quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

MP investiga morte durante lipo

Exame cadavérico aponta que jornalista de 27 anos sofreu hemorragia grave na cirurgia, feita por médico credenciado à Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Órgãos ligados à Medicina e Vigilância Sanitária também apuram o caso

Rio - O Ministério Público (MP) e a Polícia Civil do Distrito Federal (DF) estão investigando as causas da morte da jornalista Lanusse Martins Barbosa, 27 anos. Ela morreu na tarde de segunda-feira durante cirurgia de lipoaspiração em Brasília. Segundo o promotor Diaulas Costa Ribeiro, da Promotoria de Defesa dos Usuários dos Serviços de Saúde (Pró-Vida), ela teve uma hemorragia. “Houve secção de vasos importantes do corpo. Não é causa natural, mas consequências do procedimento cirúrgico”, disse o promotor. Segundo ele, a perfuração de vasos teria sido pelas incisões feitas no corpo da jovem para retirada de gordura. Ele apura se houve erro médico.
A jornalista morreu no Centro Clínico Pacini. Ontem no hospital — especializado em oftalmologia, mas que alugava o espaço para médicos de outras especialidades — ninguém se pronunciou sobre o assunto. O promotor pediu à polícia que convocasse a equipe médica para depor hoje. O Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e a Divisão de Vigilância Sanitária também investigam.
O corpo da jornalista foi enterrado ontem. “A minha sobrinha era muito linda. Só queria ficar mais bonita do que já era”, contou Vera Lúcia Barbosa, tia de Lanusse. Segundo ela, a jovem tratou da cirurgia sozinha, mas com apoio da família. “A minha sobrinha era amável, adorada por todos, aparecia sempre na televisão. Era sua primeira cirurgia”, disse a tia. Segundo ela, os parentes não pensam em recorrer à Justiça. “Vamos deixar com a polícia”, afirmou Vera Lúcia. Lanusse, que tinha um filho de 6 anos, trabalhava na TV Justiça.
O presidente da SBCP, Sebastião Guerra, disse que ficou chocado com o caso. Segundo ele, o médico Haeckel Cabral, responsável pela cirurgia, é membro da sociedade e tem experiência.

APARÊNCIA DE MAIS MAGRA
“A paciente fez a escolha correta em relação ao profissional, era jovem, estava bem de saúde e preenchia os requisitos necessários para se submeter a uma lipoaspiração”, disse o médico.
Thais Victer estudou Jornalismo por quatro anos com Lanusse na faculdade Uniceub,em Brasília. Ela não encontrava a amiga tinha três meses, mas mas soube que o motivo da cirurgia era uma gordura localizada na região do quadril. “Ela era muito bonita. Sempre teve muito cuidado com o corpo, e como trabalhou na TV, queria ficar com aparência de mais magra”, disse Thais.
Mais de 10 mortes foram registradas por conta de cirurgias de lipoaspiração no País desde 2002. Há causas como parada respiratória e cardíaca em consequência da anestesia e outras decorrências, como insuficiência renal. No dia 8, a técnica em radiologia Carla Fares, 33, morreu após uma hidrolipo (tipo de lipoaspiração) em Duque de Caxias (RJ). Carla teve parada cardiorrespiratória e entrou em coma.

Risco até para quem toma os cuidados
O chefe do setor de Cirurgia Plástica do Hospital Carlos Tortelly, Antônio Américo Gonçalves, explica que, mesmo com todos os cuidados, o paciente corre riscos durante os procedimentos.
“Se o paciente fica nervoso e a pressão arterial aumenta, pode ocorrer hemorragia. Caso a pressão fique muito baixa, pode ter choque. Há o riscos de perfuração intestinal se tiver alguma hérnia não identificada e pode ocorrer embolia, que é uma fatalidade”, esclarece.
Segundo Américo, antes de passar pelo procedimento, o paciente deve se submeter a exames de sangue, urina, raio-x de tórax e avaliação cardíaca. Pode ser solicitada ultrassonografia.
“A lipoaspiração não emagrece, só modela. Não adianta uma pessoa com 20 quilos acima do peso se submeter ao procedimento. A intervenção é contra indicada em casos de grandes retiradas de gordura”, explica.


Ricardo Villa Verde

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