Às 14h de uma terça-feira, dia útil, o engenheiro Antonio Celso de Franco estava na delegacia do homicídios do Rio de Janeiro para fazer a pergunta de sempre: "Cadê Patrícia?". Desde que sua filha, a engenheira de produção Patrícia Franco, então com 24 anos desapareceu após deixar uma casa noturna, Antonio tem feito uma maratona atrás de autoridades em busca de sua resposta. A principal suspeita é de que ela tenha sido assassinada por policiais militares ao se recusar a parar numa blitz. Antonio já organizou três passeatas, esteve com dois ministros, com o governador do Rio, com o secretário de Segurança do Estado e está mobilizando artistas para que apareçam no site http://www.cadepatricia.com.br/. No domingo, Antonio liderou uma marcha até a casa de José Mariano Beltrame, o secretário de Segurança do Rio. Antonio deu a seguinte entrevista a ÉPOCA.
ÉPOCA - O que o senhor acha que aconteceu com sua filha?
Antonio Celso de Franco - Temos informações que estão no inquérito que mostram que ela furou uma falsa blitz de policiais (blitz não autorizada pelo comando) quando passou por São Conrado. Eles avisaram aos PMs que estavam na Barra e quando ela chegou lá os policiais atiraram no carro.
ÉPOCA - Qual a versão dos policiais?
Franco - Eles disseram que estavam parados e que o carro dela passou desgovernado e caiu no rio. O corpo não apareceu. A primeira perícia feita não encontrou sequer os três tiros no carro. Meu filho é que foi na delegacia e mostrou as marcas da bala. Colocaram uma pedra dentro do carro para ele afundar, quebraram o vidro para sumir com uma marca de tiro. Quando falei com a perita que ela devia preservar a área e tirar digitais, ela só disse o seguinte: "ela já morreu mesmo, isso foi acidente, caiu no rio".
ÉPOCA - Um ano depois, o caso ainda não foi esclarecido. Por que tanta demora?
Franco - No início não havia vontade de investigar. Para você ter uma ideia, a perícia mandava os laudos pelo Correio para a polícia. Os laudos demoravam meses e eram todos inconclusivos.
ÉPOCA - O fato de policiais serem suspeitos dificulta a apuração?
Franco - A PM dificultou muito as investigações. A polícia civil pediu a movimentação dos carros de polícia pelo GPS, eles não mandaram de todos. A transcrição dos rádios também não veio completa. Não sei qual é o interesse em esconder a verdade.
ÉPOCA - O senhor não tem medo de denunciar os policiais?
Franco - Medo por que? O que de pior pode me acontecer? Perdi uma filha que estava no auge de sua felicidade. Ela tinha acabado de ser contratada no emprego, comprado seu primeiro carro. Era uma menina cheia de planos, queria morar nos Estados Unidos se casar com o namorado. O pior já aconteceu comigo. Não tenho medo de mais nada.
ÉPOCA - Por que vocês foram até a casa do secretário, se ele já tinha recebido o senhor duas vezes?
Franco - Fomos convidá-lo a participar da passeata, mas ele não estava.
ÉPOCA - O senhor consegue dormir?
Franco - Durmo, mas acordo toda noite assustado, como se estivesse num pesadelo. Minha mulher dorme só uma hora por dia e acorda chorando há um ano.
ÉPOCA - E sonha?
Franco - Sonho muito com a Patrícia. Nos meus sonhos ela volta para casa e diz que estava bem, só tinha esquecido de voltar.
ÉPOCA
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