, esperamos que talvez, por meio do governo, poderemos entrar com uma ação legal, para conseguir uma indenização por todos os danos que tivemos, mas até agora não foi feito nada”, diz a dentista.
“Os militares fizeram uma pesquisa para saber quais foram os danos que tivemos, para entrar com uma ação legal contra a embaixada do Brasil, por ter abrigado esta pessoa (Zelaya)”.

Brasil
Ainda de acordo com Rittenhouse, a embaixada brasileira não é mais bem-vinda na vizinhança.
“Agora, nós não queremos mais a embaixada do Brasil aqui perto, porque não queremos que tenha outro asilado lá, nos afetou muito”, diz.
Outra que não guarda boas recordações do período de cerco é Sulma Reyes, dona de um salão de cabeleireiros que ficava próximo a uma das barreiras e cujo movimento diminuiu em cerca de 50%.
Ela conta que teve que dispensar algumas funcionárias devido aos prejuízos causados pelo cerco e confirma que os vizinhos buscam uma indenização, seja “da embaixada (brasileira), das Forças Armadas ou do governo”.
“Se eu pudesse, tiraria (a embaixada do Brasil da vizinhança). Nós não somos um país de esquerda, e o Brasil é de esquerda, desde o momento em que o apoiou (Zelaya)”, disse.
“Eles nos prejudicaram bastante, não só ele (Zelaya), mas o Brasil também.”


Caio Quero


BBC Brasil

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