quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Crianças à deriva no país arrasado


Encostadas em uma parede no complexo do Hospital Geral, em Porto Príncipe, as crianças sem nome permaneciam mudas na terça-feira. Eram apenas três entre os milhares de menores que ficaram "à deriva" após o devastador terremoto do dia 12 no Haiti.
- Oi, Joe, como está? - perguntou o médico americano, dirigindo-se a uma ds crianças, um menino de 11 anos, usando o nome dado a ele por uma assistente social, já que ninguém sabe como o garoto realmente se chama.
Não houve resposta da criança.
"Joe", "Baby Sebastian" e uma menina que sequer tem um nome "emprestado" não falaram nem choraram desde o dia em que chegaram ao hospital, 48 horas antes, levados por vizinhos de Porto Príncipe. Baby sebastian tem somente uma semana de vida e foi resgatado dos braços de sua mãe morta.
Apesar de tudo, essas crianças têm alguma sorte em comparação com outras. A médica haitiana Winston Prince e sua equipe estão cuidando dos três - já outras centenas de milhares de crianças e adolescentes, com fome e sede, perambulam pelos acampamentos improvisados de sobreviventes em Porto Príncipe, frequentemente sem ninguém pra cuidar delas.
- Há aproximadamente 1 milhão de crianças órfãs ou sem companhia, ou de menores que perderam um de seus pais. São extremamente vulneráveis - diz Kate Conradt, porta-voz da organização humanitária Save the Children.
Para tentar atenuar o drama, o Fundo das Nações Unidas para a Infância ( Unicef ) montou um campo de desabrigados especial para crianças que, por algum motivo, se separaram de suas famílias após o terremoto e correm risco de sequestro por traficantes de pessoas ou outros criminosos. A Save the Children instalou espaços especiais npara menores em 13 acampamentos improvisados. A Cruz Vermelha e outras entidades, por sua vez, tentam reunir as famílias separadas.
Apesar dos esforços, é evidente nas ruas da capital haitiana que as crianças superam em muito a capacidade de ajuda humanitária das Organizações Não Governamentais (ONGs). Algumas foram liberadas dos hospitais sem que nenhum responsável fosse consultado ou avisado, porquen simplesmente não há leitos suficientes - e era necessário abrir espaço.

Vivia Sequera e Ben Fox - AP/Porto Príncipe


Zero Hora

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